DECLARAÇÃO CONJUNTA
DIRETORA EXECUTIVA DO UNFPA, DRA. NATALIA KANEM
DIRETORA EXECUTIVA DO UNICEF, HENRIETTA H. FORE
Dia internacional de tolerância zero para mutilação genital feminina
6 de fevereiro de 2018
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Uma corrida contra tendências
A mutilação genital feminina é muitas coisas: um ato violento que causa infecções, doenças, complicações no parto e até a morte. Uma prática cruel que inflige dano emocional duradouro e presa e cai sobre membros mais vulneráveis e menos poderosos da sociedade - meninas entre a infância e os 15 anos de idade. Uma violação dos direitos humanos que tanto reflete quanto perpetua o baixo status de meninas e mulheres em lugares demais. Um obstáculo para o bem-estar das comunidades e das economias.
No entanto, também é algo que pode ser interrompido.
Em todo o mundo, o impulso para eliminar a mutilação genital feminina está sendo construído. A vontade política, o envolvimento da comunidade e investimentos direcionados estão mudando práticas e mudando vidas.
Nos países em que o UNFPA e o UNICEF trabalham em conjunto para acabar com a mutilação genital feminina, as meninas são um terço menos propensas a se submeter a esta prática prejudicial hoje do que em 1997. Mais de 25 milhões de pessoas em cerca de 18 mil comunidades em 15 países repudiaram publicamente a prática desde 2008. Globalmente, sua prevalência diminuiu quase um quarto desde cerca de 2000.
Isso é bom para meninas e jovens mulheres. Também é bom para suas famílias e comunidades. Meninas que não são submetidas à prática tendem a crescer de forma mais saudável e terem filhos mais saudáveis. Muitas vezes, elas são mais bem-educadas, têm rendas maiores e estão mais capacitadas para tomarem decisões sobre suas próprias vidas. Comunidades e países que enfrentam a prática nociva e comprometem-se a mudá-la, obtém benefícios proporcionais.
Esta é a boa notícia. No entanto, as tendências populacionais em alguns dos países mais pobres do mundo, onde a mutilação genital feminina persiste, ameaçam reverter nosso progresso.
Até 2030, mais de um terço de todos os nascimentos em todo o mundo será nos 30 países onde a mutilação genital feminina é praticada. Sem um progresso acelerado para proteger o número crescente de meninas em risco dessa prática prejudicial nesses países, milhões de meninas poderiam ser mutiladas até 2030.
É inconcebível que essas meninas sejam adicionadas aos 200 milhões de mulheres e meninas do mundo hoje que já sofreram mutilação genital feminina. Mulheres que já carregam as cicatrizes, sofrem complicações relacionadas ou revivem as duras recordações de dor e traição. Ninguém – nem as meninas, suas famílias ou comunidades - se beneficia economica ou socialmente em sociedades desiguais onde essa violência contra as meninas é aceita.
Nós sabemos como mudar isso. Vimos que as taxas de mutilação genital feminina podem cair rapidamente em lugares onde a questão é tratada de todo o coração - por governos, comunidades, famílias. Onde as normas sociais são confrontadas, aldeia por aldeia. Onde profissionais médicos se juntam para se opor à prática e se recusam a realizá-la. Onde as leis são promulgadas para fazer desta prática um crime - e onde essas leis são aplicadas. Onde um acesso mais amplo à saúde, educação e serviços jurídicos assegure mudanças sustentáveis. Onde meninas e mulheres são protegidas e capacitadas para fazerem sua voz ser ouvida.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável reconhecem que a mutilação genital feminina prejudica o progresso em direção a um mundo mais igual, justo e próspero. Eles estabeleceram uma meta ambiciosa de eliminar todas essas práticas prejudiciais contra meninas e mulheres até 2030.
Dado o aumento do número de meninas em risco, esta é uma corrida contra as tendências. Mas com o aumento do investimento e o compromisso político redobrado, com maior envolvimento na comunidade e com mulheres e meninas mais empoderadas, trata-se de uma corrida que pode ser conquistada. E porque pode, deve.
É hora de eliminar a mutilação genital feminina da face da Terra para sempre. É uma tarefa para todos nós e para o nosso futuro comum.