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“Se não persistirmos, corremos o risco de perder direitos já conquistados”, diz coordenadora da Rede Feminista de Saúde

“Se não persistirmos, corremos o risco de perder direitos já conquistados”, diz coordenadora da Rede Feminista de Saúde

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“Se não persistirmos, corremos o risco de perder direitos já conquistados”, diz coordenadora da Rede Feminista de Saúde

calendar_today 31 Mai 2021

Delegação oficial do Brasil na I Conferência Regional de População e Desenvolvimento da América Latina e Caribe, em agosto de 2013, no Uruguai, contou com a participação de integrantes da Rede Feminista de Saúde

A socióloga Lígia Cardieri tem 74 anos e um longo histórico no movimento feminista. Coordenadora-executiva da Rede Feminista de Saúde, grupo que integra desde 1994, ela participou de vários movimentos políticos em defesa dos direitos da mulher, em especial do direito à saúde integral; viu serem construídas políticas públicas importantes e conheceu grandes lideranças. Hoje, ela vê renascer a luta, caminhando ao lado da juventude, que chega com ares de renovação e uma linguagem completamente diferente. A Rede Feminista de Saúde é uma das organizações contempladas pelo primeiro edital Nas Trilhas de Cairo, uma iniciativa do Fundo de População da ONU para fornecer apoio estrutural a organizações da sociedade civil. O projeto inscrito pela instituição busca fortalecer a atuação e aperfeiçoar o uso de ferramentas nas mídias digitais. Uma adaptação aos novos tempos. “Eu não tinha ideia do que era podcast e card, sou do tempo do mimeógrafo”, brinca Lígia.

A Rede Feminista de Saúde surgiu em 1991, como uma das organizações pioneiras em defesa da saúde da mulher, na esteira dos movimentos sociais pelo fim da Ditadura Militar no Brasil. “Naquele tempo falava-se muito em movimento de mulheres, mas a Rede foi uma das primeiras organizações a se orgulhar em dizer que era feminista”, explica Lígia. Com foco especial na saúde, a organização defendia o acesso das mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva, que envolvessem também o planejamento familiar, a equidade de gênero, a discussão do aborto seguro e legal, o atendimento para mulheres vivendo com HIV, entre outros. 

Enquanto ativista, Lígia se lembra bem da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, que ocorreu no Cairo, em 1994, e foi um marco global para os direitos reprodutivos, impactando na luta das mulheres por acesso a direitos como o planejamento familiar, o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e contraceptivos. “Antes disso, as políticas de saúde para mulheres eram uma política da mulher como mãe. Só se falava de saúde da mulher no aspecto da gravidez e maternidade”, relembra. 

A socióloga Lígia Cardieri é coordenadora-executiva da Rede

Muitos anos depois, com as jovens que agora integram a organização, Lígia vê um movimento de reforço com algumas diferenças fundamentais. “As jovens chegam com outra cabeça, muita coisa elas já conquistaram. Muitas nem querem falar sobre a importância da saúde materna, porque a maioria nem pensa nisso”, observa. O fluxo entre o ontem e o hoje, conforme explica a coordenadora, tem feito a Rede Feminista de Saúde um espaço de troca e liberdade. “Nós contamos para elas sobre tudo o que já fizemos. Muita coisa bonita e ousada foi feita. Está sendo muito boa essa troca, essa democracia de relacionamento. Elas são informais, descoladas, muito rápidas, e nós temos a memória das coisas antigas”, conta. 

Para Lígia, o edital Nas Trilhas do Cairo representa um apoio fundamental, em um momento em que o suporte financeiro a organizações da sociedade civil tem minguado e a defesa dos direitos das mulheres tem sido ameaçada, segundo ela. Como as outras organizações contempladas, a Rede recebeu R$ 56 mil para fortalecer sua ação estratégica e de advocacy. “É como se tivessem aberto uma janela para nós”, celebra a coordenadora.

Essa janela, ela conta, por enquanto tem apresentado horizontes difíceis. A pandemia da Covid-19, especialmente, impactou as atividades, a mobilização e o acesso a direitos. Ainda assim, Lígia tem esperança no futuro. “São anos difíceis, essas jovens que estão chegando na organização estão enfrentando luto e morte. Mas eu digo para elas: não desanimem, porque as coisas passam. Eu passei pela Ditadura de uma maneira muito pesada, perdi amigos, fui presa. Eu gostaria de ver resultados da luta pelos direitos das mulheres antes de morrer. Não sei se vou conseguir. Mas elas têm a vida inteira pela frente, muita energia”, conta. “Se a gente não persistir agora, corremos o risco de perder direitos já conquistados”, conclui.