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Na mesa de abertura, a ex-vice-presidenta da Costa Rica, Epsy Campbell destacou os desafios de romper com os imaginários ao ocupar espaços de poder

O maior Festival de Mulheres Negras da América Latina voltou. Após dois anos sem atividades presenciais em razão da pandemia, o Festival Latinidades retomou as atividades na última sexta-feira, 22 de julho e segue até o domingo, 24, com extensa programação em Brasília, no Distrito Federal.

Com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o evento marca os 30 anos do 1º Encontro de Mulheres Afro Latino Americanas e Afro Caribenhas realizado em Santo Domingo, na República Dominicana no ano de 1992, que instituiu o 25 de julho Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e também os 15 anos do Festival Latinidades, que apresenta o tema “Mulheres Negras - todas as alternativas passam por nós” e homenageia 50 mulheres negras com diferentes trajetórias a fim de reconhecer a importância de suas conquistas para a construção do país.

Para Jaqueline Fernandes, idealizadora do Festival a parceria com o UNFPA é muito importante. "Essa parceria vem de anos. Em várias edições do Festival pudemos contar com este apoio. A missão do Latinidades tem tudo haver com a UNFPA. É muito importante conectar as pessoas e nos reencontrarmos presencialmente. Viabilizou presenças importantes, das nossas griôs”, destacou.

A Oficial de Gênero, Raça e Etnia, Luana Silva afirma que "Apoiar o Latinidades, como  maior Festival protagonizado por e para as mulheres negras, é uma obrigação histórica com este grupo populacional brasileiro. A Década Afrodescendente (2015-2024) é um convite a toda comunidade internacional para que nenhuma pessoa seja deixada para trás." 

O painel de abertura do festival “Mulheres negras e indígenas – todas as alternativas passam por nós!” contou com a presença de Neon Cunha, Chirley Pankará, Epsy Campbell e Larissa Pankararu, com mediação de Nilza Iraci, do Instituto Geledes.

Em suas falas, todas as convidadas destacam a importância da união entre mulheres negras e indígenas para a luta por justiça e igualdade. Ex-vice-presidente da Costa Rica, a economista Epsy Campell, destacou a necessidade de enfrentamento à violência contra meninas e mulheres, contra o racismo sistêmico, a violência contra a juventude negra e destacou a importância do combate a gravidez precoce, tendo como meta primordial alcançar o número de zero gravidez infantil. “Temos a obrigação de entregar uma vida mais fácil para as que hão de vir para que não tenham que passar por esses obstáculos de agora. É nossa obrigação entregar uma montanha mais baixa para as próximas gerações”.

Com participação ativa na política de seu país, Epsy Campbell foi a primeira mulher negra a assumir o cargo de vice-presidente da Costa Rica em 2018, e destacou os desafios da ocupação destes espaços. “É pesado o bastão de ser a primeira”.

Segundo ela, o maior desafio é mudar os imaginários, “as pessoas não nos imaginavam nos espaços de poder formal e isso gera resistências. Mas este desafio está acompanhado de uma grande oportunidade, que é colocar os temas dos povos afrodescendentes e dos setores excluídos da sociedade na agenda pública. Os desafios são permanentes pois temos que lidar com as imagens de poder, que não são nossas, mas as oportunidades são todas, porque existem muitas pessoas que estão buscando essa diversidade da foto do poder para se sentirem representados e representadas”.

Homenageadas

Ainda na sexta (22), o Latinidades fez a homenagem “Rosas em vida: as vozes das nossas griôs na construção e preservação do patrimônio cultural imaterial brasileiro”. São 50 griôs homenageadas, algumas delas estiveram presencialmente no evento, como a filósofa, Sueli Carneiro e Creuza Maria de Oliveira, uma das principais lideranças das trabalhadoras domésticas do Brasil, presidenta de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrade).

“A gente se vê ainda resistindo e lutando por coisas que não deveríamos mais estar vivenciando mesmo tendo construído cada pedaço desse país. A gente ainda vive em desigualdade. Ver nossas mulheres morrendo por doenças tratáveis e várias outras doenças que são somente por falta de políticas públicas por falta de cuidado. A gente contribui com a riqueza do país, mas estamos sempre com o resto. Estamos nas piores condições de emprego, saúde e educação. Então essa homenagem foi muito importante e bonita. Para mim é um orgulho muito grande”, ressaltou Creuza.

 

Povos e Comunidades Tradicionais

No domingo (24), às 10 horas, o UNFPA realiza a mesa “Povos e comunidades tradicionais: a importância das mulheres negras na construção de sociedade livre do racismo e das violências de gênero”. O debate acontece no Auditório II do Museu Nacional e conta com a participação de Mãe Nilce de Iansã, Mãe Francis de Yemanjá, Lucimara Pereira Muniz e Wemmia Anita Lima Santos e mediação de Luana Silva, Oficial de Gênero, Raça e Etnia do UNFPA.

Toda a programação do Latinidades pode ser conferida no site.