São Paulo - O encerramento do primeiro dia do VII Encontro Obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP), na tarde de quinta-feira (12), capital paulista, concentrou-se no debate “Obstetrizes no Mundo”, com apresentações de relatórios e relatos de experiências internacionais. Um dos temas foi a importância da mobilização e a formação de redes locais e internacionais para garantir avanços nas políticas públicas relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos.
A uruguaia Ana Labandera, da Federação Latino-americana de Obstetrizes, dividiu com o público um histórico do movimento no continente, nos últimos 20 anos. “Ser parteira é muito mais que fazer um parto”, afirmou, apontando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e que faça da família o centro das atenções das políticas de saúde. No campo político, defendeu a contínua cobrança dos governos, que ativistas devem ocupar cargos e esferas de decisão e a formação de alianças com diferentes associações de profissionais.
O cotidiano de casas de parto canadenses foi objeto da apresentação de Natália Salim, ex-aluna da USP Leste. Em viagem realizada em 2013, ela visitou entidades em mais de cinco cidades e assinalou alternativas ao modelo brasileiro. Salim citou especialmente sua experiência em uma comunidade indígena no sudoeste do país, quando descobriu a relação entre práticas tradicionais e globalizadas.
Anna Cunha, Oficial de Programa do UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, apresentou o Resumo Executivo do Relatório Global “O Estado da Obstetrícia no Mundo: Um Caminho Universal. Um Direito da Mulher à Saúde (SoWMy 2014)”, publicado em 2014 com dados de 73 países e lançado durante o evento. Os resultados evidenciaram que o acompanhamento da obstetriz na gestação, parto e pós-parto diminui consideravelmente as taxas de mortalidade materna.
O estudo avalia que, apesar dos avanços em todo mundo, há um longo caminho a ser percorrido para universalizar os direitos reprodutivos. A publicação tem com objetivo fornecer evidências sobre o estado da obstetrícia no mundo para: apoiar diálogos entre os governos e seus parceiros sobre a criação de políticas; acelerar o progresso dos ODMs na área da saúde; identificar os avanços dos últimos três anos desde a publicação do relatório do SoWMy 2011; e reunir informações para os desdobramentos do pós-2015.
Por fim, a uruguaia Ana Labarenda retornou e compôs a palestra “Mudanças na relação sanitária: o modelo uruguaio de redução de riscos do aborto inseguro”. Labarenda explicitou o processo que culminou na despenalização do aborto, em 2012, e o desenvolvimento de sua política pública. “Somos a favor da vida e temos que diminuir a necessidade do aborto. Mas as leis podem mudar e era preciso garantir a autonomia das mulheres para decidirem se querem ou não ter filhos”, afirmou.
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