“A presença da ONU Brasil no Aty Kuña expressa o compromisso das Nações Unidas em aprofundar o trabalho com as mulheres indígenas e de elaborar um plano de emergência frente ao agravamento da situação relatada pelas lideranças indígenas”, disse Nadine.
A ONU Mulheres Brasil, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio) e o Departamento de Salvaguarda e Segurança da ONU (UNDSS) participaram do Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia das mulheres Kaiowá e Guarani. O encontro aconteceu de 18 a 22 de setembro, no Tekohá Kurusu Amba, no município de Coronel Sapucaia, no estado de Mato Grosso do Sul – divisa entre o Brasil e o Paraguai.
A assembleia é o principal ato político do calendário de mobilização das mulheres Kaiowá e Guarani. Na sua quinta edição, o Kuñangue Aty Guasu reuniu cerca de 300 participantes.
A presença da ONU no Kuñangue Aty Guasu se deu no contexto de demandas e denúncias dos povos indígenas, enviadas, nos últimos dois anos, ao Gabinete do Coordenador Residente do Sistema ONU no Brasil, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e à ONU Mulheres.
Há cerca de um mês, em reunião na Casa da ONU, as guarani-kaiowá reiteram a importância da participação de delegação ONU Brasil no Kuñangue Aty Guasu para conhecer de perto a situação de violação de direitos humanos por que passam os povos indígenas em aldeias e áreas de retomada.
Na ocasião, as mulheres indígenas relataram problemas crônicos: fome, miséria, violência, feminicídio, homicídios, desaparecimento de corpos e perseguição. De acordo com as lideranças, as situações comprometem normativas internacionais, a exemplo da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que completou dez anos, neste mês, e já tinham sido identificadas na última missão de relatoria especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, em 2016.
“A presença da ONU Brasil no Aty Kuña expressa o compromisso das Nações Unidas em aprofundar o trabalho com as mulheres indígenas e de elaborar um plano de emergência frente ao agravamento da situação relatada pelas lideranças indígenas”, disse Nadine.
No encontro, as guarani-kaiowá entregaram para a ONU Brasil documento de reivindicação em que destacam: “Nós mulheres, Guarani e Kaiowá, estamos vendo nossas terras sendo devastadas enquanto o que resta para nós são as beiras de rodovias ou as reservas superlotadas para viver com nossas crianças. Por isso, pedimos a demarcação de nossos Tekohas (Terra tradicional sagrada), para vivermos em paz com nossas crianças, em nossas casas, ter o nosso pedacinho de roça, preservar a natureza e assim viver o nosso Teko (modo de ser)”.
A carta acrescenta: “Diante de todo este retrocesso que acontece com os direitos do nosso povo, das mulheres indígenas na atual conjuntura política brasileira, viemos através da V Kuñangue Aty Guasu (Assembleia das Mulheres Kaiowa e Guarani), exigir que os nossos direitos sejam respeitados e garantidos”.
Voz das Mulheres Indígenas
A parceria entre as mulheres indígenas e a ONU Mulheres Brasil começou com um projeto de enfrentamento ao tráfico de meninas e mulheres com as mulheres Guarani e Kaiowá.
Um dos resultados mais expressivos da parceria ocorreu, em 2015, por meio de consulta a um grupo mais amplo de mulheres indígenas para definir qual seria a demanda prioritária, para além do enfrentamento à violência.
A partir disso, a ONU Mulheres expandiu sua atuação com mulheres indígenas e passou a trabalhar com um grupo de multiplicadoras de 22 povos diferentes das cinco regiões do Brasil.
Desde 2015, a ONU Mulheres apoia o projeto Voz das Mulheres Indígenas, voltado ao empoderamento político e a elaboração de pauta comum para incidência política.
Realidade documentada
Durante o Kuñangue Aty Guasu, a ONU Brasil produziu documentário para visibilizar as realidades das mulheres indígenas. A produção é realizada pelo Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da ONU Brasil, em parceira com o Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio) e apoio da Embaixada do Canadá.
O documentário registrará a história do empoderamento político e de ampliação dos espaços de articulação e participação das mulheres indígenas, destacando como elas estão construindo a sua incidência política no Brasil e no exterior.