Dez mulheres venezuelanas e haitianas que estão vivendo em Boa Vista (RR) concluíram no final de dezembro um curso técnico de costura oferecido por uma cooperativa brasileira. Antes vivendo em situação de vulnerabilidade e sem perspectivas, após um mês de aulas as mulheres agora sentem-se mais preparadas para começar atividades que poderão gerar renda para elas e suas famílias.
O projeto “Costurando Sonhos”, oferecido pela Cooperativa de Empreendimentos Solidários de Boa Vista (COOEFCS), teve seu potencial identificado pelos Promotores Comunitários, uma iniciativa de agências da ONU, instituições locais e União Europeia para facilitar o diálogo de refugiados e migrantes com a comunidade local. A proposta é promover a integração e a convivência pacífica.
Com isso, a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o Fundo de População da ONU (UNFPA) e o Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR) apoiaram a revitalização dos espaços do projeto e forneceram os materiais necessários para a realização das aulas de costura.
Para a venezuelana Josmary, de 28 anos, a capacitação foi importante porque possibilitou o início de uma nova vida. “Estamos muito felizes e nos sentimos mais preparadas para buscar oportunidades de trabalho”, afirma.
Já Jeniffer, de 36 anos, que trabalhava como enfermeira na Venezuela, destacou que as aulas proporcionavam também momentos onde as mulheres se fortaleciam por meio da troca de suas experiências pessoais. “A turma acabou virando uma família, compartilhamos as mesmas dificuldades e os mesmos sonhos e recebemos palavras de apoio de nossas colegas brasileiras”, conta, emocionada.
A Coordenadora do SJMR em Boa Vista, Juliana Miranda, avalia que o “Costurando Sonhos” oferece uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal tanto para as pessoas que chegaram ao Brasil e precisam recomeçar suas vidas, quanto para os brasileiros. “A cooperação mútua transpõe as barreiras de nacionalidade, inspira e incentiva uma melhor convivência entre brasileiras e estrangeiras”, diz Juliana, confirmando que o projeto continuará e será expandido em 2019.
Maria Souza, uma das professoras da capacitação, conta que foi muito gratificante oferecer às mulheres venezuelanas e haitianas a chance de desenvolver habilidades técnicas de costura. “Elas chegavam aqui em busca de emprego e não podíamos fazer nada. A partir do apoio que recebemos para conduzir o curso, foi possível oferecer o conhecimento para que elas se desenvolvam profissionalmente”, explica.
Francisca Silva, outra docente da formação, observa ainda que o estado de Roraima é carente de profissionais especializadas em costura e que esse curso possivelmente abrirá muitas portas para as refugiadas e migrantes.
Promotores Comunitários
Os Promotores Comunitários — entre eles, brasileiros, venezuelanos e haitianos — conduzem visitas às comunidades de acolhida em Boa Vista, divulgando informações atualizadas sobre políticas governamentais, entrega de assistência humanitária e outros temas. A ideia é difundir medidas e eventos que podem impactar o bem-estar da população em busca de refúgio em Roraima e envolvê-la com a população local.
Ao mesmo tempo, os participantes da iniciativa trazem atualizações sobre as necessidades da população, visando melhorar os programas humanitários desenvolvidos na capital de Roraima. Os agentes também promovem atividades sociais, apoiando tarefas domésticas, organizando mutirões de limpeza, indo até pessoas mais vulneráveis em suas casas e explicando boas práticas de higiene e limpeza.
Por meio do projeto, apoiado pela União Europeia, o ACNUR e seus parceiros conseguem manter um contato próximo com a população venezuelana e promover a participação comunitária, fortalecendo os laços de convivência entre os estrangeiros e quem os acolhe.