Saúde, direitos sexuais e reprodutivos, trabalho, inclusão social e direitos humanos também foram temas discutidos nesta quarta e quinta-feira, em Brasília
A vulnerabilidade social, o preconceito e discriminação ainda são barreiras encontradas por pessoas trans no âmbito do trabalho e emprego, o que impacta negativamente em sua admissão, permanência e ascensão no mundo formal do trabalho e que, por consequência, também impacta na sua saúde.
Com isso, em lembrança ao Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), foi realizada, na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) em Brasília, a abertura da reunião técnica para discutir sobre saúde, trabalho, direitos e inclusão social da população trans.
A atividade reuniu mais de 80 profissionais de saúde, gestoras e gestores de políticas públicas, representantes da sociedade civil e da academia e organizações internacionais para compartilharem políticas e boas práticas no que se refere à promoção da saúde integral para a população trans no Brasil e sua correlação com a inclusão no mercado de trabalho, a inclusão social e o acesso à direitos.
A representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil, Astrid Bant, reforçou a importância de discutir em profundidade como garantir o acesso à saúde sexual e reprodutiva de pessoas trans. “Como Nações Unidas no Brasil, temos um compromisso. Propomos que hoje e amanhã possamos discutir sobre como garantir o acesso à saúde sexual e reprodutiva de pessoas trans. Propomos também, discutir como garantir a efetiva equidade de gênero e estimular a geração de emprego e renda, inclusive a partir de políticas afirmativas, visando o ingresso e a permanência de travestis e trans em instituições de ensino e no mercado formal de trabalho, para que alcancem e desfrutem de todo o seu potencial”.
Na quarta-feira (29), mesas temáticas e debates abordaram os mais diversos aspectos de vulnerabilidade que afetam as pessoas trans. Integrantes do movimento social participam de uma mesa temática sobre interseccionalidade de raça, etnia, geracional e de representação do conhecimento trans na saúde. As discussões também focaram no acesso e cuidado integral de pessoas trans, principalmente na sinergia de vulnerabilidade ao HIV e outras ISTs, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, trabalho sexual e situação de rua, foi abordado sobre os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas trans e intersexo, principalmente no aspecto das mudanças corporais e também educação e empregabilidade dessa população.
“Educação é fundamental, mas ela não vai conseguir resolver tudo, enquanto não trabalharmos a empregabilidade. Muitas de nós que têm capacitação com graduação, mestrado e doutorado, não encontram trabalho porque são trans. Quanto mais participarmos de eventos como esse e tivermos acesso aos meios de comunicação para termos uma visibilidade positiva e acima de tudo uma representatividade, nós vamos mudar essa realidade a partir de uma percepção do outro enquanto real”, afirma Dra. Jaqueline Gomes de Jesus, professora e pesquisadora do Instituto Federal do Rio de Janeiro.
No último dia (30), as discussões aconteceram no formato de Café Mundial, com o objetivo de construir o documento final sobre saúde, trabalho, direitos e inclusão social da população trans.
O seminário Visibilidade Trans foi uma iniciativa do Sistema ONU no Brasil, a partir da Campanha da ONU Livres e Iguais, e contou com a organização da representação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH) no Brasil, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) no Brasil e Fundo de População das Nações Unidas no Brasil (UNFPA), em parceria com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do Ministério da Saúde e com a Diretoria de Promoção dos Direitos LGBT/SNPG do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Ministério Público do Trabalho e Embaixada da Austrália.
Texto: Giselle Cintra