Projeto apoiado pelo edital Nas Trilhas de Cairo promoveu palestras sobre violência de gênero, saúde e direitos reprodutivos para refugiadas e migrantes venezuelanas
Por Anaís Cordeiro
A associação Hermanitos é uma das 13 organizações beneficiadas pelo segundo edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). O edital é voltado para o fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil que trabalham com vários temas ligados ao mandato do UNFPA. Através do edital, e com ações voltadas para mulheres, a organização afirma que fortaleceu principalmente a expansão de parcerias com outras organizações e o relacionamento interpessoal com as beneficiárias.
A associação Hermanitos foi fundada em 2018 e atua em Manaus, capital do Amazonas, apoiando na integração de refugiados venezuelanos à sociedade brasileira. Os focos da organização estão na inserção digna ao mercado de trabalho, empreendedorismo, qualificação profissional e proteção através de uma rede socioassistencial.
A mobilização que originou a organização nasceu da sensibilização com o aumento da chegada de imigrantes venezuelanos em Manaus, e foi dialogando para entender seus desafios e demandas que a Hermanitos encontrou o seu principal propósito: contribuir para a dignidade através do trabalho. "A gente sempre trás o foco de que são pessoas extremamente qualificadas e que podem agregar para o nosso país.", diz Túlio Condé, co-fundador do Hermanitos.
Assim, a Hermanitos além de prestar assistência social para essa população que chega ao país em situação de vulnerabilidade social, realiza a mediação com empresas por oportunidades de inserção da mão de obra venezuelana como alternativa qualificada ao mercado de trabalho, apoia iniciativas empreendedoras para geração de renda, e oferece serviço de cadastro de currículos em um banco de dados criado pela organização.
Acolhimento que gera empoderamento
O projeto inscrito no edital do UNFPA tinha como objetivo promover o acesso à informação e serviços básicos de saúde sexual e reprodutiva para mulheres migrantes e/ou refugiadas e brasileiras em situação de vulnerabilidade social e violência de gênero. O objetivo era promover através de palestras o empoderamento feminino, qualidade de vida, o planejamento familiar e controle de HIV/AIDS e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Para o co-fundador do Hermanitos, Anderson Mattos, o fortalecimento institucional proporcionado pelo edital, se manifestou através de três aspectos: na percepção de que é necessário abordar temáticas relacionadas ao combate às violências baseadas em gênero em todas as ações da organização; nas parcerias estabelecidas com instituições de saúde, visando a superação da barreira do idioma em atendimentos médicos; e na condução da equipe venezuelana do Hermanitos no projeto.
"A experiência para nós foi muito enriquecedora e ter as mulheres venezuelanas da nossa equipe a frente da iniciativa, buscando sensibilizar essas mulheres, faz o projeto ganhar outra força.", comemora Anderson. Ele destaca que a relação de confiança estabelecida entre a equipe e as participantes foi fundamental para aumentar o público a cada encontro: "Não é uma questão de botar um card nas redes, é uma continuidade de você conversar, acompanhar, conhecer um pouco da história dessas mulheres e é isso que a equipe fez de uma forma que trouxe um diferencial para o projeto.", explica.
E essa mobilização atenciosa obteve resultados. O projeto contou com mais de 600 participações de mulheres ao longo de 20 palestras, quatro rodas de conversa, quatro consultorias vocacionais e dois workshops. E por trás dos resultados numéricos, a equipe do Hermanitos comemora as trocas construídas através das ações. Também imigrante venezuelana, a assistente administrativa da Hermanitos, Auriscar Aguilar, conta sobre como foi gerir o projeto e acompanhar de perto o despertar das participantes para os próprios direitos.
"Para mim atuar nesse projeto foi muito importante porque eu sou imigrante também. Se a gente não tem essas informações, por exemplo, sobre a Lei Maria da Penha, se a gente desconhece tudo nesse país diferente, a gente não consegue se proteger e orientar outras pessoas. E essas mulheres se tornaram multiplicadoras dos conhecimentos que passamos para elas. Muitas se identificavam nas situações de violências baseadas em gênero e conversavam com outras que estavam na mesma situação.", conta Auriscar.