Astrid Bant participou de bate-papo sobre o Dia Mundial da Contracepção, organizado pelo Instituto Planejamento Familiar
“O acesso a métodos contraceptivos ainda é um problema no Brasil. Isso se evidenciou durante a pandemia, porque muitos serviços fecharam e o número de gravidezes não planejadas aumentou”, afirmou Astrid Bant, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em bate-papo sobre métodos contraceptivos realizado no dia 26 de setembro. O evento foi organizado pelo Instituto Planejamento Familiar (IPFAM) e marcou o Dia Mundial da Contracepção.
Também participou do debate a Dra. Albertina Duarte Takiuti que é médica ginecologista e Coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e chefe do Ambulatório de Ginecologia da Adolescência da USP, a fundadora do Grupo Mulheres do Brasil em Salvador, Ana Clara Polkowski, e a diretora de expansão do Grupo Mulheres do Brasil, Lilian Leandro. A mediação foi da jornalista Izabella Camargo.
No país, mais de 60% das gravidezes não foram planejadas, segundo pesquisa de 2022 realizada pelo IPEC, a pedido da Bayer e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Nesse contexto, o país ainda caminha com timidez na garantia de acesso a métodos contraceptivos. Parte dessa caminhada passa pelo projeto de lei que visa instituir o Dia Nacional do Planejamento Familiar, data que ainda não existe no calendário nacional. A mesma data, internacionalmente, evoca o Dia Mundial de Prevenção de Gravidez na Adolescência o qual invariavelmente ressalta que informações e evidências que facilitem o planejamento reprodutivo são importantes também nessa etapa da vida.
Em sua fala, a representante do UNFPA ainda destacou que a questão da gravidez não planejada não se limita à contracepção, mas também se relaciona a casos de abuso, especialmente na faixa etária entre 10 e 14 anos. “Temos que reconhecer que muitas relações nas quais meninas podem sair grávidas não são sempre de amor e respeito. Muitas dessas gravidezes, por definição entre 10 e 14 anos, são resultado de violência e abuso”, afirmou Bant. “Os homens devem ser educados em uma área bem ampla, incluindo o uso de preservativo em todas as relações. Mas para chegar a isso é preciso caminhar muito”.
A representante do UNFPA afirma que uma possibilidade é começar com programas nas escolas. “No Brasil as escolas no geral falham em tratar esse tema. É um tema da família, mas da sociedade também, porque sabemos que nos namoros tem muita violência. Surpreende que até em namoros entre pessoas jovens há esssa tendência e quando não se para no começo da vida sexual e afetiva, esse padrão de violência, de se exigir sexo a qualquer momento, sexo em momentos inoportunos, que pode chegar a causar gravidez não desejadas, esse padrão está começando a formar e acaba se perpetuando. É um desafio enorme, que vai além do uso de preservativo”.
A ginecologista Albertina Takiuti afirmou que o debate sobre contracepção deve estar presente em escolas, centros culturais, em toda a sociedade. “O Brasil é um todo. Precisamos de uma campanha nacional onde os meninos e meninas discutam. Temos aumento das ISTs, HPV, AIDS, e o único método que existe para esses casos é o preservativo. Ele tem que estar disponível e acessível, como se fosse uma prova de carinho”, defendeu.
A representante do UNFPA, Astrid Bant, ainda falou sobre como a gravidez não planejada afeta os países em desenvolvimento. “Mulheres e homens que têm filhos muito jovens têm seu desenvolvimento econômico e social afetado. Se você tem tempo de estudar e trabalhar antes de ter filhos, você consegue investir mais na sua vida e não só o indivíduo como a sociedade enriquecem mais. Isso é um dividendo populacional. Quando as pessoas têm filhos muito jovens, em geral tem uma trajetória econômica menos próspera, e inclusive seguem tendo mais filhos sem planejamento. Essa é uma das maneiras como afeta os países em desenvolvimento”.