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Cerca de 30 crianças e adolescentes participam de aulas semanais no coral Anjo Gabriel; a maioria vive no Jardim Canadá, comunidade em extrema vulnerabilidade social

 

A voz é a ferramenta utilizada por crianças e adolescentes para superar a timidez. Da garganta, vem o desejo de serem escutadas como sujeito de direitos. Produzir alternativas de vida para os recentes coralistas que vivem em contextos de vulnerabilidade é o principal intuito do Coral Anjo Gabriel, em Foz do Iguaçu. Apoiado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o coral foi formado em 2019 e é composto por crianças e adolescentes, dos quais cerca de 70% vivem no Jardim Canadá, comunidade de extrema vulnerabilidade social no município.

No repertório do coral estão clássicos como “O Grande Artista”, de Flávio Santos e Valdecir S.Lima, “Naquela Rua”, de Marcela Taís, e o “Caderno”, de Toquinho. Apesar de recém-formado, o coral já faz apresentações públicas, onde as emoções são transmitidas ao público na harmonia das vozes ressoadas em conjunto.  A segunda apresentação do coral foi no dia 28 de novembro, no colégio estadual Ayrton Senna da Silva.  

A coordenadora do projeto e do coral Anjo Gabriel, Judite Maria Dalcin, relembra a motivação para o projeto:  trazer o canto como uma forma de comunicação e expressão, socialização, fortalecer a concentração e propiciar um maior desenvolvimento de competências socioemocionais. “O principal objetivo é fazer com que diminua o índice de gravidez na adolescência e a evasão escolar. Através do coral, nós podemos trabalhar também com os pais, levar um pouco do conhecimento de vida da sexualidade e também conhecimento e a cultura para esse público e a família”, completa.  

 

Transformação nos laços familiares e nos boletins escolares

Aparecida Ivete Galina, 58 anos, é avó e cuida de dois dos alunos do coral, de 11 e 14 anos. Ela se diz realizada em ter incentivado os netos a participar por perceber uma mudança no comportamento deles e no desempenho escolar.  “O comportamento em casa melhorou muito. Neste ano, eles já estão de férias, nos outros ficavam de recuperação sempre. O coral fez melhorar as atitudes, no jeito de falar em casa, e ajudou em tudo mesmo. A minha ideia é continuar incentivando”, comemora. 

Ansiosa pela apresentação, Silvia Silveira Dias também estava na plateia da escola. A assistente social é mãe de um dos alunos do coral, de 12 anos. Ela acompanha o crescimento e desenvolvimento do filho e destaca que o coral ajudou a diminuir a frequência do uso do celular e do computador, além de colaborar na concentração dos estudos. “Tenho percebido mudança no comportamento dele. Ele está mais responsável com as tarefas da escola, percebi que ele se acalmou. Ele tinha uma agitação grande, e agora está mais tranquilo, principalmente na hora de fazer a tarefa escolar. É um incentivo que é dado para as crianças para não parar. Acho que mais crianças teriam que ter essa oportunidade, eles ganham com o valor do conhecimento e da educação”, diz. 

 

Agenda do Coral Anjo Gabriel 

Até o final do ano, o grupo fará duas apresentações em Foz do Iguaçu. A primeira será no dia 15 de dezembro, às 14h, na Matriz Nossa Senhora de Fátima. Dois dias depois, 17 de dezembro, eles se encontram às 18h, na Associação de Moradores do Jardim Canadá. 

 

Projetos locais apoiados pelo UNFPA

O coral é um dos projetos em Foz do Iguaçu que recebem apoio do UNFPA. A aproximação do Anjo Gabriel se deu em 2019, quando o UNFPA formou uma equipe no município de Foz do Iguaçu dedicada ao projeto Prevenção e Redução da Gravidez Não Intencional na Adolescência nos Municípios do Oeste do Paraná, em parceria com a ITAIPU Binacional.

Além do Anjo Gabriel, outros dois projetos foram apoiados pelo UNFPA em 2019. O primeiro foi o Trilha Jovem Iguassu, que atua com jovens de 16 a 24 anos com uma abordagem voltada para o preparo e a inclusão social no trabalho ao atuar com o turismo, comércio, hospedagem e eventos. Os e as jovens são capacitados para o mercado de trabalho e recebem acompanhamento durante as 80 primeiras horas no novo emprego. 

Outro programa apoiado pelo UNFPA em Foz do Iguaçu é o ViraVida, do SESI Paraná. Profissionais do UNFPA levam a 70 jovens de 15 a 21 anos a oportunidade de debater assuntos considerados tabus.  Nas oficinas, é criado um espaço para que esse público acesse informações sobre saúde sexual e reprodutiva e possa trabalhar questões como a autorreflexão na área da sexualidade – temas que normalmente não são abordados em outros espaços, como no ambiente familiar e educacional. Entre os temas abordados estão conhecimento do corpo, métodos contraceptivos, gravidez na adolescência, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), HIV e Aids, discriminação e preconceito, homofobia e diversidade sexual. A ideia é complementar o diálogo sobre a relação de gênero, ampliar a produção de afetos, violência e desconstrução de padrões de masculinidade e feminilidade. No total, as oficinas compreenderam 14 encontros e encerraram em novembro.

 

Prevenção e redução da gravidez não intencional na adolescência

Os apoios na região são possíveis graças à presença de equipe do UNFPA em Foz do Iguaçu, formada para atender o projeto Prevenção e Redução da Gravidez Não Intencional na Adolescência nos Municípios do Oeste do Paraná. Assinado em 2018 entre UNFPA e ITAIPU Binacional, o projeto busca fortalecer as capacidades sócio-institucionais nos municípios participantes. Com os investimentos adequados, milhares de adolescentes e jovens no Oeste do Paraná têm a oportunidade de planejar o futuro, fortalecer habilidades e projetos de vida para uma transição segura e saudável para a vida adulta, contribuindo para suas famílias e comunidades onde vivem.

O projeto conta com ações em quatro frentes: saúde, educação, gestão do conhecimento e comunicação. Na perspectiva do desenvolvimento econômico da região, têm contribuído para o pleno desenvolvimento e fortalecimento das trajetórias de vida de adolescentes e jovens. As ações também têm foco no desenvolvimento socioeconômico, criando e ampliando oportunidades para que adolescentes e jovens ajudem na construção de serviços acolhedores de saúde e também tenham garantidas condições de ampliar suas habilidades para a vida e competências socioemocionais.