No encontro virtual, foi discutido o impacto da pandemia no número de casos e estratégias de fortalecimento da atuação dos profissionais em diversos municípios brasileiros
Por Fabiane Guimarães
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) realizou, na última quinta-feira (20), uma formação virtual para conselheiras e conselheiros tutelares com o objetivo de discutir os impactos da pandemia da Covid-19 para a categoria e o aumento de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Participaram do encontro 63 profissionais, de diversos locais do Brasil.
Segundo a oficial para Juventudes do UNFPA, Gabriela Monteiro, o momento é de unir forças e buscar soluções para evitar que crianças e adolescentes sofram ainda mais em um momento tão complexo. “Depois de um ano de pandemia, temos testemunhado um aumento das desigualdades sociais e econômicas, e jovens e crianças estão mais expostos do que nunca à violência sexual”, afirmou.
A oficial para projetos do UNFPA, Daniela Florio, expôs o dado de que, em 2020, o Disque 100 registrou um total de 92,2 mil denúncias de violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes, sendo que a violência sexual respondia por 23,4% delas. “O distanciamento e o isolamento social podem potencializar a violência contra crianças e adolescentes, por permitir um maior convívio com agressores”, observou.
Também participou do encontro como palestrante a assistente social e conselheira tutelar do Distrito Federal Keka Bagno, que chamou atenção para a necessidade da categoria exigir mais respeito e romper com estruturas coloniais que impedem uma atuação mais efetiva. “A pior violência que pode acontecer com crianças e adolescentes é a violência sexual, porque é um dano irreversível. Por isso, temos que trabalhar também na ótica preventiva. A nossa categoria é fundamental para o sistema de garantia de crianças e adolescentes”, afirmou.
O especialista em planejamento intersetorial no setor público Carlos Delcídio complementou e acrescentou que, para além de buscar por melhorias estruturais de trabalho, é necessário colocar em discussão valores e aspectos culturais que naturalizam a violência sexual contra meninas e meninos. E que, neste momento, é urgente pensar em alternativas. “Independentemente do que está acontecendo, vocês, conselheiros e conselheiras tutelares, têm uma missão que é não deixar ninguém para trás. É preciso entender o que mudou na pandemia e como fazer para ficar mais próximo da população neste período”, disse.
Profissionais presentes na formação revelaram diversas dificuldades na pandemia, como a falta de canais alternativos para a denúncia (excetuando-se o Disque 100), a dificuldade de atuar sem estrutura adequada de conexão de internet, transporte e proteção, problemas em acionar outros órgãos, entre outros.