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O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) participou, nesta segunda-feira (30), de um webinário sobre o cenário da violência de gênero no Brasil, com foco especial no Nordeste. Realizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), o evento faz parte da campanha “Você não está sozinha”, lançada pelas duas instituições, que buscou sensibilizar as pessoas para o aumento dos índices de violência de gênero durante a pandemia. O debate foi mediado por Mabel de Araújo, do Sesc Alagoas.

A oficial para Equidade de Gênero, Raça e Etnia do UNFPA, Luana Silva, fez um resgate, durante o webinário, dos marcos internacionais que influenciaram no combate internacional à violência de gênero, especialmente em relação às mulheres negras, como a Conferência de Beijing e de Durban. A oficial também explicou que, no Brasil, a primeira Delegacia Especializada da Mulher surgiu em 1985, em São Paulo, e que de lá para cá foram vários avanços, como a criação da Casa da Mulher Brasileira e a Lei Maria da Penha, e alguns obstáculos, como a redução do orçamento de políticas para as mulheres. Com o isolamento social, imposto pela pandemia, a situação se agravou, com aumento de casos em todo o Brasil e no mundo.

Para a oficial Luana Silva, um dos maiores empecilhos para uma resposta efetiva à violência de gênero é a dificuldade de denunciar e o silêncio que impede que as mulheres falem sobre as agressões sofridas, além dos processos de revitimização pelos quais passam quando efetivamente conseguem realizar a denúncia. “É preciso refletir sobre como o silêncio contribui para a violência contra as mulheres, também analisando a implementação de políticas públicas de enfrentamentamento à violência contra as mulheres”, avaliou. Luana destacou, ainda, a criação da Plataforma Mulher Segura, uma iniciativa do Fundo de População da ONU que reúne contatos e informações de serviços de apoio e resposta a vítimas em todo o país.

Complementando o debate, a professora da Universidade Federal do Alagoas (UFAL), Marli Araújo, lembrou os motivos pelos quais a violência de gênero ainda é tão difundida e até mesmo aceita no país. “O Brasil foi fundado na violência contra as mulheres, no estupro dos corpos femininos, especialmente de mulheres negras e indígenas”, detalhou. 

Marli destacou que a violência contra as mulheres atinge uma diversidade de mulheres, mas que, a depender do local onde elas estão, essa situação é vivida de forma diferente, com ausência de serviços e apoio, como ocorre em comunidades tradicionais e quilombolas do Nordeste, por exemplo. “A violência de gênero é baseada na desigualdade entre mulheres e homens. Conforme o lugar onde a vítima está, é uma violência que pode ser agravada. Há muitas questões territoriais envolvidas. Não existe opção: ou lutamos e nos organizamos politicamente para combater a violência de gênero, ou não vamos combater”, observou.

Assista ao debate completo aqui.

Cartilha 

Além de peças digitais chamando atenção para a violência de gênero, a campanha “Você não está sozinha”, produzida por UNFPA e SESC, resultou na criação de uma cartilha informativa abordando os tipos de violência, como identificar uma situação, quais são as legislações a respeito e como denunciar. O guia pode ser acessado aqui.