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Capacitação para inserção de DIU do Fundo de População das Nações Unidas qualifica profissionais da saúde, contribuindo para a garantia de direitos das mulheres

Por Isabela Martel

BOA VISTA, Roraima – Wendys Rivero é mãe de duas crianças: uma menina de sete anos e um menino, de quatro. Há cerca de um mês, a jovem de 24 anos saiu com a família de Ciudad Bolívar, na Venezuela, com direção ao Brasil. Por ora, eles chamam de casa o abrigo para pessoas refugiadas e migrantes Rondon 1, em Boa Vista. Foi justamente no abrigo que Wendys conheceu a enfermeira obstetra do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Daniela Souza. O encontro a levou até a Unidade Básica de Saúde (UBS) Treze de Setembro, onde Daniela atende pelo UNFPA duas vezes por semana. Lá, as duas se reencontraram em uma roda de conversa com outras oito mulheres. O objetivo era esclarecer as dúvidas sobre a inserção do dispositivo intrauterino (DIU) de cobre. Todas as mulheres estavam no local para colocar o DIU.

Capacitada pelo UNFPA através do Ciclo Formativo em Planejamento Reprodutivo, Daniela está habilitada para inserir o DIU de cobre na rede municipal de saúde de Boa Vista. A formação tem dois lados: qualifica a profissional que recebe o treinamento, e muda a vida reprodutiva das mulheres que procuram o serviço e são beneficiadas. “Eu sinto que, no caso das mulheres venezuelanas, eu consigo oportunizar o acesso de forma mais cuidadosa, orientada”, relata Daniela. “Com mais profissionais capacitados, e que têm essa articulação dentro dos abrigos e da rede municipal, como é o meu caso, não há tantas barreiras para o acesso”, completa.

Wendys é um exemplo disso. Depois de conhecer Daniela, ela procurou a UBS para trocar o DIU que tinha desde o nascimento do filho mais novo. “Tive minha primeira filha com 17 anos. O segundo bebê eu tive aos 21, porque não consegui um método para prevenir a gravidez.”, conta. “Para mim é importante estar aqui porque já tenho dois filhos, e quero trabalhar, fazer outras coisas. Preciso ter a garantia de não engravidar”, explica.

Oportunizar um planejamento reprodutivo adequado na atenção primária em saúde é uma prioridade do UNFPA, assim como atuar em conjunto com a rede pública para o fortalecimento de suas capacidades. Para Daniela, está funcionando: “Eu acredito, e acho que daqui a algum tempo a gente vai conseguir enxergar isso concretamente, que estamos garantindo um planejamento reprodutivo efetivo, já que o DIU de cobre é um método muito eficaz”, diz.


Daniela Souza, enfermeira obstetra do UNFPA, durante conversa com mulheres antes das inserções de DIU. Foto: ©UNFPA Brasil/Isabela Martel

A venezuelana Wendys não quer ter mais filhos. Agora, ela deseja retomar os estudos e construir uma vida nova em Santa Catarina, para onde deve ser interiorizada em breve. “Eu sonho com estabilidade, um futuro, e educação para os meus filhos. Eu e meu marido queremos trabalhar, para nos estabelecermos aqui no Brasil por um bom tempo”, afirma.

O UNFPA atua para alcançar o objetivo global de três zeros até 2030: zero necessidades não atendidas de contracepção, zero mortes maternas evitáveis e zero violências e outras práticas nocivas contra mulheres e meninas. O Ciclo Formativo em Planejamento Reprodutivo foi realizado com apoio do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) dos Estados Unidos.