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Parteiras são capazes de transformar cada nascimento em um momento de dignidade e segurança -- e têm o poder de salvar vidas. De acordo com o relatório mais recente do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) sobre a situação global da obstetrícia, trabalhadoras(es) bem treinadas(os) podem evitar cerca de dois terços de todas as mortes maternas e neonatais. No Dia Internacional da Parteira, comemorado ontem, 5, o UNFPA reforça a importância do treinamento e inclusão desse tipo de profissional no sistema de saúde em todo o mundo. 

Programas apoiados pelo Fundo de População das Nações Unidas em uma escala global já resultaram na formação e integração de mais de 115 mil parteiras, que hoje atuam nas linhas de frente do cuidado materno e contribuem para universalizar o acesso a serviços em saúde sexual e reprodutiva -- uma das metas pactuadas globalmente pelas Nações Unidas na busca pelo desenvolvimento sustentável, a chamada Agenda 2030. Neste ano, inclusive, a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), um marco histórico na forma como os assuntos populacionais passaram a ser encarados, completa 25 anos, lançando luz sobre a importância de atingir a universalização do acesso à saúde sexual, reprodutiva e direitos. 

No Brasil, parteiras profissionais -- que são enfermeiras(os) obstétricas ou obstetrizes -- ajudam a garantir gestações e partos seguros, sendo uma categoria profissional que precisa ser reconhecida e valorizada, de acordo com a oficial de saúde sexual e reprodutiva do Fundo de População, Anna Cunha. "É importante valorizar e empoderar os diversos profissionais envolvidos na assistência ao parto, inclusive enfermeiras obstétricas e obstetrizes. No Brasil, a organização de assistência ao parto tende a ser centralizada na atuação de obstetras individuais em oposição a uma abordagem multidisciplinar e de equipe", explica.

Conforme o último Relatório sobre a Situação da População Mundial produzido pelo UNFPA, o Brasil teve redução de 50% no número de mortes maternas, que caiu de 88 a cada 100 mil nascidos, em 1994, para 44, em 2015. Segundo Anna Cunha, entretanto, é preciso observar que o país é o segundo do mundo que mais realiza cesarianas, com um índice de 55.39% operações registrado em 2016, o que tende a sinalizar um emprego excessivo de intervenções obstétricas.


Camilla Søndre Schneck
é parteira há 20 anos

Parteira há 20 anos, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) Dra. Camilla Søndre Schneck reforça que é necessário estimular a formação e o aumento dos cursos de especialização ou graduação no país, uma vez que o número de profissionais ainda não é suficiente para atender toda a demanda. “A gente encontra as parteiras no sistema de saúde, mas como temos um país com dimensões continentais, a inserção é desigual e varia muito”, explica a professora, que faz parte do Conselho Permanente de Educação da Confederação Internacional de Parteiras.

Camilla Søndre também lembra que as parteiras atuam em todas as fases da gravidez, não apenas durante o parto, e contribuem para aumentar a capacidade de decisão das mulheres e a consequente igualdade de gênero. “As parteiras compõem as equipes de saúde para o provimento de atenção à saúde, seja no atendimento ao parto ou em outro âmbito, e em conjunto com outros profissionais. Elas conferem segurança e aproximam as mulheres da experiência do parto enquanto protagonistas, de forma que passam a ter mais controle de seu corpo, o que evita intervenções desnecessárias e impacta nos indicadores de saúde. Promover o parto como esse momento, respeitando escolhas, deixa as mulheres mais felizes e satisfeitas, reduzindo momentos adversos”, destaca. 

 


A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) foi realizada no Cairo, em 1994, e representou um marco histórico e uma mudança de paradigma na abordagem global sobre os temas de população e desenvolvimento: se antes os objetivos eram exclusivamente demográficos, após a CIPD o foco se tornou a promoção dos direitos humanos, com ênfase no exercício dos direitos reprodutivos e na autonomia das escolhas individuais. O ano de 2019 marca o 25º aniversário da Conferência, cujo documento foi pactuado por 179 países.