Residente no Brasil há cinco anos, Nohemi é parte da rede de mulheres líderes que têm papel ativo junto ao poder público
Desde que chegou ao Brasil, há cerca de cinco anos, a história da venezuelana Nohemi não parou de se entrelaçar com a de inúmeras pessoas refugiadas e migrantes vindas de diferentes países. Como uma vocação, ela dedica parte de seu tempo a apoiar quem precisa de orientações ou encaminhamentos para recomeçar a vida no Brasil, especialmente na cidade de Manaus (AM). Seu engajamento é tamanho que atualmente ela integra o Comitê Municipal de Políticas Públicas para Pessoas Refugiadas, Migrantes e Apátridas de Manaus (COMPREMI).
A história de Nohemi é semelhante a de tantas outras pessoas que deixaram a Venezuela nos últimos anos. Farmacêutica, ela trabalhava em um hospital, até quando não foi mais possível sustentar financeiramente a família. Junto a um dos três filhos, decidiu vir para o Brasil, ingressando pela fronteira de Pacaraima (RR), onde ficou por alguns meses até se mudar para Manaus.
Na capital amazonense, Nohemi começou vendendo água e café nas ruas. Nesse período, estudou português, conquistou um emprego formal e conseguiu juntar dinheiro para abrir um pequeno negócio, que não resistiu ao período da pandemia. Depois de muito estudo, ela voltou a empreender – dessa vez, no ramo de gastronomia e coquetelaria, empreendimento que a mantém financeiramente até hoje.
Mesmo com todas as adversidades, a venezuelana sempre esteve atenta às necessidades de pessoas que vivem realidades semelhantes à sua. De forma voluntária, ela iniciou sua história como liderança comunitária. “Faço isso de coração. Quando eu ajudo essas pessoas é como se eu estivesse ajudando a minha família”, revela.
Cidadania
Junto a outras mulheres com perfil de liderança, Nohemi faz parte de um grupo virtual organizado em um aplicativo de mensagens que busca fortalecer, entre outros temas, o debate a respeito da participação política e social das mulheres refugiadas e migrantes em todo o Brasil. Todas as mulheres do grupo fizeram parte, em algum momento, de ações e capacitações oferecidas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ONU Mulheres e ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, com apoio do Governo de Luxemburgo. A ação conjunta iniciou em 2018, e atualmente segue por meio do programa Moverse.
Ainda que considere a sua condição de vida atual estável, Nohemi aponta para a profissionalização e o acesso ao mercado formal de trabalho como umas das principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas refugiadas e migrantes. “Os custos para revalidar um diploma no Brasil são muito altos – mais ainda quando pensamos que, além de pagar pelos custos, também temos que nos manter e mandar dinheiro para nossas famílias”, ressalta. A queixa vai ao encontro dos dados revelados pela pesquisa “Oportunidades e desafios à integração local de pessoas de origem venezuelana interiorizadas no Brasil durante a pandemia de Covid-19”, lançada por meio do Moverse em 2022. Os dados apontam que são as mulheres que apresentam maior dificuldade de acesso ao mercado formal de trabalho brasileiro.
A importância no bem-estar do próximo revela um pouco sobre como o caminho de Nohemi foi se desenhando para falar em nome de seus pares e, para hoje, ocupar a posição de suplente na presidência do COMPREMI - formado por representantes do poder público, comunidade refugiada e migrante, e pela sociedade civil. “Somos a voz dos migrantes, refugiados e apátridas. O migrante merece uma vida digna. O comitê é muito importante para dar voz a essas pessoas. É diferente quando estamos organizados, do que quando estamos sozinhos. As pessoas nos escutam”, explica.
Sobre o Moverse – Implementado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e ONU Mulheres, com o apoio do Governo de Luxemburgo, o Moverse foi iniciado em setembro de 2021. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber informações sobre o Moverse, inscreva-se na newsletter.