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O edital Nas Trilhas de Cairo permitiu que a organização que trabalha pelo acesso das mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva levasse seus 30 anos de história e ativismo para o meio digital

Por Anaís Cordeiro

A Rede Feminista de Saúde foi uma das organizações contempladas no segundo edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA),  voltado para o fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil. A Rede Feminista de Saúde foi contemplada na primeira edição do edital, com um projeto dedicado ao fortalecimento da atuação da Rede nas mídias sociais. E na segunda edição, o objetivo era garantir o fortalecimento  do Grupo de Trabalho formado para gerir a comunicação da organização. 

Atuante há 30 anos, a Rede Feminista de Saúde é uma das organizações brasileiras pioneiras no ativismo pelo acesso das mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva, planejamento familiar, equidade de gênero, discussão do aborto seguro e legal, atendimento para mulheres vivendo com HIV, e outras pautas. A participação no edital permitiu que a organização levasse esses 30 anos de história e ativismo para o meio digital. 

A secretária executiva da Rede, Ligia Cardieri, explica que com o isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, as trocas entre as integrantes da Rede passaram a ser diárias através de aplicativos de mensagens instantâneas. Essa interação contínua, somada às demandas que eram trazidas pelo contexto social brasileiro, provocou a necessidade de uma representação maior da organização no ambiente virtual e nas redes sociais. 

A partir da estruturação de um Grupo de Trabalho de Comunicação, formado atualmente por 10 voluntárias, a organização digitalizou o seu acervo e o disponibilizou no site da instituição, fortaleceu a atuação nas redes sociais, liderando inclusive campanhas que tiveram grande repercussão como a mobilização contra a gravidez de meninas: Criança não é Mãe. "Agora a gente pode dizer: 'Olha o site que a gente tem porque ele mostra muito da nossa trajetória'.", celebra Ligia. 

Dentre as atividades promovidas neste período em que a Rede foi contemplada pelo edital do UNFPA, a organização produziu materiais informativos em formato de podcast, cartilhas, peças de campanha para redes sociais, promoveu e divulgou estudos que servem como referência para a academia e outras organizações de mulheres e de defesa aos direitos humanos.

Com a retomada também de ações presenciais, as voluntárias da Rede organizaram intervenções urbanas como lambe-lambe, e também estiveram presentes no ato Ocupa Congresso pela vida das mulheres e meninas, que objetivou reivindicar no Congresso Nacional, acesso a políticas públicas de saúde para meninas e mulheres, e demandou ações de proteção aos direitos reprodutivos e às organizações que os defendem. Elas agora se preparam para comemorar os 30 anos da Rede com um encontro presencial em Santa Catarina. 

Leina Peres, coordenadora da regional Rio Grande do Sul, e uma das articuladoras do GT de Comunicação, conta que o apoio do UNFPA através do edital Nas Trilhas de Cairo permitiu não só que as atividades da organização não deixassem de acontecer durante a pandemia, mas que a Rede alcançasse outros espaços e estabelecesse novas parcerias: "Ampliamos a nossa incidência não só na comunicação, mas nas ações”, celebra Leina. 

Com a visibilidade ampliada, a Rede Feminista de Saúde expandiu a relação com outras comunicadoras feministas, e surgiram também convites para seminários e entrevistas. Para Ligia Cardieri, a renovação no perfil das voluntárias, e a agilidade trazida por essa renovação, foi um importante agregador no perfil sólido da organização de dedicação à pesquisa. 

"A Rede Feminista tem um perfil muito característico de ter profissionais de saúde que atuam com estudos de saúde, e indicadores de saúde numa linguagem entre o ativismo e a linguagem técnica. Eu sinto que houve uma renovação no perfil da rede. É importante que elas se apropriem das coisas boas que já temos acumuladas e botem isso na linguagem que os tempos mais novos precisam", defende Ligia.