A primeira oficina do projeto Promotoras Legais Populares ocorreu no Espaço Insikiran em Boa Vista, Roraima, no último sábado, 8, e contou com a participação de 39 mulheres: 17 brasileiras, líderes ou membros de organizações da sociedade civil, e 22 mulheres venezuelanas migrantes e refugiadas, que ocupam posições de liderança dentro dos abrigos da Operação Acolhida. A iniciativa, que capacitará essas mulheres até setembro com conceitos, leis e políticas públicas relacionadas à violência de gênero, é uma iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) e o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
A ideia geral do curso é informar sobre os aspectos legais, mas também promover o empoderamento, a resiliência comunitária e facilitar a interação e os laços de sororidade entre as participantes, sejam migrantes ou não migrantes. Durante o primeiro dia de oficinas, foram abordados temas como as raízes da violência de gênero, a cultura e estrutura de poder que levam a ela e os tipos de violência (física, sexual, psicológica e patrimonial). A próxima atividade, marcada para 15 de junho, se concentrará nos estudos do a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. A leitura de uma cartilha produzida pelo UNFPA, “Entenda a Lei Maria da Penha”, foi recomendada às participantes.
"A oficina responde a dois dos objetivos principais do UNFPA no âmbito da assistência humanitária em Roraima: promover a integração entre mulheres locais e migrantes que ocupam posições de liderança e uni-las em torno de um mesmo propósito, que é o de aprender e lutar contra a violência baseada em gênero, atuando como promotoras de conhecimento nas suas respectivas comunidades. Juntas, as participantes identificaram as causas e consequências da violência contra as mulheres e chegaram à conclusão de que as raízes e frutos da violência no Brasil e na Venezuela são muito semelhantes”, avalia a especialista em Mobilização de Campo do UNFPA em Roraima, Débora Rodrigues.
A responsável do Numur pelas oficinas, Andrea Vasconcelos, afirma que o objetivo primordial é ajudar as mulheres selecionadas para participar do curso a espalharem a mensagem -- motivo pelo qual foram escolhidas aquelas com posição de liderança na comunidade. “Consideramos esse espaço fundamental para criar e fortalecer laços de confiança, empatia e sororidade entre as mulheres, que partilham histórias comuns de violência e, como multiplicadoras, precisam ressignificar esses sofrimentos e assim ajudar outras mulheres a enfrentarem e saírem de uma situação de violência”, explica.
Conscientização e ativismo
Uma das participantes foi a venezualana Doryt Starlin Cumedes, de 31 anos, que é mãe de um menino autista de 10 anos e, em seu país, era ativista pelos direitos das pessoas com esta condição. Ela é criadora da Associação Mundo TEA (Transtorno do Espectro Autista), que atua principalmente nas redes sociais, de forma a orientar outras famílias com crianças autistas, e também lutou pela aprovação de uma lei de atenção e proteção especial.
Doryt agora aguarda uma oportunidade de interiorização, promovida no âmbito da Operação Acolhida pelo governo federal e as Forças Armadas, de forma a conseguir uma oportunidade em outro estado do Brasil. Ela acredita que o curso de capacitação do Promotoras Legais Populares fortalece sua posição de ativismo e de liderança dentro da comunidade. “Se não podemos sensibilizar os outros, não podemos conscientizá-los. E eu quero fazer outras coisas, quero fazer mais. Toda vez em que passo pelos semáforos e vejo um venezuelano em situação de rua, choro. Agradeço essa oportunidade porque, qualquer coisa que fará nutrir e me ajudar essa parte de sensibilizar as pessoas, é muito importante. Se antes eu tinha vontade de ajudar as pessoas, hoje tenho mais”, garante.