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Hoje, também nos aproximamos do fim da janela de oportunidades, chamada dividendo demográfico, quando o percentual de população em idade ativa é significativamente maior do que a soma do número de crianças e idosos. Com a soma desses dois fatores, é fundamental que o país se prepare para o novo cenário.

Esse quadro torna urgente a discussão de políticas públicas que considerem o envelhecimento populacional em suas especificidades. Afinal, será um cenário novo, que trará desafios para a produtividade, para o modelo de crescimento econômico e para as finanças públicas.

Para Jaime Nadal, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, o contexto de transição no perfil populacional exige uma análise cuidadosa, na medida em que o processo de envelhecimento não se dá de forma igual para todos os grupos populacionais. “O envelhecimento é o resultado de avanços significativos no desenvolvimento e nas condições de vida dos países. Mas ele ocorre de maneira distinta quando analisado por sexo, raça, níveis socioeconômicos, nos meios rural e urbano e nas diferentes regiões do país. Por isso, é fundamental que a administração pública leve em conta essas diferenças, para que se construa uma política que reduza as desigualdades”, enfatiza.

Nadal reforça que o envelhecimento populacional é um dos processos mais importantes do século XXI. Para ele, embora seja frequentemente associado aos custos previdenciários e aos gastos com saúde, é necessário reconhecer e potencializar os seus aspectos positivos, em especial os resultantes de uma melhora significativa nas condições de vida e na evolução da ciência.

“O envelhecimento é um produto do progresso social e científico. As pessoas vivem mais e melhor, e conseguem tomar decisões sobre suas vidas reprodutivas que são, ao final, um reflexo desse progresso. Já não é mais preciso ter muitos filhos e as mulheres conseguem acessar o mercado de trabalho em proporções cada vez maiores, avançando a igualdade de gênero.

Então, se o envelhecimento gera desafios, também é resultado de um processo social, econômico e científico inegável”, ressalta Nadal. Os avanços na medicina, no tratamento da saúde e nas condições de vida em sociedade permitiram que, de 1950 a 2015, a população brasileira ganhasse 24 anos de esperança de vida – aproximadamente quatro anos por década. Planejar o que a sociedade precisa fazer diante do envelhecimento da população não é pensar apenas nos idosos. Afinal, trata-se de uma parcela da população que é ao mesmo tempo economicamente ativa e que carece de cuidados. Por isso, no âmbito das políticas públicas, é necessário pensar ações que visem igualar não apenas as oportunidades de homens e mulheres no mercado de trabalho, mas que também favoreçam a divisão do trabalho doméstico, com vistas a uma maior participação dos homens no cuidado com o outro – nesse caso, com o idoso.

Os índices de participação de mulheres e homens no trabalho que envolve o cuidado do outro e a manutenção do ambiente doméstico revelam que o tempo dedicado a esse trabalho é majoritariamente dispensado pelas mulheres, em particular aquelas com níveis socioeconômicos mais desfavorecidos.

Sobretudo quando se analisa os números relativos à participação feminina no mercado de trabalho, vê-se a necessidade de se pensar o contexto que se anuncia como um todo. Segundo dados da PNAD Contínua, em 2017, mais da metade da população em idade de trabalhar era formada por mulheres, mas os homens representavam 57,2% da parcela da população no mercado de trabalho. Essa disparidade faz com que, além das mulheres terem uma participação menor ou desequilibrada nos ambientes de trabalho, recaia sobre elas a tarefa de cuidar e administrar os cuidados com o idoso e com as crianças.

Em um Brasil que está envelhecendo, torna-se essencial a redução das desigualdades e a promoção de condições de envelhecimento ativo, com saúde, cuidado e qualidade de vida a todas e todos, especialmente à população idosa.