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Seminário Internacional discute ampliação da dimensão racial em pesquisas de saúde mental

Seminário Internacional discute ampliação da dimensão racial em pesquisas de saúde mental

Seminário Internacional discute ampliação da dimensão racial em pesquisas de saúde mental

calendar_today 13 November 2015

São Paulo - O “Seminário Internacional sobre Avaliação da Qualidade da Atenção em Saúde de Populações Vulneráveis: Pessoas com transtorno mental, usuários de álcool e outras drogas e população negra" proporcionou momentos de reflexão dos (as) presentes durante a abertura, as conferências e as mesas de discussão realizadas na quinta-feira (12), primeiro dia de evento. A atividade que seguiu até a sexta-feira (13), na Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, teve como principal objetivo estimular a produção de conhecimento e estimula os grupos de pesquisa para que possam realizar debates públicos sobre o tema.

A Dra. Maria Amélia de Campos Oliveira, Diretora da Escola de Enfermagem da USP, destacou a intensão do seminário em discutir a saúde mental considerando a perspectiva racial, na medida em que temas tão importantes e fundamentais quanto, como gênero e geração, já estão sendo incorporados nas pesquisas. Além de ressaltar a “originalidade na proposta”, enfatizou que a atividade ocorre no âmbito da Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra e da Década Internacional de Afrodescendentes (2015 – 2024).

Elisa Lucas Rodrigues, coordenadora de políticas públicas para a população negra e indígena da Casa Civil, saudou a Década Afro e o Mês da Consciência Negra e colocou a atividade como um “marco para a saúde pública paulista, na implementação de uma política diferenciada considerando a diversidade étnica e racial”. A gestora destacou que “pensar em saúde é pensar em equidade, acesso a serviços e diminuição das desigualdades”. Segundo Elisa uma noção necessária para ser difundida por todos e todas gestores (as) do estado de São Paulo.

Para Margareth Angelo, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil Psiquiátrico, o espaço é “único para disseminação de conhecimentos e partilha de saberes”. “Que o evento faça emergir novas forças para o desenvolvimento de trabalhos e pesquisas”. E enfatizou completando que isso poderá contribuir para um ambiente acadêmico mais fértil e de parceria entre todos os envolvidos.

Sônia Barros, professora titular da Escola de Enfermagem e presidente do evento, contou o motivo da realização da atividade. Ela destacou que os grupos de pesquisas ao longo dos anos têm realizado pesquisas no âmbito da saúde mental na perspectiva da reforma psiquiátrica “com o rigor necessário e com paixão”, mas que é preciso “avaliar os serviços de saúde mental em diversas dimensões”. “Enfrentamos dificuldades em divulgar avanços e cumprir deveres acadêmicos e sociais de produtores de conhecimento sobre o tema”, disse ao ser referir a temática racial.

A professora ainda compartilhou a informação de que o censo dos hospitais psiquiátricos de São Paulo, realizado em 2008 revelou, entre outros resultados, que existem mais pretos e pardos residentes nessas instituições de saúde que brancos. “Evidencia-se a necessidade de avaliar a saúde mental a partir de indicadores, investir na formação de recursos humanos, criar factibilidade de indicadores numa perspectiva racial e divulgar o que já foi produzido em avaliação de saúde mental, nacional e internacional”.

Racismo: determinante social das condições de saúde
Fernanda Lopes, Representante Auxiliar do UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, realizou a conferência sobre direitos humanos, vulnerabilidade e saúde da população negra. Dentre os diversos temas explorados pela sanitarista destaca-se as violações dos direitos fundamentais provocadas pelo o racismo e suas suas implicações nas condições de saúde da população. Fernanda ilustra os contextos de vulnerabilidade acirrados na vigencia do racismo, com dados sobre mortes violentas entre mulheres e mortes maternas por causas preveníveis.

“Segundo o Mapa da Violência, lançado na semana passada, em 2013, dentre os homicídios cujas vítimas eram mulheres, aproximadamente 67% das vitimas eram negras. No período de 2003 a 2013 o número de homicídios de mulheres brancas caiu de 1.747 para 1.576, em 2013, ou seja observou-se uma queda de 9,8%.Entre as negras os homicídios aumentaram em 54,2% no mesmo período, passando de 1.864 para 2.875. Se utilizarmos as taxas como medidas, no mesmo período o Mapa nos mostra que entre os homicidios cujas vítimas foram mulheres brancas, houve uma queda de 11,9% (passou de 3,6/100 mil em 2003, para 3,2 em 2013). Para as mulheres negras a taxa de homicidios teve um aumento de 19,5%, passando de 4,5 para 5,4 por 100 mil”.

A mortalidade materna é uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável em mais de 90% dos casos. A maioria das mortes maternas ocorre por causas obstétricas diretas, aquelas que ocorrem por complicações obstétricas durante gravidez, parto ou puerpério devido a intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a uma cadeia de eventos resultantes de qualquer dessas causas. O alto índice de mortes maternas no país é um indicador das iniquidades em saúde.

“Os óbitos maternos tem cara, cor, idade, endereço! Dos 1.505 óbitos maternos investigados em 2013, 772 aconteceram entre mulheres de 15 e 29 anos, das quais 522 eram pretas e pardas. Estas mulheres morreram prioritariamente por eclampsia e pré-eclampsia, se tivessem tido um cuidado de qualidade no pre-natal e adequada atenção obstetrica de emergencia provavelmente nao teriam vindo a obito. Mortes que poderiam ter sido prevenidas. Situação inaceitável em especial porque 98.7% dos partos no Brasil ocorrem em ambiente hospitalar, e são feitos por profissionais capacitados”. Fernanda concluiu a sua apresentação convidando a platéia a refletir sobre sobre as práticas no cuidado em saúde, os processos de trabalho e sobre os esforços que estão sendo empreendidos para garantir que a saúde seja um direito humano fundamental exercido plenamente por todas as pessoas.
 

Texto de Midiã Santana/UNFPA Brasil