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No Dia Mundial do Trabalhador Humanitário, 19 de agosto, conheça como funcionam os Espaços Seguros do Fundo de População das Nações Unidas

Por Isabela Martel

BOA VISTA, Roraima - Pessoas de todas as idades, coletes de muitas organizações, oficiais fardados, bagagens, filas, dúvidas, esperanças e planos. Este é o clima no Posto de Interiorização e Triagem (PTRIG) da Operação Acolhida em Pacaraima (RR), fronteira terrestre entre Brasil e Venezuela. É aqui que as pessoas refugiadas e migrantes chegam ao Brasil e buscam uma série de serviços: emissão de documentos – CPF, carteira de trabalho, residência, refúgio –, vacinação, atendimento psicossocial, abrigamento, entre outros. No meio disso tudo, há uma porta. Nela, está escrito: espacio seguro. É o espaço seguro do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

“A pessoa que chega aqui, acabou de entrar no Brasil. Ela não entende português, não se alimenta bem faz tempo, veio de carona. Ela chega ansiosa, abalada”, conta Harlen Lamar, líder do UNFPA no PITRIG de Pacaraima. Os espaços seguros são as salas onde as equipes de trabalhadoras humanitárias do UNFPA atuam para atender, informar, detectar e encaminhar casos de violência baseada no gênero e de saúde sexual e reprodutiva. Tudo com sigilo e respeito, para que nenhuma abordagem cause mais danos à vida de quem é atendida. Essas salas também estão presentes nos PITRIGs de Boa Vista e Manaus.

Além dos atendimentos integrais, são realizadas rodas de conversa, atividades educativas – com jogos e vídeos –, e de empoderamento. Há também poltronas para as mães amamentarem seus filhos. Todas as pessoas são bem-vindas: a porta está sempre aberta e a demanda é espontânea. “Já disseram que a nossa sala transmite paz. A sala e o que é oferecido nela”, relata Harlen. Não é à toa, tendo em vista que a filosofia por trás dos espaços seguros é de não julgamento e empatia. “Uma vez, durante um atendimento, uma pessoa mencionou um diagnóstico de saúde bem específico”, narra Harlen. “Ela colocou as duas mãos na mesa e falou: você é a primeira pessoa, até agora, que olhou para mim, por isso me senti segura”, conta. “Acho que esse é o diferencial daqui”, conclui.

A equipe do UNFPA que atua no espaço seguro de Pacaraima.  Foto ©UNFPA/Isabela Martel
A equipe do UNFPA que atua no espaço seguro de Pacaraima. Foto ©UNFPA/Isabela Martel

Contudo, o dia a dia nos espaços seguros não é fácil. “Gratificante e desafiador”, define Harlen. “Com os atendimentos, nós conseguimos estar presentes em um momento que as pessoas realmente precisam”, menciona. “É desafiador porque cada pessoa chega com situações específicas”, continua. Para vencer os desafios e atender as necessidades específicas de mulheres e meninas, o UNFPA atua de forma articulada com todas as organizações presentes na resposta humanitária e com os governos municipais e estaduais.“Temos procedimentos e fluxos bem definidos e pactuados com toda a rede”, diz Harlen. 

Em contextos de emergência, como deslocamentos forçados, conflitos e desastres naturais, a resposta humanitária tem papel fundamental na garantia dos direitos básicos das pessoas. “Neste dia 19 de agosto, nós reconhecemos o importante papel que as 50 trabalhadoras e trabalhadores humanitários do UNFPA exercem na garantia de direitos de mulheres e meninas, especialmente das refugiadas e migrantes da Venezuela. São milhares de pessoas vulneráveis beneficiadas” declara Igo Martini, oficial de projetos e chefe de escritório do UNFPA em Roraima. 

Os espaços seguros são mantidos com o apoio do Governo de Luxemburgo, através do Projeto Moverse.