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Dia dos Pais: a importância da paternidade responsável e do repensar as masculinidades para garantir vidas mais afetivas e menos violentas

Dia dos Pais: a importância da paternidade responsável e do repensar as masculinidades para garantir vidas mais afetivas e menos violentas

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Dia dos Pais: a importância da paternidade responsável e do repensar as masculinidades para garantir vidas mais afetivas e menos violentas

calendar_today 08 August 2015

O auto-cuidado e o cuidado com o próximo são tão fundamentais no nosso dia a dia quanto comer, beber, trabalhar ou estudar. E isso é algo que precisa ser observado principalmente na família, em suas diversas formas. Compreendendo o cuidado como uma das principais estratégias para que todos e todas possam desconstruir práticas violentas e desenvolver suas capacidades de forma plena, com dignidade e respeito, o UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas, no âmbito da Campanha “O Valente Não é Violento”, realiza no mês de agosto, em que é celebrado o Dia dos Pais no Brasil, esta matéria especial para falar sobre a importância da paternidade responsável para construção de uma sociedade mais justa no que se refere à igualdade de gênero, sexualidade, saúde reprodutiva e afetividade.

A Representante Auxiliar do UNFPA, Fernanda Lopes, enfatiza que, antes mesmo de se iniciar qualquer discussão sobre a população masculina - seja sobre gênero, masculinidades, co-responsabilidades na saúde e prevenção a violência - é necessário considerar os homens como sujeitos de direitos muitas vezes negligenciados, e que “o processo educativo dos homens geralmente não estimula o contato com o seu corpo, com suas emoções e reações”. “Durante toda a vida os meninos e os homens são motivados a controlar sua afetividade, os gestos e as atitudes mais diretamente associadas ao cuidado. Se não agirem da maneira esperada, podem deixar de ser considerados ‘homens de verdade’. Enquanto eles não forem educados e mobilizados para refletir sobre suas próprias histórias e dificuldades em modificar elementos do seu ser e estar no mundo, não conseguirão incorporar noções de cuidado para si e para o/a outro/a”, completou.

Convivendo diariamente com casos de violência e violações de direitos contra crianças e adolescentes, meninos e meninas, Luiz S., policial civil da Delegacia de Proteção a Criança e o Adolescente do Distrito Federal, revelou que, em grande parte dos registros, as vítimas são de famílias que não possuem a figura paterna. “Infelizmente, acredito que as mães acabam ficando em situação de vulnerabilidade por que se relacionam com os agressores, e eles identificam menores dessas famílias, que não são seus filhos para molestar”, contou, se referindo ao machismo e a violência resultante das desigualdades nas relações de gênero que afetam as vidas das mulheres, sobretudo as mais pobres. O agente, que se tornou pai recentemente após planejar o nascimento da filha, afirma que se coloca em uma posição de parceiro da esposa. “Os deveres são iguais e divididos. Acabou essa fase da mulher fazer tudo só”.

Para multiplicar exemplos como o de Luiz em seu engajamento com o exercício da paternidade, seja ela estabelecida por laços biológicos ou afetivos, o UNFPA, em parceria com o Instituto Papai, de Recife (PE), lançou a publicação “Homens Também Cuidam”, que tem como objetivo ressaltar que mulheres e homens podem e devem assumir responsabilidades e prazeres, seja nas relações homo ou heteroafetivas, na gestação, o momento do parto, o cuidado com os filhos e filhas e com as pessoas em geral. O guia desconstrói o estigma do cuidado como uma função feminina e da agressividade como uma qualidade masculina - que culmina no desinteresse de muitos homens por temáticas relacionadas à gravidez e ao cuidado - e questiona uma visão de paternidade que se limita a visitar filhos e filhas nos fins de semana. Materiais de referência como esse são fundamentais para enfrentar pensamentos sexistas e machistas, apresentando alternativas à visão tradicional acerca de masculinidade e feminilidade e à práticas que impedem que homens e suas famílias estabeleçam vínculos afetivos e sociais gratificantes.

 

Laços de afeto

Marcus Costa, 27 anos, perdeu a mãe ainda na adolescência. Quando o pai se casou novamente, o administrador de empresas ganhou um irmãozinho com 23 anos de diferença na idade. De acordo com o baiano, que também se considera um pai para o irmão, a paternidade em sua casa é compartilhada. “Sou irmão, mas isso não tira de mim a obrigação de ter atenção com o Gustavo. Acredito que o amor e o carinho são os melhores indicadores para uma boa educação. Por isso não deixamos faltar esses elementos em casa”, destaca. E, embora tenha conhecimento sobre como os padrões machistas e a cultura de violência fazem parte das iniquidades que afetam a sociedade, afirma que é muito difícil desassociar do cotidiano de “Gu” os brinquedos que remetem a luta, ou agressão. “Ele tem acesso a muitas informações, na escola, vendo desenhos na internet... A maioria dos brinquedos é do ‘universo masculino’. São super-heróis e carros. Já ao assistir TV, o deixamos mais a vontade. Não fazemos distinção do que é ‘programa de menina’. Sei que ainda temos muito a melhorar e estamos buscando sempre isso”.

José Antonio Moroni, 52 anos, é pai de quatro filhos, de 11, 13, 15 e 17 anos. Para ele, que cuida dos filhos sozinho e ainda trabalha, não há nada de louvável nisso, é algo que deveria ser encarado como comum. Ele destaca que as mulheres sempre estiveram nessa condição e não são reconhecidas por isso. “As pessoas me colocam num patamar diferente de uma mulher. Parece que não é da responsabilidade do homem assumir os cuidados com a casa e quando assume é excepcional, mas para a mulher é algo já dado. E isso precisa ser desconstruído, pois é altamente machista”. E completou: “sempre digo aos meus filhos ‘vocês vão amar quem quiserem: mulher, homem, trans, independente de qualquer coisa’. Temos de construir, como pais, seres humanos capazes de dialogar e viver com as diferenças”.
 

Os quatro filhos do filósofo em passeio

Moroni destacou ainda que, para ele, paternidade responsável é também apoiar os filhos em pensar como contribuir com a sociedade. “O processo pedagógico, afetivo, relacional, é uma construção permanente. Uma função nossa, enquanto pai, enquanto mãe, enquanto pessoa que cumpre função paterna e materna. É estar muito atento em relação às questões como do machismo, racismo, homofobia, preconceito e as desigualdades. Os adultos precisam assumir essas discussões no processo de educação. Muitas vezes a escola, os meios de comunicação e até mesmo a própria família reproduz esses problemas. É atribuição nossa mesmo, enquanto pais, enfrentar isso. Temos que dizer o que existe e o que deve se enfrentar, seja na vida privada ou pública. A paternidade responsável pressupõe você sair da relação pai e filho (a), e do cuidado, e ir para relação da mediação entre dos (as) seus filhos com o resto da sociedade”.

 

 

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