Na semana em que se comemorou o Dia Mundial da Saúde, o UNFPA Brasil intensificou as suas ações nos estados da Bahia e Pernambuco para apoiar mulheres em idade reprodutiva e suas famílias em tempos de surto do zika vírus. Na terça-feira (5), Jaime Nadal, Representante para o país, esteve em Salvador para se reunir com as redes e organizações da Sociedade Civil que compõem o grupo de trabalho das ações locais e também com o Secretário de Saúde (Sesab), Fábio Vilas Boas e a Secretária de Políticas para as Mulheres (SPM), Olivia Santana, no intuito de contribuir, a partir da expertise e capacidade técnica da agência, nas iniciativas em construção e/ou desenvolvidas pelos órgãos em saúde reprodutiva e direitos das mulheres no contexto da epidemia do mosquito Aedes Aegypt e suas arboviroses.
Não à estigmatização das mulheres
Em conversa com Olivia Santana, o Representante do UNFPA destacou a preocupação da instituição com uma possível “culpabilização” das mulheres no contexto do zika. “As mulheres podem acabar sendo estigmatizadas diante da contração do Zika, devido à percepção social de que a mulher estaria contaminada”, disse preocupado. Nadal destacou ainda que a epidemia é um reflexo das iniquidades. “O surto afeta mais alguns grupos sociais do que outros. E é consequência das iniquidades na saúde pública e falta de saneamento adequado”. Ele completou falando sobre a importância da comunicação e mobilização social nas áreas afetadas para orientar e dar suporte a todos e todas, mas, sobretudo mulheres e jovens.
A Representante Auxiliar do UNFPA, Fernanda Lopes, em complemento a fala de Nadal, trouxe ainda que “o grande desafio da Bahia e do país é colocar também na centralidade da discussão, não apenas o vetor (o mosquito), mas as vozes das mulheres que são as mais afetadas diretamente. A iniciativa do UNFPA busca também a construção e fortalecimento de uma rede de apoio. As mulheres precisam estar preparadas nas comunidades”.
Olivia Santana destacou o interesse da SPM/BA em trabalhar em conjunto e em complemento à iniciativa com a sociedade civil e ressaltou o que considera um problema para o avanço da promoção de direitos: o conservadorismo. “É um entrave para a vida das mulheres, que já são prejudicadas, mas nesse contexto estão renunciando suas vidas para viver a vida das crianças. Precisamos pensar na redução dos impactos na vida delas considerando esse novo fenômeno: está nascendo uma população/geração com microcefalia”.
Saúde nas escolas: orientação adequada para jovens
O Secretário de Sesab destacou que o órgão estadual está realizando um “trabalho de massa para o controle vetorial”, mas que ainda precisa fazer um investimento maior na orientação sobre saúde, de forma adequada, nas escolas, sobretudo com adolescentes e jovens, que é de responsabilidade do Governo do Estado. “Temos o projeto saúde nas escolas onde é possível atingir esse público. Mas precisamos de uma ação continuada”, destacou.
Sesab e UNFPA reunidos no Gabinete do Secretário Fábio Vilas Boas
O UNFPA compartilhou com a Secretaria de Saúde que o objetivo é investir e somar esforços as ações feitas no estado, apoiando assim a força de trabalho em saúde e a gestão de cuidado no ciclo de vida. O Fundo de População destacou que, ao investir nos usuários e nas usuárias, contribui nos processos de educação continuada para os processos de trabalho e que a mobilização a nível local e comunitário é importante para que as mulheres tenham informações de qualidade e possam tomar suas decisões no âmbito sexual e reprodutivo da melhor forma. Na reunião também estiveram presentes Liliane Mascarenhas, Diretora de Gestão e Cuidado e Pablo Barbosa, Assessor de Comunicação da SESAB, assim como o Dr. Manoel Barral, Diretor da Fiocruz na Bahia, que reforçou que a “a Fundação Oswaldo Cruz também está focada de que a abordagem não deve ser apenas no mosquito”.
Mobilização nas comunidades
Finalizando o dia, o UNFPA esteve reunido com s redes e organizações da Sociedade Civil parceiras na sede da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (Cese), entidade implementadora do projeto idealizado pelo UNFPA Brasil com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e financiado pelo Governo do Japão e o Fundo Global para Emergências do UNFPA. O objetivo deste primeiro encontro foi reunir as entidades participantes na Bahia e iniciar o processo de planejamento das iniciativas de comunicação e mobilização social a nível comunitário com foco no acesso à informação sobre o zika e seus efeitos sobre a saúde das mulheres, com enfoque em direitos e planejamento voluntário da vida.
Nas datas 17 e 18 de março, o UNFPA também se reuniu com as organizações da iniciativa de Recife (PE). O encontro na sede da ONG Gestos: Soropositividade, Comunicação e Gênero, teve o intuito de definir os caminhos para as ações de advocacy e incidência política nos territórios.
Estão envolvidos nos dois estados: Grupo Curumim; Gestos: soropositividade, comunicação e gênero; Mirim Brasil - Movimento Infanto-juvenil de Reinvindicação; SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia; Coletivo Mangueiras; Uyala Mucaje - Organização de Mulheres Negras de Pernambuco; Instituto Odara; Coletivo Mangueiras; Mulheres do Calafate; Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe; Flores de Dan; Força Feminina e Rede Feminista de Saúde.