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O projeto já trouxe um investimento total de R$1,5 milhão para fortalecer a saúde no Arquipélago do Marajó e ofertou mais de 5 mil consultas de telemedicina, em três anos de atuação

Lediane Porto é secretária de saúde de Cachoeira do Arari, município do Arquipélago do Marajó, no Pará, com aproximadamente 24 mil habitantes. O índice de desenvolvimento humano (IDH) municipal é considerado baixo: 0,546, de uma nota máxima de 1,00. Diante de desafios de logística, acesso a insumos e saneamento básico, fazer a gestão municipal não é fácil. Para apoiar nessa tarefa, há três anos é realizado o projeto Saúde das Manas, focado no fortalecimento da saúde das mulheres do arquipélago.

Em Cachoeira do Arari, por exemplo, a própria geografia demanda expertise da gestão para desdobrar as dificuldades. Com cenário composto tanto por paisagens ribeirinhas, à beira do rio, quanto por fazendas, é preciso ter uma diversidade de transportes à disposição e um conjunto de técnicas específicas para cada localidade. Soma-se a isso o fato de que falta informação qualificada sobre direitos sexuais e reprodutivos, por exemplo, e que muitas vezes é preciso direcionar os pacientes para outras cidades para poderem se consultar com especialistas. Além de demorado, os deslocamentos dentro do Marajó geralmente demandam custos altos. Dependendo da cidade, a locomoção pode levar mais de 12h, dentre barcos, lanchas e motocicletas.

O mesmo acontece quando o município precisa adquirir insumos de saúde. "A gente tem um desafio muito grande em ser secretário de saúde do Marajó e o Saúde das Manas fortalece o nosso trabalho, trazendo para as marajoaras a dignidade da assistência à saúde", declarou Lediane, em um evento comemorativo do projeto realizado em Belém, capital do Pará, em 12 de dezembro. Estavam presentes gestores de saúde dos municípios do arquipélago, representantes da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (SESPA) e equipe do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/PA), dentre outros parceiros da iniciativa.


Da esquerda para a direita: Nair Souza (Oficial de Programa para Segurança de Insumos em Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA Brasil), Jucineide Alves Barbosa (presidente do COSEMS-PA), Florbela Fernandes (representante do UNFPA Brasil), Wellington Melo (Vereador do município de Soure), Andréia Xarão (deputada estadual) e Elienai Barros (Vereadora do município de Anajás).Foto: UNFPA Brasil/Mariana Almeida.

Mais de R$ 1,5 milhão investidos na qualidade de vida das mulheres

O Saúde das Manas nasceu durante a pandemia de covid-19, em agosto de 2020, fruto de uma parceria entre o UNFPA Brasil e o Cosems/PA. O objetivo central era garantir que, mesmo nesse contexto, as mulheres não deixassem de ter seus direitos sexuais e reprodutivos garantidos. Desde então, o projeto vem enfatizando uma mensagem crucial: a criação de uma sociedade onde mulheres, jovens e adolescentes possam ter acesso às informações necessárias para fazer escolhas conscientes e informadas.

"O Saúde das Manas nos traz a reflexão sobre a missão do UNFPA no Brasil e no mundo, que é tornar realidade de que toda gravidez seja desejada, cada parto seja seguro e que o potencial de cada pessoa jovem possa ser realizado", destacou no evento Florbela Fernandes, representante do UNFPA Brasil e Diretora de País para Uruguai e Paraguai.

Com um investimento total de R$1,5 milhão até o momento, o projeto alcançou um marco de sucesso ao proporcionar mais de 5 mil consultas de telemedicina no Arquipélago, cobrindo mais de dez especialidades médicas. Essa iniciativa possibilitou que várias mulheres tivessem, pela primeira vez, acesso a consultas com ginecologistas.


Da esquerda para a direita: Ana Paula Oliva Reis, representando o Diretor do 8º Centro Regional de Saúde (SESPA); André Brasa, Diretor em exercício do 7º Centro Regional de Saúde (SESPA); Jucineide Alves Barbosa, presidente do COSEMS/PA, e Florbela Fernandes, representante do UNFPA Brasil. Foto: UNFPA Brasil/Mariana Almeida.

Nova fase foca em parcerias

"O Saúde das Manas vem nesse próximo triênio [2023-205] com várias expectativas com o objetivo de fortalecer as políticas públicas, de facilitar o acesso dessas mulheres aos serviços de saúde, de zerar a morte materna e diminuir a gravidez na adolescência", informa Jucineide Barbosa, presidente do Cosems/PA e secretária de Breves, no Marajó.

Para o futuro do projeto, o foco será em promover a sustentabilidade e atrair novos parceiros, visando melhorar os indicadores de saúde e expandir o alcance para além do Marajó. Esta estratégia tem grande potencial para diminuir desigualdades e assegurar direitos, com uma atenção especial à saúde e bem-estar de adolescentes e mulheres.

A iniciativa pretende construir uma ampla plataforma de aliados para apoiar os desafios da saúde sexual reprodutiva no Marajó, bem como o seu escalonamento para outras regiões vulneráveis, por meio de investimento em informação, educação e capacitações para profissionais de saúde, dentre outras atividades. 

Sobre o Saúde das Manas

Há mais de três anos, o projeto vem somando esforços na garantia de uma saúde de qualidade para mulheres em idade reprodutiva do Arquipélago do Marajó, por meio da telemedicina, da doação de métodos anticoncepcionais e preservativos, de equipamentos de proteção individual e da entrega de kits de dignidade para mulheres grávidas e no pós-parto. Além disso, o projeto se destaca na promoção de informações sobre saúde sexual e reprodutiva, utilizando recursos como podcasts, mídias sociais, vídeos com acessibilidade em Libras, um website dedicado ao tema, entre outras iniciativas.

Hoje, está presente em 14 municípios: Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Muaná, Portel, Ponta de Pedras, Salvaterra, Soure e Santa Cruz do Arari.