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Coletivo de mulheres negras do Pará foi uma das organizações contempladas pela segunda edição do edital Nas Trilhas de Cairo.

O Comunema - Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria foi uma das 13 organizações apoiadas pela segunda edição do edital Nas Trilhas de Cairo, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), voltado para o fortalecimento institucional de organizações. O projeto desenvolvido pelo Comunema foi voltado para a mobilização defensoras ambientais, moradoras de comunidades tradicionais, e contribuiu para o fortalecimento da organização que luta contra o Racismo Ambiental na Amazônia.

O Comunema - Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria surgiu em 2015 com o objetivo de articular, mobilizar e fortalecer a luta de mulheres negras das periferias de Altamira e de comunidades negras na região da Transamazônica e Xingu, no estado do Pará. Além de mobilizar quem está em território urbano, o coletivo atua como uma rede de apoio, conectando defensoras ambientais de localidades distantes, oferecendo assistência e proteção contra violações de Direitos Humanos. 

O projeto contemplado no edital do UNFPA tinha como objetivo promover a reconexão com essas defensoras, pontos focais importantes para assegurar a comunicação com comunidades tradicionais de 13 municípios. A intenção era estruturar novamente a articulação com as comunidades, após a fragilização causada pela pandemia de COVID-19 e seus efeitos. 

O Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria (Comunema) nasceu em 2015 com o objetivo de articular, mobilizar e fortalecer a luta de mulheres negras da Amazônia. Foto: Comunema
O Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria (Comunema) nasceu em 2015 com o objetivo de articular, mobilizar e fortalecer a luta de mulheres negras da Amazônia. Foto: Comunema

Segundo a coordenadora de projeto de programas do Comunema, Dandara Sousa, a mobilidade é um dos pontos cruciais para a atuação do coletivo e das mulheres que fazem parte dele. Com o apoio voltado para essa necessidade, elas puderam percorrer longas distâncias e voltar a se encontrar para além do virtual. "A principal ajuda que o recurso nos deu foi poder permitir que essas mulheres se mobilizassem, andassem, se reconectassem, se transportassem de um lado para o outro".  

Essa reconexão também foi estabelecida através da aquisição de equipamentos e promoção de workshops focados na segurança digital das ativistas. O intuito é que elas se munissem de mais informações que pudessem assegurar a própria segurança, considerando os constantes ataques e violências a que estão expostos as defensoras e defensores ambientais na Amazônia. 

"Elas repassam tudo o que acontece na comunidade, se a comunidade tá passando fome, se a comunidade tá sofrendo com queimadas, derrubada de madeira, balsa de garimpo, contaminação na água do rio, falta de saúde e educação.", explica Dandara. Para que elas assegurem a própria segurança, os workshops abordaram assuntos como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), uso de plataformas digitais mais seguras, e segurança e proteção de informações. 

Dandara conta que Além do Comunema, duas outras organizações, o Movimento Negro de Altamira, e o Coletivo Amazônico Lesbitrans, atuam no apoio às defensoras, juntas elas formam o Núcleo Estratégico de Promoção da Paz  (Nepaz). Ela conta que a função do Nepaz é fazer a escuta ativa das violências e violações de direitos que acontecem contra as populações que vivem em locais isolados. Posteriormente elas fazem a triagem e encaminham a demanda para órgãos competentes. 

 "A gente procura atender aquelas que estão isoladas. No rio, na floresta, em locais que não tem o serviço público, e esse núcleo só funciona se os pontos focais repassarem as informações pro Nepaz. Esses foram os dois vieses em que o projeto apoiado pelo UNFPA foi importante: Restabelecer as comunicações e permitir que a gente se transportasse para esses lugares", diz. 

Amazônia e Racismo Ambiental

Cerca de 40 defensoras retomaram o contato com o coletivo através das atividades desenvolvidas com o apoio do edital Nas Trilhas de Cairo. A coordenadora geral do Comunema relata que apesar dos desafios, a experiência serviu para que elas pudessem exercitar suas próprias capacidades de gerenciamento de projetos, e reafirmar o potencial do coletivo.

"Nós fazemos um trabalho para que possamos mexer com as estruturas. Nessas estruturas conservadoras, racistas, violadoras dos direitos humanos que invisibilizam a questão racial. E, para isso, nós precisamos de investimentos para que possamos nos movimentar além do nosso grupo voluntário. A gente está mostrando que é possível e que a gente faz.", afirma. 

Sobre o futuro, e o combate ao Racismo Ambiental na Amazônia, Dandara conta que o coletivo vislumbra a longo prazo se transformar em um fundo de mulheres negras da Amazônia. A ideia é que elas possam apoiar  projetos também geridos por mulheres negras da região. "Nós já temos a capilaridade, já temos as articulações, nós temos um conhecimento muito sólido do território, de onde e que tipo de recursos se precisam nesses territórios", afirma.