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Com ações voltadas para a saúde sexual e reprodutiva, o enfrentamento às desigualdades de gênero e a defesa do direito e autonomia de mulheres e meninas, grupo é referência em Pernambuco e foi um dos contemplados pelo edital Nas Trilhas de Cairo

Por Fabiane Guimarães

 

Em 1989, um grupo de quatro profissionais da área de saúde de Recife, Pernambuco, começou a discutir a defesa de um tema muito atual: o aperfeiçoamento da assistência ao parto, com maior humanização e autonomia para as mulheres. Mas, na época, não se falava muito sobre o assunto. “Na maior parte das vezes, o médico era um homem, em geral branco, que vinha dizer como a mulher tinha que parir. Médicos que nunca haviam convivido com a pobreza, a não ser por meio de suas pacientes, e não entendiam sobre a vulnerabilidade”, conta Sueli Valongueiro, que é uma das coordenadoras do Curumim, grupo criado para colocar em discussão as relações de poder durante o parto, puerpério e abortamento que, desde então, tem se tornado uma referência na área de saúde sexual e reprodutiva na região Nordeste.

O Curumim — que quer dizer “criança” e simboliza nascimento, em tupi-guarani — foi uma das instituições contempladas pela primeira edição do edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para apoiar o desenvolvimento institucional de organizações da sociedade civil. Com seus 32 anos de atuação, o grupo expandiu suas atividades e, além da área de saúde sexual e reprodutiva, atua também no enfrentamento às desigualdades de gênero e na defesa mais ampla do direito e autonomia de mulheres e meninas. Por meio de projetos e programas, o Curumim oferece oficinas, formações e campanhas, abordando temas como empreedendorismo, empoderamento das mulheres e enfrentamento à violência sexual, entre outras atividades.

De acordo com Sueli, o apoio fornecido pelo Fundo de População da ONU permitiu que a organização olhasse para dentro e promovesse uma profunda mudança institucional. “Fazia 10 anos que a gente não revisitava a forma como a instituição está organizada. Esse edital foi a oportunidade de retomar e olhar para a gente em um momento de pandemia, de tantas mudanças políticas, de dizer: vamos nos fortalecer. Mudamos nosso estatuto, revisamos nossa linguagem. Foi um gol, um presente”, celebra.

A coordenadora explica a importância do investimento em cultura organizacional: “quando você apoia um projeto institucional, você não apoia uma questão ou uma ação específica. Você apoia a base das outras ações, é um apoio de sustentação”. Durante a pandemia, apesar de ter sentido o impacto, o Curumim conseguiu se manter de pé e realizar importantes ações, como um concurso de redação para ouvir as meninas, uma parceria com uma rádio para a difusão de informações e formações para mais de 500 adolescentes, além do fortalecimento de uma linha assistencial sobre saúde reprodutiva voltada a mulheres, a Linha Vera.

“Conseguimos vencer com todas as dificuldades que essa pandemia trouxe, de pobreza e falta de acesso das mulheres a equipamentos tecnológicos e internet. Foi um trabalho a mais que a gente teve na pandemia. Por meio do edital, conseguimos também contribuir com internet para as meninas”, detalha Sueli.

O apoio do Fundo de População da ONU deixou resultados que serão colhidos por muito, muito tempo, segundo a representante do Curumim. “Foi um edital de cuidado”, define ela. 

Segunda edição

A segunda edição do Nas Trilhas de Cairo está com inscrições abertas até 3 de outubro! Serão investidos mais de R$ 500 mil em pelo menos 11 organizações da sociedade civil que atuam em áreas relacionadas ao seu mandato, com o objetivo de fortalecer as capacidades institucionais de entidades que atuam em defesa dos direitos humanos. Além de fortalecer a atuação da sociedade civil em prol da implementação e monitoramento do  Programa de Ação da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), a ação  busca também mitigar o impacto negativo da pandemia de Covid-19 na atuação das organizações.

Para saber mais do edital, acesse o FAQ.

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