Declaração da diretora executiva do UNFPA, Dra. Natalia Kanem, por ocasião do Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres
A violência no mundo online é real. Também é errada e precisa ser impedida.
Pode parecer que o mundo online é seguro para mulheres e meninas. O que poderia acontecer, em casa, na escola ou em um escritório, enquanto estão apenas sentadas na frente de um computador? Muita coisa, na verdade. A violência digital cresce em ritmo acelerado e é devastadora. É implacável, não tem fronteiras e, com frequência, é anônima. Segundo estudos, 85% das mulheres que têm presença online sofreram ou testemunharam violência digital. Sobreviventes podem sofrer com o medo, depressão e pensamentos suicidas, assim como outras formas de violência.
A violência digital assume diversas formas. Os agressores podem ameaçar e perseguir mulheres online. Eles podem, sem permissão, realizar montagens do rosto de mulheres e meninas em corpos sexualizados e compartilhá-las amplamente, durante anos, por meio das redes sociais. Campanhas online com discursos de ódio e abusos têm como alvo mulheres em papéis públicos, como políticas e jornalistas, assim como ativistas dos direitos humanos.
Embora saibamos que muita violência digital tem ocorrido, ainda não sabemos o suficiente a respeito. Para impedi-la de acontecer, precisamos categorizá-la e medi-la. Precisamos entender melhor quais são as formas que assume, quais são os impactos e como enfrentar e responder a ela.
Onde quer que a violência contra mulheres e meninas aconteça, é uma violação dos direitos humanos. Todos os anos, no dia 25 de novembro, o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres e Meninas, e por meio da campanha “Una-se”, do secretário-geral das Nações Unidas, o UNFPA se posiciona contra todas as formas de violência. Neste ano, estamos fazendo uma convocação para que todas as pessoas, em todos os lugares, trabalhem para impedir a violência em âmbito digital.
Em um mundo cada vez mais digital, há muitos riscos se não fizermos isso. Além das óbvias ameaças à saúde mental e integridade física, a violência digital está levando mulheres a ficarem offline porque não conseguem escapar de outra forma. Quando meninas interrompem sua educação, ou quando parlamentares eleitas não conseguem cumprir com seus deveres por conta dos ataques online, elas estão sofrendo violações de seus direitos. Todas e todos perdemos seus potenciais e liderança em nossas sociedades.
Por essas razões, o UNFPA está conclamando governos e empresas de tecnologia a travarem uma batalha contra a violência digital. Estamos convocando legisladores, jornalistas, a sociedade civil e aqueles com influência para se pronunciarem para tomarem medidas de ação. Um exemplo simples e ainda assim devastador é que mulheres ao redor do mundo contam com menos formas de se protegerem online do que a propriedade intelectual, que é resguardada por uma série de direitos autorais. Violar direitos autorais pode levar à imediata remoção dos materiais e punições criminais e civis. Mulheres e meninas que sofrem com o compartilhamento não-consensual de suas imagens deveriam ter acesso a medidas ainda mais rígidas de proteção.
A violência digital atravessa fronteiras e sistemas regulatórios. Impedi-la requer um novo jeito de pensar e novas formas de colaboração entre reguladores, empresas de tecnologia, ativistas digitais e pelos direitos das mulheres. Um foco especial precisa ser dado à juventude que, por ter um maior acesso à tecnologia, está sob maior risco. Jovens precisam de informação e meios de se protegerem, especialmente as meninas.
Todos os dias, mais pessoas, serviços e atividades estão se mobilizando online. Isso significa que mais mulheres e meninas estão sofrendo violência. Precisamos reconhecer o tamanho dessa crise e não adiar por mais nem um dia a ação. O direito de viver livre de violência se aplica a todos os lugares e situações e não desaparece com uma conexão de internet. O virtual é real, e precisa ser seguro.
Esse texto é uma tradução. O original pode ser lido em https://www.unfpa.org/press/statement-unfpa-executive-director-dr-natal…