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Gabriel Dias, 21 anos

Eu era uma criança muito tímida, um adolescente tímido e gostava muito de informática, tecnologia, videogame e computação e em 2008 meu pai conseguiu adquirir um computador. Para mim foi um dos melhores momentos de minha vida.

O computador e a internet me abriram para o mundo mas ao mesmo tempo me fecharam. Eu estava muito isolado, não saía de casa.

Quando eu me juntei à REPROTAI, Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe, é que comecei a perceber que o Brasil é um país preconceituoso, é um país racista e o que racismo institucional, principalmente da parte do Governo e da polícia, é muito forte aqui.

Eu li uma matéria que dizia que os policiais dão prioridade de abordagem a garotos negros e isso me deixou bastante triste.

Já assisti policiais agredindo amigos meus. Teve um dia que um menino estava saindo daqui de bicicleta e sem querer não viu uma viatura que estava passando e aí acabou fechando nele. O policial o agrediu e foi bem humilhante para ele, todo o mundo parou para analisar a situação mas como todo o mundo tem medo acabaram se silenciando, inclusivé eu fiquei sem saber o que fazer.

O racismo no Brasil já está empregnado e tem que ser discutido sim!

Não é por acaso que os vírus zika, a dengue e a chikungunya atingem mais a população negra. Infelizmente a população negra é oriunda, na maioria dos casos, da periferia de Salvador que muitas vezes não tem o saneamento básico ideal ou uma coleta de lixo frequente e adequada e então o zika naturalmente afeta mais a população negra devido à falta de cuidados da prefeitura, do Governo.

Eu acredito que as políticas públicas deveriam ser voltadas mais para essa área pobre, para essa área carente de Salvador dando prioridade às periferias, a um saneamento básico de qualidade, coletas de lixo mais seletivas. Porque todo o mundo sabe que o mosquito ele se prolifera com água parada, com lixo parado e o esgoto a céu aberto também pode trazer outras doenças.

Eu como bahiano me sinto triste por saber que a Bahia é o segundo Estado com maior número de crianças com microcefalia por causa do zika.

Meu sonho é que o racismo seja discutido como ele deveria ser, não como vitimismo como a maioria das pessoas dizem. Se eu denunciar uma pessoa porque fez uma piada de mau gosto comigo ela vai dizer que eu estou me vitimizando mas não é isso, todo o mundo sabe que o racismo está impregnado até no nosso vocabulário: ovelha negra, buraco negro, tudo o que é negro não presta. Se eu for com esse discurso para uma pessoa ela vai dizer que é vitimismo.

Meu sonho é que o racismo seja mais discutido no Brasil.