A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. O adolescente negro tem quase três vezes mais chances de morrer do que um adolescente branco. Uma menina negra, por sua vez, tem 2 vezes mais chances do que uma menina branca. Os dados foram lembrados hoje pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) a uma plateia jovem e curiosa, formada por estudantes do Centro Educacional do Itapoã (CED 01). A oficial de programa para gênero e raça do UNFPA, Rachel Quintiliano, foi a responsável por coordenar debate sobre a relação entre racismo e violência contra as juventudes negras.
A atividade fez parte do lançamento do Projeto Onda, uma iniciativa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que lançou dentro da escola uma campanha de enfrentamento ao racismo com foco no ambiente escolar e na comunidade. Além de atividades como a que contou com a participação do UNFPA, houve apresentação de grupos musicais e oficinas de grafite.
Com uma linguagem acessível e didática voltada aos adolescentes, Rachel relembrou todo o processo histórico, o tráfico de pessoas escravizadas e as especificidades que fazem com que o racismo, por vezes, seja tão enraizado na sociedade, a ponto de não ser enxergado. Ela lembrou que, de acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco”.
“Existe um processo de tornar a morte dos jovens negros invisível. Entendendo o processo histórico é possível perceber persiste a ideia de que a morte de um jovem negro parece ser menos importante. Nem jovem deveria morrer. Todos e todas deveriam aproveitar ao máximo seu potencial, inclusive as juventudes negras”, concluiu.
Vidas Negras
Dar visibilidade ao tema, de modo a mobilizar toda a sociedade para observar os impactos impactos do racismo na trajetória das pessoas negras estão entre os objetivos da campanha Vidas Negras, lançada no ano passado pelo Sistema ONU Brasil. A campanha também foi apresentada aos estudantes.
Ao fim da oficina, as participantes puderam fazer encaminhamentos sobre formas de combater o racismo dentro do ambiente escolar e na sociedade. "Nós somos educados achando que o negro tem que ser rejeitado. Crescemos até mesmo com a educação de que não somos negros. Gostaria que nós tivéssemos mais atividades para que as pessoas saibam que ser negro é legal", refletiu a aluna Tamara Rodrigues, de 16 anos.
"Dentro de casa, às vezes nossos próprios pais nos dizem: você não é negra, você é morena clara. Assim, temos a gente encontra dificuldade para entender essa questão e reconhecer que somos negras”, completou Mirellem Maria, 16 anos.