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O Fundo de População da ONU no Brasil recebeu uma organização parceira do UNFPA na Venezuela para buscar soluções que apoiem mulheres em deslocamento forçado

Por Isabela Martel

PACARAIMA, Roraima – “Vocês se sentiram seguras durante a viagem?” pergunta, em espanhol, a mulher de colete marrom. “Não!”, responde, em coro, o grupo de meninas. A mulher é Wanda Wojtowicz Rodriguez, orientadora legal da Comisión para los Derechos Humanos y la Ciudadanía (CODEHCIU) em Santa Elena de Uairén, organização parceira e implementadora de projetos do UNFPA Venezuela. A conversa se deu no Espaço Seguro do UNFPA Brasil, em Pacaraima, acompanhada do coordenador de Saúde Sexual e Reprodutiva na assistência humanitária local, Leandro Morais. Ao redor deles, um grupo de nove meninas com idade entre 14 e 19 anos. Entre risadas e debates, as adolescentes respondem a uma série de perguntas sobre o caminho que percorreram até a chegada ao Brasil. Trata-se de um grupo focal, conduzido pelo UNFPA Venezuela, e promovido pelo UNFPA Brasil.

Quando a atividade com as adolescentes acaba, é a vez do segundo grupo ser ouvido. Agora, são nove grávidas e lactantes. O objetivo dos grupos focais é conhecer as experiências e investigar as condições encontradas pelas meninas e mulheres na rota de mobilidade entre as suas cidades de origem na Venezuela, até a fronteira com o Brasil, com ênfase nos riscos, especialmente em relação à saúde sexual e reprodutiva. “Essas informações apuradas e atuais que descobrimos aqui vão nos ajudar a adequar os programas que o UNFPA Venezuela implementa para prestar um melhor serviço às mulheres nessa rota”, explica Wanda.

A escolha pelo Espaço Seguro de Pacaraima, além da proximidade com a Venezuela, passa pelo fato de as mulheres e meninas terem entrado no Brasil há pouco tempo e, por isso, possuírem memórias recentes da rota de migração. Além disso, a sala do UNFPA Brasil oferece um espaço de acolhimento e não-julgamento que são ideais para dinâmicas como grupos focais.

Há banheiros? Posto de saúde oferecendo serviços de saúde sexual e reprodutiva? Luzes? Policiamento? Acesso a produtos como absorventes e preservativos? Estas foram algumas das perguntas presentes nos questionários. As refugiadas e migrantes, vindas de cidades como Santa Elena de Uairén, Ciudad Bolívar, Puerto La Cruz, San Félix, Puerto Ordaz e Santa Fé, prontamente respondiam e dividiam experiências. Quase unanimemente, elas falaram sobre a falta de segurança, iluminação, banheiros, postos de saúde e meios de acesso a diversos produtos. As que fizeram o percurso durante a gravidez, relataram um agravamento do desconforto provocado pelo contexto e condições da viagem. Todas, independente da idade, concordaram: “No es fácil”. Não é fácil.

Dadas as dificuldades enfrentadas pelas refugiadas e migrantes, a parceria entre os escritórios do UNFPA dos dois países é importante. “Estamos trabalhando para o mesmo grupo de beneficiárias e o fato de podermos atuar em conjunto nos fortalece para atendê-las, nos permite ser parte de uma rede de apoio mais integrada e ampla”, diz Wanda. Para Leandro Morais, coordenador de Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA Brasil, que participou dos grupos focais, “a aproximação estratégica entre os escritórios do UNFPA Brasil e Venezuela favorece um melhor diagnóstico dos desafios e necessidades em saúde sexual e reprodutiva, bem como em violência baseada no gênero, no transcurso migratório de meninas e mulheres venezuelanas, gerando oportunidades para qualificar nossas iniciativas em campo e planejar ações conjuntas”.


Leandro Morais, Coordenador de Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA Brasil, participa de grupo focal com adolescentes venezuelanas. Foto: ©UNFPA Brasil/Isabela Martel