A iniciativa contou com 20 participantes de diferentes idades e etnias, e fez parte do calendário do 08 de março, Dia Internacional das Mulheres
Por Isabela Martel
MANAUS, Amazonas - Um grupo de meninas e mulheres com máscaras azuis e sprays nas mãos. Uma a uma, elas se aproximam do muro e deixam os sprays liberarem suas cores. Aos poucos, o muro de cinco metros vai ficando mais e mais colorido. Nem mesmo a chuva, típica do verão amazônico, consegue atrapalhar a concentração delas. As integrantes do grupo têm diferentes idades: algumas são crianças. Outras, mulheres mais velhas. Elas estão reunidas no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, para a oficina de arte e educação realizada pelo UNFPA, em parceria com o Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas Wakenai Anumarehit. A capacitação fez parte do calendário do 08 de março: Dia Internacional das Mulheres.
O Parque das Tribos é habitado por pessoas de 35 etnias diferentes. Essa riqueza cultural se reflete nas 20 mulheres presentes. Com o rosto pintado e o sorriso aberto, Elizete Tikuna, de 31 anos, é uma das participantes. A artista independente compartilha a sua experiência em dois idiomas: português e Tikuna. “A gente está deixando a nossa marca para as pessoas verem que existem indígenas periféricas em Manaus, que devem ser respeitadas. Para que os nossos direitos sejam respeitados”, diz ela. A poucos metros está Geiciany de Souza, de apenas 10 anos. “Está sendo muito legal, eu amei!”, exclama a menina da etnia Kanamari. “Quero que todas as mulheres sejam destemidas e corajosas e que não tenham medo de ir atrás de seus sonhos”, completa.
Oficina de arte e educação
Além de ensinar sobre as técnicas do grafite e fomentar o interesse pela arte, a oficina – que ocorreu entre os dias 06 e 08 de março – abordou temas relacionados aos direitos das mulheres e à prevenção da violência baseada no gênero. A atividade culminou na realização do mural artístico de cinco metros, no Dia Internacional das Mulheres. Entre as pessoas retratadas no muro, estão referências comunitárias do Parque das Tribos, como a Cacica Lutana Ribeiro e a Professora Claudia Baré. “O objetivo foi promover o protagonismo, a autonomia e a formação técnica de mulheres e meninas, fortalecendo os conhecimentos sobre os seus direitos a partir da linguagem artística do grafite”, explica Débora Rodrigues, chefe de escritório do UNFPA em Manaus.
A oficina foi facilitada pela artista indígena Wira Tini, da etnia Kokama, referência nacional na arte urbana. “O grafite permite que você se veja e o painel representa mulheres de vários povos, então elas vão se ver. Como foi uma construção coletiva, elas vão se sentir parte de um projeto e parte da comunidade, eu espero que esse seja o legado”, relata Wira. Para o Coordenador do Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas Wakenai Anumarehit, Joilson Karapanã, a oficina foi uma oportunidade para as mulheres. “Hoje, as mulheres indígenas estão tendo esse espaço e quebrando paradigmas de que só o homem é o dono da verdade, tanto nos povos indígenas como nos não-indígenas”, diz. “O grafismo, a arte e a cultura são marcos para que sejamos reconhecidos, valorizados e respeitados dentro da sociedade”, ressalta.
Ao final das atividades, com a pintura completa, a atmosfera era de orgulho. Entre as conversas, foi possível ouvir as participantes mais jovens conversando: “Vou pintar o meu quarto para ver como fica!”.
Sobre o Projeto
O projeto “Fortalecimento dos Serviços de Violência Baseada no Gênero que Salvam Vidas”, é implementado pelo UNFPA com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O objetivo é fortalecer as capacidades das redes locais de prevenção e enfrentamento à violência baseada no gênero no Amazonas e em Roraima.