O Grupo Temático Ampliado das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (GT UNAIDS) fez sua terceira e última reunião de 2018 no último dia 18 de outubro, na sede das Nações Unidas em Brasília.
O encontro reuniu cerca de 30 representantes de governo, embaixadas, organismos da ONU e organizações da sociedade civil formadas por pessoas vivendo com HIV. O tema central de discussão foi HIV e Tuberculose (TB), em referência à Primeira Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre Tuberculose e a Declaração Política Unidos para acabar com a tuberculose: uma resposta global urgente para uma epidemia global.
“Levando em consideração que a tuberculose é um tema muito relevante em relação ao HIV, é igualmente importante destacar o trabalho que o Brasil tem feito nesta área, assim como articular novas ações em conjunto com organizações nacionais e internacionais e sociedade civil para a ampliação da resposta à coinfecção TB-HIV”, destacou Jaime Nadal, Representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Presidente do GT UNAIDS para o período 2017-2018.
Dados mundiais do UNAIDS mostram que em 2016, 10,4 milhões de pessoas desenvolveram a tuberculose, e 374 mil pessoas vivendo com HIV morreram devido à infecção, sendo essa a principal causa de morte entre pessoas vivendo com HIV no mundo. Já no Brasil, só em 2017, foram registrados cerca de 72 mil novos casos de TB, com 10% dos pacientes apresentando resultado positivo para coinfecção TB-HIV. Atualmente o país representa um terço de todos os casos registrados nas Américas.
“No Brasil, trabalhamos em três grandes pilares para acabar com a TB até 2030. O primeiro pilar é voltado para melhorar a capacidade diagnóstica de tuberculose, o segundo é em relação a questões de desenvolvimento social e proteção do indivíduo, e o terceiro é voltado para inovação e pesquisa, buscando recursos e novos tratamentos que possam ajudar a acelerar o alcance das metas”, explicou a médica e coordenadora do Programa Nacional de Controle de Tuberculose (PNCT) do Ministério da Saúde, Denise Arakaki. Ela também aproveitou a oportunidade para reforçar a necessidade de uma resposta conjunta entre diversos atores da sociedade.
Sociedade civil e advocacy para lideranças
Durante a reunião do GT UNAIDS, foi lançada a 2ª Edição do Guia de Advocacy para Lideranças, uma atualização do Guia de Advocacy para Lideranças do MNCP, lançado em 2015. Esta segunda edição conta com novos capítulos e atualizações importantes sobre questões como racismo, transexualidade, redução de danos, entre outros, e qual a relação destes assuntos com a epidemia de HIV.
“As diretrizes possuem uma linguagem simples, para que qualquer liderança possa ler e se aprofundar nestas temáticas”, explicou Sílvia Aloia, representante do Movimento Nacional Cidadãs Posithivas (MNCP) dentro do GT UNAIDS. “O objetivo é contribuir para que estas pessoas possam atuar com mais propriedade nos espaços de decisão.”
A representante também fez uma breve apresentação sobre o 8º Encontro Nacional do MNCP – Prevenção Combinada e sua Interface na Saúde Integral das MVHA, organizado pela Secretaria Nacional e Colegiado do MNCP com o apoio da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV do Ceará (RNP Ceará), DIAHV, UNESCO e UNAIDS. O encontro contou com a participação de mais de 70 mulheres vivendo com HIV de todas as regiões brasileiras e parceiros estratégicos.
No mesmo dia, representantes da sociedade civil que vieram a Brasília para participar da reunião do GT UNAIDS encontraram-se com a Equipe Conjunta do UNAIDS na parte da manhã para falar sobre o Plano de Trabalho do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS de 2019.
As agências copatrocinadoras que formam o UNAIDS apresentaram propostas e receberam sugestões da sociedade civil para este planejamento. “Foi muito importante ter espaço para falar sobre temas que são muito caros para a sociedade civil, e que, muitas vezes, acabam não sendo discutidos”, disse Alberto Carlos Andrade de Souza, representante eleito pelo Encontro Nacional de ONGs/AIDS (ENONG). “O encontro que tivemos pela manhã muito inovador, extremamente produtivo, e espero que isso continue sendo feito”.
Zero Discriminação nos serviços de saúde
Outra pauta de destaque deste encontro do GT UNAIDS foi o Seminário Zero Discriminação nos Serviços de Saúde, evento realizado pelo UNAIDS e pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DIAHV), que aconteceu entre os dias 2 e 3 de outubro, em São Paulo, e teve como objetivo debater o impacto da discriminação na saúde e propor diretrizes e padrões para eliminar o problema.
A diretora do UNAIDS no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, falou sobre esta experiência iniciada com uma primeira etapa de escuta aprofundada de populações-chave entre julho e agosto, nos chamados Diálogos para Zero Discriminação na Saúde.
“Na nossa Agenda para Zero Discriminação nos Serviços de Saúde, há uma meta que fala sobre definir padrões para um Serviço de Saúde Zero Discriminação, mas não tínhamos encontrado artigos ou referências que falassem exatamente quais são essas diretrizes e padrões”, contou Georgiana.
“Os diálogos tiveram esse papel: de trazer as pessoas das populações-chave para expor suas demandas. O principal objetivo foi ser propositivo, e trazer as experiências positivas para pensar em como ampliá-las no sistema público de saúde. Foi surpreendente confirmar e descobrir que temos muitas experiências boas já em prática pelo Brasil.”
ONU Brasil