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O nascimento de uma artista venezuelana

O nascimento de uma artista venezuelana

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O nascimento de uma artista venezuelana

calendar_today 05 June 2019

Jackeline Lozada quer estudar artes em uma faculdade (Foto: Fabiane Guimarães/UNFPA)

Uma colorida pintura toma conta do muro do Centro de Convivência e Atendimento Psicossocial em Boa Vista, Roraima. A cena retratada na pintura em questão, uma mulher indígena a carregar as bandeiras da Venezuela e do Brasil, recebe os recém-chegados com uma mensagem de acolhimento e amizade. A artista por trás do painel saiu das fileiras de pessoas beneficiárias pelo projeto na cidade: Jackeline Lozada, de 25 anos, trabalhou no mural enquanto estava grávida. Ela deu à luz a uma menina poucas semanas após receber a equipe de reportagem do UNFPA.  

A artista venezuelana deixou a cidade de Puerto Ordaz, junto a seu companheiro, em setembro de 2018. Na ocasião, estava grávida de pouco mais de quatro meses e enfrentou sangramentos e um quadro de infecção urinária, sendo encaminhada com auxílio do Fundo de População das Nações Unidas à rede pública de saúde local.

“Algumas pessoas disseram que eu ia perder o meu bebê se saísse da Venezuela, mas eu sabia que não. No começo, depois que cheguei, eu quis voltar para o meu país, eu e meu esposo temos uma boa casa lá, mas infelizmente agora temos que pensar muito. Lá, não tenho as coisas que preciso para o meu bebê”, explica.

O pai de Jackeline e parte de sua família já estavam estabelecidos no Brasil há algum tempo no momento de sua chegada, mas um problema familiar fez com que o casal procurasse auxílio da Operação Acolhida, operação coordenada pelas Forças Armadas que lidera o trabalho em Roraima. Cinco meses após a chegada a Boa Vista,  conseguiram vaga em um dos 11 abrigos na capital. “Pela primeira vez desde que havia chegado ao Brasil, pude dormir tranquila”, relata.

Veia artística

Na Venezuela, Jackeline costumava desenhar com grafite e produzia pequenos retratos apenas por prazer. “Nunca estudei, foi algo que nasceu comigo”, relembra. Dentro do abrigo, após doação de materiais, começou a fazer alguns quadros, sempre reproduções, que chamaram a atenção, tanto de voluntários e coordenadores do Fundo de População das Nações Unidas, quanto das pessoas locais. “Me perguntaram quanto eu cobrava, mas eu não sabia. Nunca tinha vendido nada”, dá risada.

Jackeline deu à luz a uma menina (Foto: Fabiane Guimarães/UNFPA)

Sempre com o sorriso aberto e simpático, Jackeline confessa que sentiu a responsabilidade pesar, quando lhe encomendaram a pintura do muro do Centro de Convivência. “Eu nunca havia feito algo tão grande, e assim saído da minha imaginação. Sempre fiz reproduções”, relata. O resultado do trabalho é seu maior orgulho, o símbolo de sua resiliência e criatividade, duas forças que ela nem sabia que tinha. “Agora, quero fazer uma faculdade de artes. Seria um sonho realizado”, diz.

O Centro de Atendimento Psicossocial

O Centro de Convivência e Atendimento Psicossocial, onde está o muro pintado por Jackeline, é um projeto mantido pelo Fundo de População das Nações Unidas e o  Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), com recursos da União Europeia e em parceria com o Exército da Salvação. O espaço é uma estratégia global do UNFPA para resposta à violência de gênero em situações de emergência, e também fortalece a rede local na proteção das sobreviventes de violência e outras violações das pessoas migrantes e refugiadas. Até o momento, o projeto, que tinha uma meta de 5 mil atendimentos, já dobrou essa quantidade, com 13 mil pessoas atendidas.