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Uma estratégia focada na atenção primária, na capacitação de médicos e enfermeiras obstétricas e na divulgação foi identificada pelo consultor do escritório regional do Fundo de População das Nações Unidas  para América Latina e Caribe (UNFPA/LACRO) como uma das causas que tem levado com que mais mulheres optem por utilizar o Dispositivo Intrauterino (DIU) como método contraceptivo no Distrito Federal. Carlos Anigstein passou uma semana visitando unidades básicas de saúde do DF e o resultado da consultoria poderá servir como boa prática para outros países da região. 

 

Em 17 de junho deste ano, um mutirão oferecido pelo Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) atraiu milhares de mulheres interessadas em implantar o DIU, o que chamou atenção do consultor. Desde que houve uma reestruturação nas equipes de saúde das unidades básicas de saúde, que passaram a atuar de forma mais familiar e comunitária, o método contraceptivo passou a ser visto como uma opção para mais mulheres, relatou a coordenadora de Atenção Primária à Saúde, Maria Martins Alessio. 

 

“Essa estratégia mostra que sim, é possível organizar a saúde de baixo para cima, e no DF isso pode ter uma relação direta com a capacitação de médicos generalistas da estratégia de saúde da família para a colocação do DIU”, observa Anigstein. 

 

Visita

O consultor da ONU foi recebido pelo secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, pela secretária da Mulher, Érika Filippelli, e por equipes do Adolescentro, das unidades básicas de saúde do Guará II e de Sobradinho, e por um time de médicos do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Além disso, conversou com pessoas que optaram pelo método contraceptivo na rede pública.

 

Uma delas foi Andreia Luis Cardoso, de 28 anos, que acabou de ter o segundo filho no HRAN e foi uma das pacientes que implantaram o DIU no pós-parto na unidade. Segundo ela, seu método contraceptivo anterior, a pílula anticoncepcional, falhou, e ela optou pelo novo método após pesquisar na internet. Ao saber que o hospital ofertava o serviço, aceitou imediatamente, apesar dos vários mitos e preconceitos enfrentados. “Muita gente veio falar para mim que o DIU se solta e corta o útero, fiquei com medo, mas resolvi colocar. Decidi e acabou. Agora tenho segurança, é melhor evitar do que ter outro filho e não ter condições de cuidar”, relatou.

 

De acordo com os médicos do HRAN, desconhecimento e mitos a respeito do DIU estão entre os principais motivos para algumas mulheres negarem a colocação. O método está entre os oito oferecidos gratuitamente via Sistema Único de Saúde (SUS). 

 

Para o consultor Carlos Anigstein, embora o investimento em atenção primária e em capacitação seja salutar, é preciso observar o que ainda falta a ser feito para continuar avançando. “Faltam  mais capacitações, além de equipamentos, como as bandejas e pinças para implantar o DIU”, explica. “Mas o que vejo é muito entusiasmo do secretário de Saúde, da secretária da Mulher e dos profissionais de saúde. A nível político, esta é uma decisão muito importante”, avalia.