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Agência marcou presença em discussões sobre determinantes sociais que contribuem para a epidemia no Brasil e o papel fundamental dos e das profissionais de saúde neste cenário

O UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, participou neste domingo (13), no Hotel Fistea, em Salvador (BA), do 4° Congresso Brasileiro de Enfermagem Neonatal (COBENEO). O evento foi uma oportunidade para a agência da ONU discutir as abordagens feitas ao vírus zika nos serviços de saúde e, também, apresentar o relatório O Estado da Obstetrícia no Mundo 2014, que aborda o direito ao período gestacional com segurança, dignidade e respeito, tendo a participação decisiva de enfermeiros (as) obstetras, obstetrizes e profissionais qualificados na área da obstetrícia.

O COBENEO ocorreu simultaneamente ao III Encontro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal da Bahia, o II Congresso Internacional de Enfermagem Neonatal e o Seminário Comemorativo de 20 anos do Grupo de Pesquisa Crescer.

Zika e os determinantes sociais de saúde

Na mesa “Determinantes Sociais de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos em tempos de Zika”, estiveram Roger Nascimento, Consultor em Direitos Sexuais e Reprodutivos do UNFPA; Maria Thaís Oliveira, Coordenadora Adjunta da Coordenação Geral de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde; Paula Viana, Coordenadora da ONG Curumim-Gestão e Parto; e Karina Barros, Coordenadora de Saúde Geral Sudeste da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.

Roger enfatizou que o zika têm proporções que poderiam ter sido evitadas se alguns direitos básicos tivessem sido assegurados anteriormente às pessoas afetadas. “A preocupação agora é que, ao dar a resposta inicial, não corramos o risco de violar outros direitos em nome da emergência. Nesse sentido vários fluxos de trabalho e protocolos vão se incorporando às demandas que o zika trouxe. Por outro lado, a infeliz oportunidade de lidar com o zika nos dá a chance de poder rever algumas coisas que não estão bem e precisar ser melhor integradas”.

Em complemento à fala de Roger, Karina destacou o que é necessário em diferentes áreas levando em consideração o cenário para o próximo ano, após o período de chuvas e possíveis novas infecções do vírus. “Protocolo, ação e campanhas temos um monte. Mas o que estamos querendo? Olhar a questão do enfrentamento ao zika mais do que numa perspectiva de gênero, mas no olhar de gênero, que é mais proativo. Garantir que essa desigualdade e vulnerabilidade diminuam. Olhar como não construir para essas mulheres expectativas que a gente não possa cumprir. Pensar os direitos sexuais e reprodutivos não na teoria, mas ofertando isso às mulheres”.                                               

A obstetrícia no mundo

A representante auxiliar do UNFPA, Fernanda Lopes, iniciou sua fala no painel “O estado da obstetrícia no mundo - Um caminho universal, o direito da mulher a saúde” destacando a importância dos e das profissionais de obstetrícia, fundamentais para a redução dos índices elevados de mortes maternas e neonatais por causas evitáveis. “O Brasil teve um grande avanço, mas não alcançou o ODM 5. E essa agenda inconclusa volta na discussão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Outra questão destacada por ela foi de como o trabalho dos obstetras e das obstetrizes não é suficiente, sendo necessários “mecanismos reguladores para assegurar que os serviços sejam de qualidade”. “Não basta a competência em obstetrícia apenas, precisa regulação e asseguramento de serviço”, disse.Cobeneo

Ruth Pucheta (UNFPA), Célia Regina Melo (USP), Fernanda Lopes (UNFPA), Climene de Camargo (UFBA) e Thaís Oliveira (Ministério da Saúde) | Foto: UNFPA Brasil

Fernanda apresentou ainda os dados do relatório O Estado da Obstetrícia no Mundo 2014, coordenado pelo UNFPA em parceria com a Confederação Internacional de Obstetrizes e a Organização Mundial da Saúde (OMS), em nome de organismos governamentais e instituições nacionais interessadas e/ou envolvidas na temática de 73 países de rendas baixa e média.  “Porque a gente está falando de um documento com informações coletadas e sistematizados em 2014? Pela emergência de se trazer esse tema e os dados vivenciados pelo Brasil e por outros países e, também, porque urge a necessidade de discutirmos o que foi colcado na mesa de abertura pelo vice presidente da ABENFO, sobre respeito a identidade, autonomia e unidade na prestação do serviço na área de obstetricia. Os/as profissionais podem fazer toda diferença na atenção e na promoção à saude das mulheres e dos neonatos”, ressaltou.

Outros aspectos da prestação de serviços em obstetrícia foram apresentados pela representante auxiliar e as demais expositoras do painel, Thaís Oliveira e Célia Regina Melo, do Curso de Obstetrícia da Universidade de São Paulo - desde o conceito de cobertura eficaz em obstetricia e como as pessoas estão disponibilizando o seu tempo em serviço nessa área, até as oportunidades de alinhamento de cargos e funções,  reforço na relação entre educação e emprego e a necessidade de garantir que haja avanços em relação à noções sobre identidade, status, salários dos profissionais, não discriminação de gênero e desconstrução do exercicio do cuidar geralmente atribuído às mulheres, bem como a efetivação de políticas públicas e monitoramento e avaliação constante.

Em uma breve fala de contribuição, Valdyr Herdy Alves, presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO), questionou como as e os profissionais estão colocados nos serviços de saúde e mencionou o relatório O Estado da Obstetrícia no Mundo como “uma oportunidade norteadora para a discussão dentro do Conselho Federal de Enfermagem, dos Conselhos Regionais e da própria ABENFO”, além dos próprios cursos de especialização e aprimoramento em enfermagem obstétrica, que estão presentes em mais de 20 estados do Brasil.

 

 Fotos e texto: Midiã Noelle