Oportunidades são oferecidas pelo programa Moverse em parceria com organizações e entidades ligadas à Operação Acolhida, tanto para mulheres que pretendem ficar em Roraima quanto para as que esperam pela interiorização
Se durante a pandemia de Covid-19 os cursos voltados para o mercado de trabalho precisaram ser restritos a um número pequeno de pessoas, em 2023 eles voltaram com força total. De cuidadoras de crianças a operadoras de caixa, logística e empreendedorismo, as possibilidades são muitas para mulheres refugiadas e migrantes que vivem em Boa Vista (RR) e querem conquistar um novo emprego ou até mesmo construir o próprio negócio.
As capacitações são oferecidas pelo programa Moverse, implementado conjuntamente pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ONU Mulheres e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o apoio do Governo de Luxemburgo. Os cursos são ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e realizados em parceria com órgãos públicos e diversas organizações da sociedade civil, como o Centro de Capacitação e Educação da Operação Acolhida (cogerido com a AVSI), a Casa da Mulher Brasileira, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), e a Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI).
Yermanys está há 4 meses morando no Brasil e já conseguiu fazer quatro cursos que a capacitam para o mercado de trabalho. O mais recente foi o de operadora de caixa. Agora, ela espera encontrar uma nova colocação. “Participar do curso de operadora de caixa foi uma experiência totalmente nova. Eu aprendi muitas coisas, como identificar notas falsas, passar cartão de crédito e débito, e isso me deixa mais preparada para o mercado. Essa oportunidade abre muitas portas para nós”, afirma.
O curso realizado por Yermanys foi um dos oferecidos em parceria com o Centro de Capacitação e Educação da Operação Acolhida e conduzidos pelo Senac Roraima. Entre março e abril, também foi realizado o curso de Técnicas de Cuidado Infantil, que formou 20 mulheres, entre elas, Glória. Há três anos no Brasil, essa foi a primeira vez que ela realizou um curso de qualificação. Na Venezuela, Glória era dona de um pequeno comércio, então, o curso está sendo uma possibilidade de trabalhar em algo diferente da sua área. “No curso de cuidado infantil, eu consegui aprender muitas técnicas importantes, pois o cuidado com bebês e crianças é muito delicado. Tenho filhos, netos, e isso pra mim é uma oportunidade que pode garantir um bom emprego no futuro, pois tenho um certificado que me qualifica para isso”, comemora.
Para o Comando da Operação Acolhida, os cursos oferecidos reforçam o compromisso da integração socioeconômica da população refugiada e migrantes venezuelana no Brasil. "A missão humanitária investe na capacitação e educação profissional dos beneficiários, sempre os conscientizando em relação a deveres e direitos trabalhistas em nosso país", ressaltou o comando por meio de nota. "A Operação Acolhida sente-se honrada em participar desta importante ação e está sempre disposta a contribuir com projetos que venham ao encontro deste propósito.”
Variedade e maiores possibilidades – Em apenas dois meses, serão 160 certificados entregues a mulheres que buscam uma nova oportunidade de trabalho e renda no Brasil. As capacitações oferecidas pelo Moverse por meio de professoras e professores do Senac também contaram com a parceria do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, para o curso de Empreendedorismo, e da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), para os cursos de Técnicas Básicas de Panificação, Formação Básica em Confeitaria e Preparo de Salgados. Em abril e maio, a parceria com a Casa da Mulher Brasileira oferece os cursos de Cuidados Básicos com Idosos e de Técnicas no Cuidado Infantil para mulheres venezuelanas e brasileiras.
Para a diretora regional do Senac Roraima, Fernanda Paula Barbosa, além da oportunidade de empregabilidade e qualificação profissional, os cursos oferecem a possibilidade de ultrapassar barreiras e de garantir a autonomia dessas mulheres. “Para a gente é muito importante essa parceria, pois o Senac tem o propósito de trabalhar com a educação profissional no sentido de trazer uma melhor qualificação e ajudar, para que essas mulheres consigam ingressar no mercado de trabalho", afirma. "Os cursos oferecidos são voltados para diferentes eixos que abrangem desde a saúde, gestão, gastronomia, comércio e empreendedorismo”, completa.
Rosaura está no Brasil há cinco anos e, desde então, busca aliar sua experiência com alguma alternativa de renda. Na Venezuela, ela foi trabalhadora doméstica por 15 anos, e não conhecia técnicas relacionadas à panificação. Em março, ela foi uma das 20 mulheres que receberam o certificado de Técnicas Básicas de Panificação, em uma turma formada apenas por mulheres indígenas, de diferentes etnias.
“Como gosto de trabalhar na cozinha, esse curso chamou minha atenção. Me sinto muito feliz de estar aqui, compartilhando com as companheiras, mais que tudo com a professora”, ressalta. “Tenho experiência de cozinha na Venezuela, e quero aprender mais aqui no Brasil. Quero aprender tudo de padaria. Temos que aproveitar as oportunidades que estamos tendo", completa. Com o que aprendeu no curso, ela pretende iniciar a produção e venda de pizzas e, assim, incrementar a renda da família.
Confira no vídeo a seguir um pouco mais sobre os cursos oferecidos:
Sobre o Moverse – Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto MOVERSE – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ONU Mulheres e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o apoio do Governo de Luxemburgo. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. E a terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta da migração e refúgio de mulheres no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa.