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História de violência: 16 objetos mostram a realidade da violência baseada em gênero no mundo

História de violência: 16 objetos mostram a realidade da violência baseada em gênero no mundo

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História de violência: 16 objetos mostram a realidade da violência baseada em gênero no mundo

calendar_today 24 November 2017

A família de Tatiana, na Ucrânia, foi destruída pelos abusos do marido. Ele já se foi, mas ela e as seis crianças ainda tentam reconstruir a vida. "As crianças - eu vivo por elas", disse Tatiana ao UNFPA (Foto: UNFPA Ukraine/Maks Levin)
Neste sábado, 25, inicia em todo o mundo a campanha anual de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Baseada em Gênero. No Brasil, o lançamento aconteceu um pouco mais cedo, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, para lembrar que as mulheres negras brasileiras são as principais vítimas deste tipo de agressão. Como parte da iniciativa global, o UNFPA apresenta 16 fotografias de objetos que estavam em situações de violência. 
 
“Isso é o que sobrou dos meus dentes depois que meu marido bateu em mim”, conta Ameera* em um abrigo para mulheres no sudoeste do Iêmen. Ela segura três estilhaços brancos, que ela guarda como evidência para o processo de divórcio. “Ele me bateu tão forte que quebrou meus dentes e meu nariz”, ela falou ao UNFPA.
 
A violência contra mulheres e meninas é o desrespeito contra os direitos humanos mais penetrante no mundo – afeta todos os países e todas as comunidades. Uma em cada três mulheres vai passar por alguma forma de abuso ao longo da vida. Desde outubro, milhões de mulheres em mais de 80 países compartilham testemunhos de assédio, agressão e terror – e isso é só um vislumbre dentro da horrível magnitude do problema.
 
Neste sábado, 25 de novembro, inicia em todo o mundo a campanha anual de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Baseada em Gênero. A iniciativa começa no dia 25, Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, e termina em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. No Brasil, o lançamento aconteceu um pouco mais cedo, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, para lembrar que as mulheres negras brasileiras são as principais vítimas deste tipo de agressão.
 
Como parte da iniciativa global, o UNFPA apresenta 16 fotografias de objetos que estavam em situações de violência. Esses artefatos variam de objetos que testemunharam atos mudos de brutalidade a itens usados como armas contra mulheres e meninas. Eles também incluem lugares onde as mulheres buscaram refúgio e onde homens buscaram a redenção.
 
Junta, essa coleção oferece um olhar para dentro das experiências de mulheres reais cujas vidas foram afetadas pela violência.
 
Abuso e consequências
 
A violência baseada em gênero inclui de abuso psicológico e privação econômica a espancamento, estupro e privação da liberdade.
 
Na Bolívia, Carmen* fugiu para os banheiros da universidade para escapar do implacável abuso verbal do namorado. UNFPA fotografou um desses banheiros depois que Carmen contou sua história para pesquisadores da universidade. “Essas pequenas coisas vão se somando”, ela contou. “Elas afetam sua autoestima, elas mudam você.”
 
Na Jordânia, UNFPA entrevistou Dra. Rania Elayyan, especialista em tratamento de pessoas que sobreviveram a abusos sexuais. Dra. Elayyan falou sobre as consequências do estupro: acima da experiência das lesões físicas, as sobreviventes precisam encarar as consequências em suas vidas, como o estigma, doenças e a gravidez.
 
Práticas prejudiciais
 
Práticas tradicionais, como a mutilação genital feminina (MGF) e o casamento infantil também incidem em danos. Na Somália, uma pessoa que conduzia MGF mostrou ao UNFPA lâminas que ela usava para cortar as meninas – uma tradição que ela sabe que é perigosa, mas que continua fazendo. Globalmente, mais de 200 milhões de mulheres e meninas vivem mutiladas, uma prática que pode causar hemorragia, infecção e até a morte.
 
Na Zâmbia, Mirriam, de 14 anos, foi dada em casamento a um homem de 78 anos de idade. “Imediatamente depois que ele pagou o dote aos meus responsáveis, ele me levou para sua casa, me despiu e me forçou a dormir com ele”, ela contou a uma conselheira em Lusaka. UNFPA fotografou as cadeiras usadas nas sessões de aconselhamento.
 
Atitudes negativas sobre mulheres e meninas também abrem caminho para o abuso.
 
Balgees* contou que foi mantida em cativeiro desde os 9 anos de idade, junto com sua irmã, no Iêmen. Por 20 anos, elas foram trancadas em um quarto escuro por seus irmãos, que temiam que as meninas envergonhariam a família se fossem vistas em público.
 
“Os vizinhos nos davam comida pela janela. Até que um dia, eles nos resgataram por essa mesma janela e nos levaram a um abrigo para começar uma vida nova”, explica Balgees. Com a permissão dela, aqueles vizinhos ajudaram o UNFPA a fotografar a casa, que agora está abandonada.
 
Proteção corroída
 
Crises humanitárias deixam as mulheres em situação de maior vulnerabilidade. Mulheres e meninas se tornam alvos de agressão e violência. Com os sistemas de proteção corroídos e famílias em situação de muito estresse, a violência pode se intensificar dentro de casa.
 
No Norte da Nigéria, Zeinabu, de 22 anos, estava recolhendo lenha quando foi atacada por combatentes do Boko Haram. Os homens atiraram nela, mas ela conseguiu escapar. “Eu larguei tudo o que tinha e corri por minha vida”, ela contou ao UNFPA.
 
Algumas das histórias mais chocantes vêm do Iêmen, um país devastado por conflitos brutais, onde os relatos de violência têm aumentado em mais de 60%. Mas mesmo antes da crise, meninas e mulheres contavam com pouca proteção. Rawa*, de 16 anos, conta que o próprio pai a amarrava e a estuprava. Ele acabou preso e Rawa foi levada a um abrigo. Com permissão dela, um fotógrafo visitou a casa vazia para fotografar a corda e a cama.
 
Uma luz em meio à escuridão
 
O UNFPA trabalha com parceiros, incluindo governos, organizações de mulheres e grupos de jovens, para acabar com a violência baseada em gênero e a impunidade que a perpetua. O UNFPA também apoia clínicas, como a que a Dra. Elayaan trabalha, para providenciar cuidados sensíveis e constantes às sobreviventes, assim como abrigo – como os que Ameera, Balgees e Rawa vivem no Iêmen.
 
No Camboja, Ry se arrepende de ter violentado a esposa. Desde que aderiu à campanha Homens Bons, apoiada pelo UNFPA, ela aprendeu a controlar a raiva e a resolver conflitos de maneira pacífica. Ele também começou a falar com outros homens sobre a necessidade de acabar com a violência baseada em gênero.
 
 
*Nomes fictícios