Todas as 14 organizações da sociedade civil contempladas relataram aumento do impacto e alcance após apoio do Fundo de População da ONU. Projeto teve 95% de implementação
Por Fabiane Guimarães
O primeiro ano de implementação das ações do Edital Nas Trilhas de Cairo, iniciativa inédita do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) voltada ao fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil, está chegando ao fim. Com 95% de implementação, o edital forneceu apoio a 14 instituições de todas as cinco regiões do país, que já desenvolviam atividades ligadas ao mandato do Fundo de População da ONU. Cada uma recebeu R$ 56 mil em recursos para implementação de projetos visando o aperfeiçoamento de suas capacidades institucionais e comunicacionais. Os resultados apresentados até agora indicam que mais de 10,1 mil pessoas foram impactadas direta ou indiretamente pelo apoio.
Ao longo do percurso, o Fundo de População da ONU acompanhou de perto a implementação dos recursos e forneceu um ciclo de capacitações às organizações contempladas abrangendo aspectos operacionais e financeiros, bem como programáticos versando sobre a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), conhecida como Conferência de Cairo, o Consenso de Montevidéu e a Cúpula de Nairóbi. O objetivo era, além de fortalecer as organizações para continuarem sua importante atuação durante a pandemia da Covid-19, reforçar os compromissos firmados na Cúpula de Nairóbi, acelerando os esforços para a promoção da saúde sexual e reprodutiva, em defesa da equidade de gênero, do desenvolvimento dos potenciais da juventude e da garantia de direitos para todos e todas.
Considerada um marco, a Conferência de Cairo, realizada em 1994, promoveu uma mudança de paradigma ao colocar os direitos de todas as pessoas, especialmente as mulheres, no centro dos debates sobre desenvolvimento populacional. Na ocasião, os direitos reprodutivos, a equidade de gênero e o empoderamento das mulheres passaram a ser considerados elementos fundamentais para o bem-estar e das sociedades, estabelecendo um plano de ação inovador, que foi revisitado e reforçado no Consenso de Montevidéu e na Cúpula de Nairóbi.
De acordo com a representante auxiliar do Fundo de População da ONU, Júnia Quiroga, os resultados foram muito satisfatórios e permitiram também um importante intercâmbio de conhecimento entre as organizações. “Nós agregamos coletivos históricos, com renomada atuação, como a Rede Feminista de Saúde, a Cunhã e o Grupo Curumim, com outras organizações de fundação mais recente e que simbolizam o próprio Plano de Ação do Cairo sendo implementado na prática. Na média, mais acertamos do que erramos, e fizemos isso porque agregamos as instituições. Organizações com diferentes trajetórias se fortaleceram em rede, e nesse período o UNFPA inclusive foi convidado a interagir com elass em várias atividades que estavam para além do projeto de fortalecimento. Foi muito grato, ainda, constatar que o processo de fortalecimento viabilizou que as organizações tenham conseguido olhar para dentro e aprimorar-se nas capacidades de planejamento, mobilização de recursos e comunicação para os direitos humanos”, detalha.
Retorno positivo
Por meio de seus relatórios finais, as organizações relataram melhora de processos, de suas capacidades de gestão, planejamento e aumento do alcance do trabalho executado. “O apoio do edital foi importante para que neste começo de ano, mesmo em um contexto adverso de pandemia, tivéssemos estrutura de equipe para seguir o planejamento estratégico definido para os próximos três anos”, declarou a Revista AzMina, organização não-governamental voltada para a produção de conteúdo jornalístico em defesa da equidade de gênero e de pautas ligadas à saúde sexual e reprodutiva.
“O apoio possibilitou uma dedicação cotidiana na articulação e coordenação do atendimento oferecido bem como a alimentação do site e das redes sociais de forma continuada. Isso fortaleceu o atendimento, ampliou a visibilidade e alcance da organização”, relatou a organização Tamo Juntas, que oferece assistência jurídica a mulheres vítimas de violência baseada em gênero.
Para a Associação Beneficente Ilê Axé Ojú Onirê, que une arte, cultura e a defesa de direitos, o edital e seu ciclo de capacitações também abriu os olhos da organização sobre como seu trabalho estava vinculado a uma agenda inovadora. “Antes do edital, do projeto e das formações, não sabíamos que estávamos contribuindo para esta agenda tão importante e não apenas neste projeto, como também em outros: Rede de Economia Solidária, Grupo de Mulheres Ojú Elemí, Mulheres de Axé do Recôncavo, entre outros”, descreveu a organização.
Segunda edição
O edital Nas Trilhas de Cairo terá uma segunda edição, que teve as inscrições encerradas no último dia 3. Desta vez, serão investidos mais de R$ 500 mil em 11 organizações. Os resultados devem ser divulgados em breve.