As pesquisadoras Regina Maria Barbosa e Daniela Knauth adiantaram, em entrevista ao UNFPA, as análises e resultados das pesquisas realizados em São Paulo e Porto Alegre
Maria era casada quando engravidou de forma não planejada. Como já tinham se passado dois anos de matrimônio e a jovem professora, com 20 anos na época, queria ser mãe, ficou feliz com a notícia. Afinal, era o bebê que o casal tanto sonhava. Poderia ser menino ou menina. O amor e cuidado seriam garantidos! Porém, no mesmo período em que receberam a notícia da gravidez, os dois descobriram também algo mais. Ambos estavam infectados pelo HIV.Ainda sem conhecimento de que era possível ter o seu bebê mesmo sendo portadora do vírus - sem transmiti-lo para a criança - Maria procurou ajuda nos serviços de saúde do seu município, no interior da Bahia. “Pensei em não ir adiante por conta da condição sorológica, porque tive muito medo de não estar aqui para criar minha filha. A gente não tinha nada de informação. Não sabia como, ou se seria possível”. Sem sucesso, a jovem e o marido optaram por ir à cidade vizinha, Vitória da Conquista, onde tiveram acesso a serviços especializados, fizeram exames e foram orientados a tomar medicamentos.
O medo de serem hostilizados na cidade natal também foi um dos fatores que os motivaram a procurar auxílio médico em outro local. “Faltavam médicos e estrutura. Mas o desejo de ter outro ser dentro de mim me motivou a lutar e procurar atendimento, mesmo sem ajuda financeira”, disse a professora, que no oitavo mês de gestação perdeu o marido, vítima de toxoplasmose.
Casos como o de Maria, que felizmente vive hoje com a filha de oito anos, que nasceu sem o vírus, são situações comuns e diárias. A partir da necessidade e importância de discutir o planejamento da vida reprodutiva de mulheres soropositivas, assim como promover a garantia e o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos para todas e todos, o UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, apoiou a realização do estudo “GENIH: Gênero e Infecção pelo HIV - estudos sobre práticas e decisões relativas à saúde sexual e reprodutiva”, realizado no município de São Paulo, e a divulgação dos resultados preliminares de outro intitulado “Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulheres Vivendo no Contexto da Epidemia do HIV/Aids em Porto Alegre”, realizado na capital gaúcha com usuárias da atenção básica e serviços especializados.
Saúde Sexual e Reprodutiva de MVHA
Ambas as pesquisas compõem um conjunto de iniciativas que visam suprir as lacunas de conhecimento sobre questões reprodutivas de mulheres vivendo com HIV/Aids (MVHA) no Brasil. Em entrevista ao UNFPA, duas das responsáveis pelas pesquisas, a Dra. Regina Maria Barbosa (Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó”/Unicamp) e Dra. Daniela Knauth (Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde/UFRGS), contaram os detalhes que mais chamaram atenção nos perfis das usuárias dos serviços - as que vivem com e sem o vírus - sobre a realidade de MVHA que fazem laqueaduras como estratégia de contracepção, ou aquelas que são vítimas de violência de gênero, o que amplia em maior risco de (re)infecção.
Confira as entrevistas de Daniela Knauth (Nupacs/UFRGS) e Regina Maria Barbosa (Nepo/Unicamp)
Os dados preliminares dos estudos foram apresentados em reunião realizada em agosto deste ano, em Brasília, com a presença de membros da equipe do UNFPA Brasil, sociedade civil, Governo Federal, apoiadores e pesquisadoras responsáveis. Apoiam a realização do Estudo GENIH, coordenado pelo “Núcleo de Estudos de População Elza Berquó” da Unicamp, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo/Organização Pan-Americana de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A pesquisa realizada em Porto Alegre pelo NUPACS/URGS, contou com apoio do CNPq.