Com o tema “Vidas entrelaçadas, fios de esperança: porque cada pessoa conta”, evento protagonizado por representantes de sete grupos sociais reforçou a importância da visibilidade estatística para que nenhuma pessoa seja deixada para trás
Rio de Janeiro – Em um encontro que promoveu um misto de inclusão social, diversidade e cultura, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) lançou a versão em português do Relatório de Situação da População Mundial 2024 (SWOP) durante o G20 Social, no Rio de Janeiro. Com o tema “Vidas Entrelaçadas, Fios de Esperança: porque cada pessoa conta”, o evento teve como protagonistas representantes de sete grupos sociais historicamente marginalizados para uma conversa sobre visibilidade estatística para garantia de direitos fundamentais.
Maryellen Crisóstomo, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ); Anderson Miranda, do Movimento Nacional da População de Rua; Anderson Mattos, da organização Hermanitos; Gabriel Oliveira, da Central Única das Favelas (CUFA) e coordenador nacional do G20 Favelas; Anna Paula Feminella, Secretária Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania; Marciano Rodrigues, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); e Gilmara Cunha, do Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, destacaram a urgência de políticas públicas que contemplem suas especificidades e que sejam embasadas em dados populacionais precisos e representativos.
Entre os pontos levantados pelos sujeitos de direito, emergiram questões como:
- A inclusão nos dados populacionais: Representantes enfatizaram como a invisibilidade estatística perpetua a exclusão social, limitando o acesso a direitos fundamentais como saúde, educação e justiça. Anderson Miranda, representando a população em situação de rua, por exemplo, reforçou a necessidade de sistemas de coleta de dados que capturem de maneira efetiva suas condições de vida e desafios.
- O impacto da visibilidade: Representantes das comunidades indígenas e quilombolas destacaram a importância dos dados do Censo de 2022, que pela primeira vez trouxe informações mais detalhadas sobre suas populações. No entanto, Maryellen Crisóstomo e Marciano Rodrigues reforçaram que esses avanços precisam se traduzir em políticas concretas para enfrentar desigualdades históricas.
- A interseccionalidade e os desafios específicos: Gilmara Cunha (população LGBTQIA +) e Anderson Mattos (migrantes) compartilharam como a falta de dados detalhados sobre suas realidades dificulta a formulação de políticas públicas que atendam às suas necessidades específicas, desde saúde sexual e reprodutiva até a inclusão no mercado de trabalho.
A Representante do UNFPA no Brasil, Florbela Fernandes destacou que no país, embora tenha havido avanços na visibilidade de muitos grupos, ainda é preciso garantir que todos sejam plenamente representados. “Como o relatório aponta, ‘os dados por si só não contam toda a história’. Muitas vezes, reduzem pessoas a estatísticas, reforçando estereótipos e preconceitos. Para enfrentar essas desigualdades, precisamos atualizar nossos processos de coleta de dados para que sejam inclusivos e transparentes, assegurando que todas as pessoas sejam visíveis e tratadas com dignidade. A presença dos artesãos e artistas hoje, como os cantadores populares e as rendeiras, simboliza a riqueza e a interconectividade de nossa sociedade. Eles nos lembram que, assim como cada fio em um tecido, cada pessoa é essencial para nosso futuro comum”, reforçou a representante.
Cultura e inclusão em destaque
O evento foi marcado por momentos de celebração cultural que traduziram, por meio de expressões artísticas, a riqueza e diversidade do Brasil. Apresentações musicais e de repentes, bem como apresentação de um cordel especialmente preparado para a ocasião, trouxeram histórias e lutas das comunidades representadas em versos sensíveis e inspiradores. Rendeiras de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, teceram ao vivo, simbolizando como cada fio – cada pessoa e sua trajetória – contribui para o fortalecimento do tecido social brasileiro.
O encerramento do evento reforçou a mensagem central de união e inclusão. Participantes e convidados se reuniram em uma grande ciranda, conduzida pelo Trio Pernambucano, para simbolizar o compromisso coletivo com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Esse momento representou, de forma vibrante, o lema do evento: “porque cada pessoa conta”.
Sobre o SWOP
O Relatório de Situação da População Mundial (State of World Population – SWOP) é uma publicação anual do UNFPA que aborda temas populacionais de impacto global, oferecendo evidências e análises para orientar políticas públicas. A edição de 2024 destaca a exclusão de grupos vulneráveis dos sistemas de dados populacionais e alerta para a necessidade de informações mais inclusivas e seguras.
Entre os principais achados, o relatório revela que a invisibilidade estatística perpetua desigualdades e limita o acesso a direitos básicos, como saúde, educação e justiça social. O SWOP 2024 enfatiza a importância de políticas baseadas em evidências que incluam todas as pessoas, especialmente aquelas historicamente marginalizadas, como forma de garantir um futuro mais equitativo e sustentável.
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