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As mulheres participantes assistiram ao documentário “Maria”, debateram sobre violência de gênero e trocaram experiências

Por Isabela Martel

MANAUS, Amazonas – O grupo de mulheres na pequena sala de cinema olha fixamente para a tela. Na projeção, está uma travesti. Seu nome é Maria e, na cena, ela anda pelas ruas de Manaus com a cabeça baixa. “Essa cena me tocou muito, me fez chorar”, comenta a empreendedora Louise Costa. “Isso me pegou demais, porque por muito tempo eu andei assim também”, completa. 

A sessão de cinema a que Louise se referiu fez parte de um cine debate promovido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) com um grupo de 16 mulheres trans e travestis. A atividade ocorreu com base no curta-metragem amazonense “Maria”, dirigido por Elen Linth e com roteiro assinado pela própria protagonista da produção. O filme é um documentário que conta a história de Maria Moraes, uma travesti  e seus processos de resistência na cidade de Manaus.  

Ao final da exibição do documentário, as participantes se levantaram e foram para outra sala. Sob uma iluminação típica de cenário de teatro, elas se sentaram em roda. Era hora de debater e estabelecer reflexões e paralelos sobre as vivências da protagonista e as suas próprias trajetórias. As trocas ocorreram em um espaço seguro. “Esses encontros são muito necessários, porque fazem com que a gente se conecte com outras mulheres trans e travestis. É dessa forma que a gente consegue entender as nossas dores, se enxergar umas nas outras”, relata Louise.

A pauta da proteção e da prevenção à violência baseada no gênero foi central nas discussões. A equipe do UNFPA trouxe informações sobre os serviços e instituições que podem proteger as mulheres em casos de violência. Foram abordados também os canais de denúncia e mecanismos legais para buscar ajuda, como a Lei Maria da Penha, Delegacias Especializadas em Crimes Contra a Mulher, e os demais serviços de proteção disponíveis em Manaus. A atividade teve como palco o Casarão de Ideias, e foi realizada em parceria com a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (SEMASC) e com a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Amazonas (ASSOTRAM).

Joyce Gomes, responsável pela Gerência e Defesa dos Direitos Referentes à Livre Orientação Sexual (DDH) da SEMASC e integrante da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Amazonas (ASSOTRAM), representou as instituições na atividade. “É importante fortalecer essas pessoas, mostrar que há instituições trabalhando essa pauta, mostrar canais de denúncia, parcerias. A comunicação é fundamental na construção de um processo de rompimento das violações a que as pessoas trans e travestis estão expostas”, afirma.

O Brasil é, há 14 anos, o país onde ocorrem mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo, de acordo com o Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em 2022, foram 131 assassinatos. Refletindo sobre a cena do filme que, no início, a tocou, Louise explica: “Muitas vezes, a gente anda de cabeça baixa para se proteger, não trocar olhares com as pessoas, não perceber que estão nos julgando com o olhar ou até ameaçando”.

O UNFPA atua para que todas as pessoas tenham seus direitos assegurados e plenamente respeitados. Zerar a violência baseada no gênero é um dos objetivos primários do UNFPA, que busca alcançar os três zeros até 2030: zero necessidades não atendidas de contracepção, zero mortes maternas evitáveis e zero violências e outras práticas nocivas contra mulheres e meninas.


O documentário curta-metragem “Maria”, da diretora amazonense Elen Linth, acompanha a trajetória de uma mulher travesti em Manaus. Foto: ©UNFPA Brasil/Michael Dantas

Sobre o Projeto

O projeto “Fortalecimento dos Serviços de Violência Baseada no Gênero que Salvam Vidas”, é implementado pelo UNFPA com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O objetivo é fortalecer as capacidades das redes locais de prevenção e enfrentamento à violência baseada no gênero no Amazonas e em Roraima.