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Após manter uma luta constante contra a LGBTIfobia, discriminação e a garantia de direitos em seu país, Riri, de 22 anos, relata ter “vivido com medo e sofrido abuso e agressão por ser diferente”. “Muitas vezes me perguntam se sou uma mulher transexual, e não sou. Sou uma pessoa  que não se identifica com nenhum gênero, e é isso que inquieta as pessoas”, explica. Hoje, Riri está no Brasil, depois de passar por aquilo que chama um turbulento caminho, fruto da crise econômica em seu país. Por aqui, conheceu o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que forneceu apoio e orientação sobre os direitos das pessoas LGBTI.

 

Riri tentou migrar por duas vezes. Na primeira vez, tomou a decisão de abandonar a universidade quando estava na fase final, cruzou a fronteira e chegou à cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela, Pacaraima, no começo de 2018. Em seu processo de chegada e regularização de documentos, recebeu a triste notícia de que seu pai havia falecido. Essa notícia fez com que voltasse novamente a seu país, momento em que finalizou os estudos. “Decidi ficar um pouco mais para concluir meu curso, senti que poderia conseguir, por mais difícil que fosse”, detalha. Em fevereiro de 2019, Riri graduou-se em Engenharia de Sistemas na Universidade Gran Mariscal de Ayacucho, na cidade de Bolivar, Venezuela. Com o diploma, não esperou muito tempo para tentar novamente prosseguir com seu processo migratório ao Brasil. 

 

Desta vez, as coisas estão diferentes. Riri chegou ao posto de triagem da Operação Acolhida em Pacaraima e conheceu o Espaço Amigável do Fundo de População da ONU, com o qual se identificou imediatamente e, segundo relata, encontrou uma compensação de tudo que vinha sofrendo até agora. “Vi a sala do UNFPA e me identifiquei naquele exato momento, havia informações sobre saúde sexual e reprodutiva, isso me impressionou, e as pessoas que estavam ali me receberam e me orientaram. “Foi uma luz no meu caminho”, comenta.

 

Riri recebeu orientação para dar continuidade a seu processo de regularização no Brasil e depois se transferir a Boa Vista, capital de Roraima. Nesta cidade, Riri foi recebida na casa de uma amiga, que a ajudou em sua chegada, e não demorou muito tempo para se dirigir novamente aos espaços de atenção do UNFPA, onde percebeu uma equipe diversa de pessoas com as quais poderia contar. 

“Me ensinaram muito sobre os direitos das pessoas LGBTI no Brasil, eu não tinha ideia porque no meu país isso não existe. Foi inspirador ter um apoio com o qual podemos contar”, comenta. 

Em Roraima, o Fundo de População da ONU tem uma atuação voltada para a promoção da saúde sexual e reprodutiva, para a prevenção e resposta à violência baseada em gênero e, claro, um olhar atento para os direitos humanos, referenciando para a rede e oferecendo respostas quando identifica situações de violações.

Hoje, Riri conseguiu avançar em seu processo de integração no Brasil e trabalha na monitoria da Cáritas Brasil, em um projeto de promoção de higiene, saneamento e acesso à chuveiros e máquinas de lavar roupa para pessoas em situação de rua. Seu depoimento é de vitória, apesar dos desafios. “Nada é impossível, se quer algo tem que trabalhar por isso. Sempre há pessoas que vão te ajudar, te dar um empurrãozinho, como foi o UNFPA para mim. Sempre há alguém para oferecer a mão. Não há que se render, tem que seguir tentando, porque é possível”, afirma.