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Um dos principais desafios enfrentados em situações de emergência é o acesso a serviços de saúde. Em Roraima, o estado brasileiro tem recebido pessoas refugiadas e migrantes vindas da Venezuela, uma iniciativa busca aliar a necessidade à disponibilidade de profissionais qualificados. Para identificar casos de diabetes, HIV/AIDS, febres, gravidezes e outras situações de atenção à saúde, agências da ONU atuantes no contexto de ajuda humanitária uniram-se para desenvolver a Capacitação sobre Estratégia de Saúde para os Migrantes e Refugiados Venezuelanos nos Abrigos.

A ação, liderada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) e apoiada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), reconhece e capacita venezuelanos e venezuelanas que já possuem formação profissional ou acadêmica na área de saúde e que se encontram nos abrigos do estado de Roraima. São médicos e médicas, socorristas, fisioterapeutas, enfermeiros e enfermeiras e técnicos e técnicas de enfermagem. Estes profissionais serão pontos focais dentro dos abrigos e atuarão como elos entre a comunidade acolhida, a equipe de saúde que já atua no local e a rede de apoiadores.

O objetivo da ação é desenvolver elementos que garantam a implementação da vigilância sanitária pública como forma de prevenção e definir a participação de profissionais migrantes e refugiados como voluntários de saúde. A meta é otimizar os recursos disponíveis para a atenção à saúde da população nos abrigos e possibilitar o encaminhamento de alguns casos ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Os treinamentos, que serão permanentes, iniciaram em julho de 2018 e abordaram assuntos como as características gerais e situação de saúde nos abrigos, o SUS, a distribuição das redes de atenção no município de Boa Vista e no estado de Roraima, estratégias de atenção em saúde pela equipe das Forças Armadas e introdução às doenças prioritárias para a vigilância nos abrigos - sarampo, difteria, malária, tuberculose, sífilis e HIV.

O mapeamento destes profissionais foi realizado pela Dra. Piedad Sánchez, consultora internacional pelo Departamento de Emergências em Saúde da OPAS. Ela visitou todos os abrigos e, contando com o apoio das equipes de gestão, fez um mapeamento individual das pessoas que poderiam participar dos treinamentos e efetivamente contribuir com a iniciativa. Inicialmente, cerca de 60 pessoas participaram dos treinamentos, mas devido ao processo de interiorização e outros motivos, o número de agentes voluntários de saúde atualmente é de 45 pessoas, com representação em todos os nove abrigos.

Segundo Paulo Lugoboni, assistente de proteção do ACNUR no Brasil, anteriormente à essa iniciativa, para que as pessoas abrigadas tivessem acesso à saúde pública e à vigilância sanitária, os próprios abrigados deviam procurar a equipe do exército (presente nos locais três vezes por semana) e apresentar suas demandas. “Com a presença dos agentes voluntários de saúde, foi possível estabelecer um mapeamento dos principais casos a serem acompanhados pela equipe médica, que agora recebe uma lista com os abrigados que necessitam de acompanhamento mais urgente”, afirma.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) colabora com informações de organização e funcionamento da rede de saúde local e ainda durante a formação dos refugiados e refugiadas, abordando o tema da violência de gênero e o fluxo de referência para os casos ocorridos nos abrigos. Nas formações, aborda questões como desigualdade de gênero e os princípios básicos que devem ser seguidos diante dos casos de Violência de Gênero.

O UNFPA tem previsto três workshops neste projeto para 2018, em articulação com a rede local. Neles, serão aprofundados os temas do mandato da agência, em especial Violência Baseada em Gênero e Saúde Sexual e Reprodutiva. “Trabalhamos com questões de sexual e reprodutiva e de violência baseado em gênero para que o grupo seja capaz de identificar sinais de violência e agravos de saúde para acolher de forma humanizada as mulheres e ter o conhecimento do funcionamento da rede de proteção para encaminhamentos, quando necessário”, afirma Irina Bacci, analista para assuntos humanitários do UNFPA no Brasil.

Os profissionais já estão em plena atuação. Segundo Lugoboni, a curto prazo, para além da capacitação constante e do acompanhamento das atividades realizadas pelos agentes voluntários de saúde, os próximos passos visam ampliar a coleta de informações médicas junto à comunidade e também, futuramente, englobar o novos abrigos na iniciativa