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Programa voltado para juventudes criado há 20 anos foi interrompido em 2017 e retornou repaginado com apoio de edital Nas Trilhas de Cairo

Por Anaís Cordeiro

Impulsionar e guiar o desenvolvimento de jovens para que elas assumam o papel de protagonistas de transformações sociais. Esse é o objetivo do programa de Jovens Multiplicadoras de Cidadania (JMCs), uma formação jurídica-feminista criada em 2003 pela pela organização Themis, de Porto Alegre. A iniciativa recebeu o apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) através do segundo edital Nas Trilhas de Cairo, voltado para o fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil.

A Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos completa em 2023, 30 anos de fundação. A organização atua em várias frentes, com projetos voltados à ampliação do acesso à justiça. Com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Themis foi fundada por um grupo de advogadas e cientistas sociais feministas com o propósito de enfrentar a discriminação contra mulheres no sistema justiciário brasileiro. 

No edital Nas Trilhas de Cairo, a aposta da organização foi investir na formação de jovens como uma forma de fortalecimento institucional. Assim, a Themis promoveu a sexta edição do seu "Curso de Jovens Multiplicadoras de Cidadania", destinado a jovens moradoras da periferia de Porto Alegre, com idade entre 15 e 20 anos. A última edição da formação havia ocorrido em 2017. 

De acordo com Márcia Soares, diretora executiva da Themis, o edital possibilitou a reestruturação do curso, adequando o conteúdo e a metodologia para as necessidades e desafios atuais das juventudes. Ela explica que o projeto apoiado pelo UNFPA foi desenvolvido visando a atualização das metodologias utilizadas pela organização, e servirá como base pedagógica para as próximas edições do projeto. 

"Um dos planos futuros é reestruturar definitivamente a área de juventudes. Estabelecer uma área de juventude, com uma coordenação específica. E em segundo, sistematizar e publicar metodologias. Essa construção metodológica e pedagógica vai ser sistematizada e ela permanece para os outros cursos. Pudemos atualizar a metodologia à luz desse novo cenário", conta Márcia. Ela também destacou o papel dessa experiência para a compreensão dos reflexos da pandemia de Covid-19 na vida das participantes. 

Ela relata que, ao contrário do esperado, a juventude teve mais dificuldades para acessar os espaços virtuais do que o público adulto que elas atendem em outros projetos. "O edital vem no sentido de entender o que aconteceu com essa juventude durante a pandemia e organizá-las através de uma metodologia que já se estabelece de forma híbrida, tentando aproveitar o componente virtual e presencial. Foi muito importante se dar conta do que foi o impacto da educação não presencial na vida dessas meninas. Foi um impacto de recolhimento na vida dessa juventude", afirma. 

Partindo para a ação 

A formação abordou temas como interseccionalidade, direitos sexuais e reprodutivos, Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), Estatuto da Juventude, constituição das estruturas do Estado, dos poderes e das legislações que orientam a vida no país e outros temas. O objetivo era capacitar e  impulsionar o protagonismo das jovens mulheres, ampliando também suas capacidade de diálogo intergeracional e intervenção social.

Coordenadora pedagógica do curso e integrante da primeira turma do JMCs em 2003, Ceniriani Vargas da Silva destaca que durante o processo de formação o aprendizado foi mútuo entre as jovens e a coordenação. Para ela, o estabelecimento de um espaço de escuta para ouvir as demandas, desafios e sonhos das participantes, foi o ponto chave para criar uma conexão entre todas as envolvidas no projeto, e fortalecer o sentimento de coletividade. 

"Conseguimos construir um espaço acolhedor. Sentimos a importância de termos um espaço para que jovens mulheres possam se ouvir, trocar experiências, se abraçar, chorar junto e se fortalecer enquanto indivíduos, e principalmente como um coletivo com capacidade de intervenção política e na sua própria realidade", contou ela. 

A conclusão do curso aconteceu em agosto de 2022, com a formatura de 27 jovens multiplicadoras de cidadania, mas a expectativa é de avançar mais. Fortalecidas através da renovação da organização e dos diálogos intergeracionais, a Themis e as jovens multiplicadoras de cidadania recém formadas e de turmas anteriores estão mobilizadas desenvolvendo um plano de incidência e comunicação. 

"Profissionais da área da comunicação estão trabalhando na construção desse plano de forma participativa com as jovens. A ideia é construir um plano de incidência e comunicação sobre direitos sexuais e reprodutivos, onde a gente vai aprofundar o tema e pensar em estratégias de comunicação para consolidar uma narrativa entre as jovens para disputar as narrativas dentro dessa temáticas", explica Ceniriani.