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“Migrar é um direito e como indígenas também podemos migrar”

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“Migrar é um direito e como indígenas também podemos migrar”

calendar_today 08 August 2024

Ao deixar a Venezuela, Rosmery precisou iniciar uma nova trajetória profissional e hoje é responsável por uma padaria familiar e
Ao deixar a Venezuela, Rosmery precisou iniciar uma nova trajetória profissional e hoje é responsável por uma padaria familiar em Cantá (RR). Foto: ONU Mulheres/Lali Mareco

Conheça Rosmery, Warao que busca fortalecer sua comunidade no Brasil

“Meu país começou a sofrer uma crise muito forte e isso fez com que muitos indígenas saíssem de seus contextos deixando tudo, em muitos casos deixando comunidades  vazias e eu também tive que migrar”, assim Rosmery resume o que a fez chegar ao Brasil. De origem Warao, a venezuelana está há três anos no estado de Roraima, se adaptando e traçando novos planos para sua vida e da sua família, sem deixar de pensar no desenvolvimento de sua comunidade.

Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, contamos a história de Rosmery, uma das 11.041 pessoas indígenas refugiadas ou migrantes registradas no Brasil desde 2017, de acordo com os dados do Painel de Perfil Populacional Indígena da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Com uma postura serena e fala espaçada, Rosmery é categórica ao expressar o que significa essa mudança. “Para migrar você tem que aceitar sua realidade e deixar tudo o que você era para trás. Na Venezuela fui professora com 25 anos de serviço. Cobri todos os níveis de educação, desde educação inicial até a etapa universitária. Chegar ao Brasil foi uma mudança muito profunda e brusca”, afirma.

Aos 44 anos, atualmente ela mora com seus pais e um de seus três filhos na comunidade Warao Janoko, localizada no município de Cantá (RR). Nesse contexto, Rosmery assumiu, assim como tantas outras mulheres refugiadas e migrantes, a responsabilidade de cuidar dos familiares que vivem com ela, já que seus pais são pessoas idosas. A comunidade, que é formada por famílias das etnias Warao e Kariña, sobrevive da agricultura, embora considerem que a terra não esteja apta para isso. Da produção familiar, Rosmery garante os alimentos diários e parte do sustento financeiro.

Empoderamento econômico

“Busco que a minha vida no Brasil seja ativa e criativa. Por isso desde que cheguei, realizo alguns cursos e isso me ajudou a começar o meu próprio negócio, que é uma padaria”, conta. Quando ainda planejava o futuro que alcançou hoje, Rosmery foi aluna em cursos de Português, confeitaria, ajudante de cozinha, gastronomia e panificação, ofertados por projetos implementados por diferentes organizações, entre elas a ONU Mulheres, o ACNUR e o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA). 

O pequeno negócio de Rosmery começou a funcionar este ano, após dois anos de planejamento e organização financeira. “Meu principal objetivo é fazer com que a minha comunidade, a comunidade Warao a Janoko, se desenvolva e seja vista como um lugar turístico. Começamos com essa padaria familiar e logo ela apoiará outras oportunidades de desenvolvimento”, explica. 

O fortalecimento da sua comunidade no Brasil é uma das principais motivações de Rosmery. A importância do seu engajamento para esse objetivo, fez com que ela estivesse em Brasília (DF), ao lado de outras 15 mulheres indígenas venezuelanas de diferentes etnias, durante o Acampamento Terra Livre 2024 (ATL 2024). Durante o acampamento, Rosmery foi uma das vozes que levantou as demandas e necessidades das mulheres refugiadas e migrantes em diferentes agendas de articulação com organizações indígenas brasileiras e com representantes do governo federal. 

A participação do grupo de mulheres indígenas refugiadas e migrantes no ATL 2024 foi possível através do programa conjunto realizado por ONU Mulheres, ACNUR e UNFPA, com o apoio do Governo de Luxemburgo, que visa o desenvolvimento de políticas públicas sensíveis aos direitos humanos e ao gênero, que atendam as necessidades diferenciadas de mulheres refugiadas e migrantes e de outros grupos de pessoas que enfrentam múltiplas formas de discriminação.

Para Rosmery, representar sua comunidade e desenvolver formas para que ela prospere em outro território é uma forma de garantir seus direitos individuais e coletivos. “Migrar é um direito e como indígenas também podemos migrar, porque é um direito internacional. Ao ser migrante, não é possível que nos coíbam de muitos direitos que nos correspondem como humanos”, ressalta.

Rosmery apresenta demandas da comunidade Warao a Janoko durante reunião com representantes do governo federal na Casa da ONU, em Brasília (DF). Foto: ONU Mulheres/Lali Mareco