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Pesquisa apoiada pelo UNFPA revela o impacto do calor extremo em mulheres gestantes de Teresina

Pesquisa apoiada pelo UNFPA revela o impacto do calor extremo em mulheres gestantes de Teresina

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Pesquisa apoiada pelo UNFPA revela o impacto do calor extremo em mulheres gestantes de Teresina

calendar_today 02 January 2025

Pesquisa apoiada pelo UNFPA revela o impacto do calor extremo em mulheres gestantes de Teresina
Lançamento de estudo feito em Teresina apresentou dados sobre o impacto do calor extremo em mulheres gestantes do município. Foto: Agenda Teresina 2030/Prefeitura de Teresina

Teresina, Piauí - Em 18 de dezembro de 2024, foram divulgados em Teresina, Piauí, os resultados preliminares de uma pesquisa inédita sobre o impacto do calor extremo na saúde de gestantes e no desenvolvimento dos bebês. A capital piauiense foi a única cidade das Américas escolhida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para participar do estudo inédito, que ouviu 411 mulheres atendidas em 75 unidades básicas de saúde (UBS) do município.

A Agenda Teresina 2030, vinculada à Prefeitura de Teresina, foi uma das seis iniciativas no mundo selecionadas pelo desafio "Climate Change XX: Women’s Health in Focus" do UNFPA. Com o tema "Avaliação do impacto do calor extremo na saúde de mulheres grávidas em Teresina", a iniciativa recebeu financiamento para realizar uma pesquisa inovadora, que revelou o perfil das gestantes expostas ao calor intenso da capital piauiense e os impactos dessa condição em sua saúde.

Durante o período mais quente do ano na cidade, tradicionalmente conhecido como B-R-O (sílabas finais dos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro), as equipes percorreram 75 Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelo município e aplicaram 411 questionários buscando entender como é a relação entre o calor extremo e saúde da mulher gestante. 

Entre os dados mais expressivos, a pesquisa aferiu que 83,7% das mulheres afirmam que o calor afeta seu bem-estar de forma negativa, sendo que 66% sente desconforto frequente por conta do calor e 44% disse que enfrenta uma intensidade extremamente alta de calor.

Os dados foram apresentados pela líder da pesquisa, Elisa Carvalho, e pelo coordenador da Agenda Teresina 2030, Leonardo Madeira. A solenidade foi comandada pelo secretário de Planejamento e Coordenação, João Henrique Sousa. 

“Temos dados significativos que nos indicam a necessidade de formatação de políticas públicas para o atendimento dessas mulheres. Em sua maioria, são mulheres pretas e pardas, que permanecem em casa o dia todo e se locomovem a pé pela cidade. Nesse trabalho pudemos compreender a necessidade de mudanças estruturais nos serviços de saúde, mudanças de comportamento e, especialmente, a necessidade de nos unirmos nesse trabalho”, afirmou Leonardo Madeira.  

Ao todo, 89% das entrevistadas declararam que o calor impacta sua saúde física, com 82,24% afirmando que tem piorado os sintomas de cansaço ou fadiga e, para 50,61%, notou-se um aumento na dificuldade de respirar.  Elas relataram ainda que percebem que o calor afeta seus bebês: entre as que notaram o bebê mais agitado, apresentaram como sintomas físicos o cansaço (92%) e dificuldade de respirar (63%). E, de forma espontânea, elas manifestaram os sintomas relacionados ao calor que as levaram a procurar o médico foram assaduras no corpo, falta de ar, dermatite, coceira, mal estar, dor de cabeça, insônia, confusão mental, enxaqueca, pressão baixa, sangramento no nariz e piora na ansiedade. 

Ainda sobre sintomas físicos, 37% das entrevistadas apresentaram algum tipo de infecção no trato uroginegológico durante a gravidez e 75% acreditam que a condição foi agravada pelo calor. Quando perguntadas se estavam seguindo alguma orientação médica específica para lidar com o calor, 63% respondeu que não havia recebido orientações do profissional de saúde, 25% não buscou orientações e 12% afirmou que estava seguindo as orientações. Porém, ao responderem sobre quais seriam essas orientações passadas, 90% afirmou que seria beber água e 15% tomar mais banhos. No total, 68% avaliam que bebem pelo menos 2,5 litros de água diariamente. Além disso, 91% das mulheres nunca conversaram com um profissional de saúde sobre o impacto do calor na gestação.

“Tem sido notório o engajamento de Teresina na construção de soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Essa parceria do UNFPA com a Prefeitura do município reforça como a inclusão de diretrizes específicas para gestantes e recém-nascidos expostos aos efeitos da crise climática pode melhorar a resposta e a prevenção de riscos durante a gestação. O estudo ressalta a importância de que essa resposta seja monitorada a partir de dados e evidências”, destacou Florbela Fernandes, representante do UNFPA no Brasil.

 

Perfil geral

Entre as que estão no grupo de 15% que declararam ter problemas de saúde antes da gravidez, 34% apontaram a hipertensão, 18% a diabetes e 18% a anemia.  

O questionário também avaliou o impacto emocional do calor nas gestantes. Do total de entrevistadas, 61% afirmou que sente de forma significativa esse impacto.  84% das mulheres são pardas e pretas, com média de idade de 27 anos, 60% se locomovem a pé para as consultas e 53% se locomovem a pé no dia a dia.

Sobre as medidas que adotam contra o calor extremo, 81% delas disseram que buscam um local fresco, 20% ficam no quarto com ar-condicionado e 20% ficam no quintal ou áreas cobertas da casa. Por outro lado, 70% afirmam que não frequentam parques ou praças, sendo que 34% afirmam que não gostam desses ambientes, 20% não tem acesso e 18% não se sentem seguras em parques e praças. 

Do total de entrevistadas, 84% sentem que não têm acesso adequado a informações e recursos sobre como gerenciar o calor durante a gravidez e 15% disseram que têm acesso. Destas, 59% se informam pelas redes sociais e internet e 30% nas UBSs. 

Para Elisa Carvalho, a pesquisa evidenciou que as mulheres sentem falta de informação, de um cuidado mais específico por parte dos profissionais de saúde e orientação. “Fomos muito felizes em aplicar um questionário que permitiu que essas mulheres pudessem manifestar o que estavam sentindo e passando no seu cotidiano e o que percebemos com isso é que elas precisam é de informação, de orientações mais direcionadas às formas de mitigar o calor extremo, de se sentirem mais confortáveis em casa e minimizar os sintomas”, explicou.

As gestantes relataram de forma espontânea preocupações sobre o impacto do calor na sua saúde: piorar a falta de ar e evoluir para algo mais grave, gatilho de ansiedade, insolação, ter um AVC, medo de eclâmpsia, passar mal, desmaio, medo do parto prematuro, infarto, tontura, agravar o emocional, pensamentos agoniantes, medo da depressão subir muito e colocar a vida dela e do filho em risco.