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A nova representação do UNFPA assume o Escritório de País em um importante momento. Entre as particularidades de sua população, o Brasil conta com mais de 52 milhões de pessoas jovens e 105 milhões de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas. Os números significativos ressaltam a necessidade do trabalho do UNFPA para garantir os direitos dessas pessoas.

O novo Representante do UNFPA, Jaime Nadal Roig, fala sobre suas expectativas e desafios em relação ao país. Confira a entrevista.

Jaime Nadal: O Brasil realizou enormes avanços nas principais áreas de trabalho do UNFPA, tais como saúde sexual e reprodutiva, educação e políticas para adolescentes e jovens, igualdade e equidade de gênero, de raça e étnica. Da mesma maneira, a projeção da experiência alcançada pelo Brasil resulta em um banco de evidências genuíno para o Sul do mundo, por isso deve continuar a projetar a riqueza desta experiência para que outros países e outras regiões possam avançar da mesma forma. As políticas iniciadas nos últimos anos já estão mostrando resultados significativos, como se observa na grande maioria dos indicadores sociais do país.

No UNFPA, temos confiança que estes resultados podem se sustentar e esperamos continuar nossa parceria com o governo, a sociedade civil, a academia e com a comunidade brasileira em geral.

Além dos temas mencionados anteriormente, quais outras prioridades merecem ser destacadas no plano de trabalho do escritório de país?

JN: Neste momento estamos realizando a avaliação do nosso programa de cooperação no Brasil, com a perspectiva de iniciar uma priorização de nossas intervenções no futuro. Ainda não temos as conclusões, mas acreditamos que existam fatores estruturais que passaram por grande progresso e, por outro lado, também existem aqueles que ainda precisa ser mais trabalhados. Me refiro em particular a inequidade e a desigualdade por raça, etnia e gênero. Esses fatores podem por sua vez afetar questões como, por exemplo, a saúde materna, em que o país atingiu um avanço inegável e fundamental, mas onde há uma agenda pendente na qual podemos ir mais longe, abordando os determinantes sociais estruturais a que me referi.

O senhor tem uma longa e notável trajetória profissional desde seu ingresso nas Nações Unidas. O que destacaria como relevante para este novo desafio no Brasil?

JN: O Brasil é meu quinto destino nas Nações Unidas, depois de ter servido no Egito, na Bolívia, na Jamaica e na Sede, em Nova York. Durante os últimos 20 anos pude trabalhar em diferentes contextos e apreciar diferentes abordagens adotadas pelos países para enfrentar seus desafios nas áreas de desenvolvimento social e econômico e direitos humanos, incluindo sempre as questões relacionas a população e seu vínculo com o desenvolvimento em geral. As questões de população não são neutras ao desenvolvimento, mas sua abordagem deve ser intersetorial, integrando saúde, educação, meio ambiente, emprego e políticas de igualdade de gênero e empoderamento da mulher, assim como adolescentes e jovens.

Além da minha experiência pessoal, creio que é importante destacar o acervo, a capacidade e a trajetória do UNFPA e seu pessoal no Brasil e no resto do mundo como uma ativo posto a serviço do Brasil e do Sul global para avançar nessas áreas, junto ao resto das agências, fundos e programas das Nações Unidas.

Qual parece ser o maior desafio para o trabalho do UNFPA no Brasil?

JN: Preservar e sustentar os grandes alcances realizados pelo país nestes últimos anos é fundamental. Para o UNFPA, desenvolver um relacionamento com o Brasil que seja relevante e de impacto é também um desafio. O Brasil é um país de dimensões continentais e com expectativas muito altas em relação ao nosso trabalho. Estar à altura das mesmas requer uma parceria muito estreita, sobre uma base de objetivos muitos estratégicos, com o país. Esperamos, com grande interesse, a oportunidade de iniciar os contatos para formalizar uma parceria estratégica com foco no programa de país 2017-2020.

O que o senhor busca pessoalmente ao trabalhar para o Fundo de População das Nações Unidas?

JN: Principalmente fazer avançar o mandato das Nações Unidas e do UNFPA, em particular, para que cada gravidez seja desejada, cada parto seja seguro e cada pessoa jovem alcance seu potencial. Por trás de cada uma dessas afirmações existe uma visão de avançar nos direitos humanos, no desenvolvimento sustentável e no bem-estar em condições de igualdade, equidade e não discriminação.

O novo Representante do UNFPA tem feito reuniões, desde julho, com importantes órgão do governo a fim de apresentar a nova gestão do Escritório de País e alinhar as prioridades entre o Fundo e o país. Confira na galeria os registros de alguns dos encontros.

Texto: Gabriela Borelli/ UNFPA Brasil