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Nesta terça-feira (18) foi realizado o webinário Violências na família e meios de prevenção e teve a participação de especialistas como Carlos Aragão e Ailton de Souza

A rede protetiva de crianças e adolescentes de Foz do Iguaçu, Paraná, juntamente com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) realizou na última terça-feira (18) o webinário Violências na família e meios de prevenção. O evento teve como objetivo debater e buscar estratégias contra as violências sofridas por famílias durante a pandemia da Covid-19.

Durante o evento as pessoas convidadas compartilharam informações sobre os tipos de violências que podem ocorrer no espaço doméstico, e ferramentas para facilitar a identificação de relacionamentos abusivos nas relações familiares. Além de divulgar serviços de apoio e denúncia. O convidado Carlos Henrique de Aragão Neto, Doutor em Psicologia Clínica e Cultura, realizou uma reflexão a partir dos fatores de riscos e de proteção no ambiente familiar influenciado pela pandemia. 

“O nosso mundo ruiu no início da pandemia, e isso gera um luto coletivo com perdas simbólicas e concretas. Assim, o ambiente de isolamento está gerando uma série de complicações psicológicas, psíquicas e mentais que têm afetado a população nesse contexto de pandemia. E um dos resultados dessas complicações é o aumento das violências intra e interpessoais, principalmente focadas em mulheres, crianças e idosos”, analisou Carlos Aragão, Mestre em antropologia com especialização em Tanatologia. Aragão ainda indicou práticas para os cuidados ao enfrentamento de violências interpessoais como a busca por uma rotina, atividades físicas, e a regularização do sono.   

Por sua vez, Ailton de Souza Aragão, Mestre em Sociologia e Doutor em Ciências, fez um apanhado histórico sobre as formações de violências nas famílias brasileiras pontuando uma leitura desde a Saúde Coletiva.

“Olhar para o Brasil da pandemia é ver que desde 2016 temos regredido em políticas públicas de proteção integral. E particularmente, eu como negro e pesquisador, quando vejo o caso da menina capixaba de 10 anos, me dói e perco o sono. E esses acontecimentos não podem ser o novo normal. Portanto, os profissionais da assistência, saúde e educação precisam estar atentos e capacitados continuamente, mas isso não depende somente deles. Se não tivermos gestores com estratégias eticamente comprometidas, a população vai continuar adoecendo por diferentes violências vividas na sociedade”, falou Ailton Aragão, docente Departamento de Saúde Coletiva, Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Sobre o caso da menina de 10 anos, citado por Ailton Aragão, a ONU Brasil divulgou nota de solidariedade, cobrando iniciativas para apurar e processar, de acordo com o devido processo legal, o crime denunciado.    

A mediação do encontro foi realizado por Elis Maria Teixeira Palma Priotto. “Neste webinário podemos comemorar os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, e os 14 anos da Lei Maria da Penha. Mas o encontro de hoje mostrou também a necessidade de mais pesquisas, e investimento em saúde para entender as tendências que a pandemia trouxe e que amplificou vulnerabilidades”, avaliou Elis Priotto, Mestre em Educação pela PUC-PR, Doutora em Ciências/Saúde Pública, e docente do curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Ensino da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). 

O evento foi promovido em parceria entre UNFPA e a rede de proteção de Foz do Iguaçu que é composta por Itaipu Binacional, Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), Guarda Mirim, Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), Guarda Municipal de Foz do Iguaçu, e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Confira a transmissão:

 

Aumento dos casos de violências domésticas durante a pandemia 

Dentre as ações preventivas contra a contaminação da Covid-19 estão o isolamento e distanciamento social. Porém, essa prática benéfica também possibilitou o aumento de índices de feminicídios, trouxe dificuldades de acesso aos serviços de denúncia, e consequentemente a diminuição de concessão de medidas protetivas. O levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apurou que entre março e maio de 2020 houve um aumento de 2,2% nos casos de feminicídios registrados em comparação com o mesmo período de 2019 – foram 189 casos este ano, contra 185 no ano passado. Segundo o Fórum, apesar do pequeno aumento, as evidências apontam para um cenário onde, com acesso limitado aos canais de denúncia e aos serviços de proteção, diminuem os registros de crimes relacionados à violência contra as mulheres. 

Em abril, o UNFPA indicava que mundialmente 31 milhões de casos adicionais de violência baseada em gênero podem ser esperados no prolongamento do confinamento. Para cada três meses que a medida continuar, são esperados mais 15 milhões de casos adicionais de violência baseada em gênero.