A frase de Vitória Rodrigues de Oliveira, 16 anos, dimensiona o apoio para que pessoas jovens e adolescentes cuidem de sua saúde mental
Por Guilherme Cruz
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), por meio da série de webinários Jornada das Juventudes, segue percorrendo temas que atuam na vida de pessoas jovens e adolescentes. Na última quarta-feira (21) o debate salientou os impactos da saúde mental e as mudanças nos planos de vida e no cotidiano das juventudes, especialmente influenciados pela pandemia da Covid-19.
No dia 10 de outubro foi celebrado o Dia Mundial da Saúde Mental, a data serve como momento de reflexão sobre como encarar essa situação. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em pesquisa realizada em 130 países, houve uma interrupção de múltiplos serviços de cuidado à saúde mental durante a pandemia da Covid-19. Mais de 60% dos países relataram interrupções nos serviços de saúde mental para pessoas vulneráveis, incluindo crianças e adolescentes (72%).
A Jornada das Juventudes possui um formato de compartilhamento entre vivências das juventudes que com suas ideias e compreensão do seu contexto indicam modos de melhorias e transformações na sociedade. Em função disso, o debate entre as/os participantes trataram de situações que impossibilitam o estado de bem-estar e, principalmente, a saúde mental da população LGBQTI+, indígena e negra.
“Para toda comunidade LGBQTI+ tem sido complicado o isolamento, quando você tem família e essa família lhe julga o tempo todo, isso machuca. Mas minha família e eu estamos convivendo um pouco melhor, mas não é uma realidade da maioria. Então criar um autocuidado no dia a dia é importante”, disse Assis Gabriel, 15 anos, estudante e ilustrador.
Alice Pataxó, 19 anos, ativista, estudante, comunicadora indígena, e apresentadora do canal Nuhé relatou a sua transformação durante a pandemia. “Eu estava me cobrando muito, principalmente pela minha espiritualidade, porque eu não estava me cuidando. Não era possível realizar rituais, porque não se podia reunir. E percebi que todos os meus parentes estavam passando por um momento difícil, nós perdemos lideranças, nós perdemos anciões. Então retomei a medicina tradicional para poder aliviar a tensão e para se conectar com as outras pessoas” afirmou.
O UNFPA já reforçou a importância de fornecer informação e apoio a adolescentes e pessoas jovens durante a pandemia da Covid-19, devido às consequências geradas pela perturbação de aulas, rotinas de serviços de saúde e centros comunitários. Ou seja, a necessidade por serviços de saúde mental e aconselhamento é primordial, uma vez que muitas pessoas, inclusive jovens, estão enfrentando altos níveis de ansiedade e estresse devido a pandemia.
Educação e desigualdades sociais como influenciadores na saúde mental
A pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Novo Coronavírus”, do Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), entrevistou 33 mil pessoas jovens e 30% deles indicam pensar sair da escola, e 49% pensam em desistir do Enem. Esses dados reforçam a noção de uma outra disseminação existente no Brasil, a evasão escolar. Segundo o IBGE, mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o ensino médio. Das 50 milhões de pessoas de 14 a 29 anos, 20,2% não completaram alguma etapa da educação básica, e desse total, 71,7% eram pretos ou pardos.
“A pandemia agravou as nossas desigualdades, o estudante precisa assistir a aula pela televisão, porque não possuiu internet. Mas para gerar a presença do estudante você ainda precisa do aplicativo e de acesso à internet. E muitas pessoas não tem celular, e em alguns lugares nem operadora existe”, comentou Matheus Gomes, 22 anos, estudante de Estética.
“A qualidade de ensino não tem sido a mesma, muitos problemas são falados, mas não vejo atitudes que facilitem esse momento para os jovens. O que me deixa ansiosa em saber como será o meu futuro”, analisou Vitória Rodrigues de Oliveira, 16 anos, criadora do clube Girl Up - Nise da Silveira, ativista em debates e projetos sobre desigualdade de gênero.
Para lidar com a ansiedade Vitória recomenda o contato com plantas e terra para se reconectar com a vida. “Cuidar de plantas, mexer na terra, ver as mudanças nelas, é muito bom, porque as plantas têm muitas semelhanças com a gente. Elas ficam mal, podem ter doenças, mas algum momento elas vão florescer novamente, e eu me enxergo em muitas delas”. Para ouvir as práticas, recomendações e dicas para atenuar os efeitos na saúde mental das/dos demais participantes assista o debate na íntegra.
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