Você está aqui

Uma experiência inovadora desenvolvida no Estado do Acre em plena floresta amazônica está unindo a saúde sexual e reprodutiva, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social, demonstrando na prática como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Agenda 2030, podem ser alcançados, “sem deixar ninguém para trás”. Trata-se da empresa de preservativos Natex, gerida pela Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), em Xapuri.

O empreendimento trabalha há oito anos exclusivamente na confecção de preservativos para o Ministério da Saúde. O grande diferencial é a matéria-prima, feita a partir de látex nativo extraído por métodos tradicionais por famílias de seringueiros, agregando proteção do meio ambiente e rentabilidade para a população que vive na floresta. Uma equipe do UNFPA esteve em Xapuri no último dia 8 para conhecer de perto a experiência.

Em um dia de pleno sol, a equipe percorreu toda a cadeia produtiva, desde a extração do látex, na floresta nativa, até a manufatura da matéria-prima – histórica para o Acre – em preservativos utilizados na saúde pública brasileira.

“O produto da Natex é único, é um diamante. Tem um valor intangível, difícil quantificar materialmente. São cerca 700 famílias que vivem de vender a borracha para Natex, gerando renda e mantendo a floresta preservada. É uma experiência que tem que ser mantida e, se possível, crescer”, afirma o representante do UNFPA no Brasil, Jaime Nadal.

A Natex busca agora novas alternativas de mercado e ampliação. Em reunião com a direção da Natex, a delegação do UNFPA analisou as possibilidades de parcerias e avanços para a empresa e o modo em que o Estado consegue conciliar evolução econômica e proteção à natureza e culturas tradicionais.flash secom acre SV 08 11 2016 7 1000x800

Dirlei Bersch, diretora executiva da Natex, explica que um comitê do governo do Estado busca alternativas de negócios, mas sempre com o olhar socioambiental em conjunto. “Estamos trabalhando em alternativas que compreendam mais modernidade, efetividade e a concretização da sustentação do empreendimento”, assegura a diretora.

“Esta atividade está em total sintonia com os princípios do Fundo de População, unifica os desenvolvimentos econômico, social e ambiental, acreditamos que essa é uma tríade que agrega muito valor a essa fábrica em Xapuri. O Fundo de População da ONU, que é o principal fornecedor, em escala global, de insumos de saúde reprodutiva para o setor público, tinha o interesse em saber mais como essas três dimensões foram incorporadas na produção dos preservativos pela Natex”, explica Jaime.

Ao final do encontro, as equipes do UNFPA e da Natex determinaram os próximos passos de construção da parceria. Três eixos serão analisados de forma mais aprofundada: realizar a pré-qualificação da empresa para participar de editais internacionais de fornecimento de insumos para saúde reprodutiva para os Estados-Membros da ONU, sob a responsabilidade da unidade de compras do UNFPA em Copenhagen; na via inversa, avaliar a aquisição internacional de insumos usados na fabricação dos preservativos, como lubrificantes, que permitam à Natex reduzir seus custos de produção; e a articulação de parcerias com grupos privados e governamentais que possa estar interessados em produtos com perfil de responsabilidade sócio-ambiental.

A cultura da borrachasecom acre SV 08 11 2016 24

Após a visita à fábrica, o grupo foi até o Seringal Rio Branco, dentro da Reserva Chico Mendes. A equipe do UNFPA ouviram de Raimundo Mendes, o Raimundão, líder e seringueiro que lutou ao lado de Chico Mendes, parte da história dos tempos de conflito até a presença positiva do Estado atualmente.

Apontando para a “cabrita”, equipamento de corte da árvore seringueira, Raimundão ilustra: “Esta aqui é a caneta do seringueiro”. Mesmo aos 72 anos de idade, Raimundão continua cortando e colhendo o látex, sendo uns dos mais de 700 seringueiros que fornecem para a Natex atualmente. “Existe um ditado que diz: ‘não se constrói nada se não houver luta’. Hoje, finalmente, estamos em um momento de desfrutar. É triste que companheiros como Chico Mendes e Wilson Pinheiro, não estão mais conosco para ver essa nova realidade que vivemos”, relata o seringueiro.

 

Texto com informações da Secom

Fotos: Sérgio Vale/Secom