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A professora venezuelana Asia Jiménez, 27 anos, tentou chegar ao Brasil três vezes enquanto a fronteira com a Venezuela estava fechada. Nas duas primeiras ocasiões, ao lado do marido e dos filhos pequenos, de 5 e 2 anos, eles foram roubados, perderam seus pertences e foram impedidos devido à estrutura que fechava a fronteira. Na terceira, após dois dias de caminhada pelo mato alto e montes arenosos, foram encontrados por indígenas que vivem na região, que os ajudaram a, finalmente, chegar em solo brasileiro. Asia insistiu em chegar por um motivo. “Era o meu bebê”, ela explica. “Eu quase o perdi.”

 

Na Venezuela, Asia contraiu uma infecção durante a gravidez, não tratada corretamente pela ausência de medicamentos, e a infecção atingiu a criança, que começou a apresentar febre e a ter convulsões logo após nascer. “No hospital, morria bebê após bebê. Não havia médicos. Não havia remédios. Gastamos todo o dinheiro que tínhamos para pagar um especialista para tratar meu filho em casa, mas ele seguiu apresentando febre. Ele tinha convulsões nos meus braços. Vomitava. Vinha a febre, não havia medicamentos. Foi por isso que decidimos sair”, resume.

Logo que chegou a Pacaraima, Roraima, a mulher foi atendida pela equipe do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que encaminhou seu filho para a rede pública de saúde local. Com o tratamento adequado, as febres cessaram, e a criança aguarda a consulta com um neurologista para verificar o motivo das convulsões. Não era apenas o filho que necessitava de atendimento, contudo. Por meio de uma escuta sensível, os especialistas do Fundo de População das Nações Unidas perceberam que Asia também precisava de atendimento.

Ao falar com os profissionais do UNFPA, as mãos de Asia tremiam. Suas unhas estavam quase completamente roídas. Ela não conseguia parar de chorar. “Foi só por meio da ajuda dessa equipe que fui diagnosticada com depressão e ansiedade generalizada, por tudo que me aconteceu”, explica. “As pessoas do Fundo de População das Nações Unidas me ajudaram muito, com rodas de conversa, com um lugar onde eu pudesse falar. Estou muito grata por toda ajuda”, resume.

A professora não pretende regressar à Venezuela. Ela e a família conseguiram uma vaga em um dos abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista e agora estão na fila por uma oportunidade de interiorização. “Só espero me recuperar, e que meus filhos cresçam bem”, afirma.